— Isso tudo é culpa sua!
As lágrimas da minha mãe esguichavam de seus olhos encharcados através de mim, mas é o ódio em seus olhos escuros que faz meu interior sangrar.
Eu nem sequer sei do que estou sendo responsabilizada. Está no meio da noite, e ela invadiu aqui, acendendo as luzes e me acordando com seu choro louco.
Deitada no sofá onde eu durmo, puxo as minhas pernas mais perto de meu corpo, curvando e enrolando-as próximas a mim e segurando Schubert sob meu peito. — C-Como? Como é minha culpa?
Ela voltou para casa há um mês, chorando sobre o namorado que terminou com ela. Ela não parou de chorar.
— Se não fosse por sua... Sua... — Ela anda através da sala de visitas e tropeça em seus próprios pés, puxando os cabelos de sua nuca repicada. — Besteira egoísta do caralho!
Ela foi bonita uma vez, suave e curvilínea com contentamento brilhando em seus olhos. Mas as drogas e sofrimento secaram-na para ossos e rancor. Papai estaria tão desolado quanto eu.
Se eu não for aceita em Leopold, se eu nunca encontrar uma saída para Treme, vou acabar assim? Sempre que minha mente pisca para o futuro, vejo-me sempre acorrentada a Gastón e suas necessidades violentas. Como eu não poderia me voltar para as drogas como uma fuga do tormento de seu toque? O futuro me apavora, mas também me endurece. Eu vou fazer isso fora daqui, não importa o custo.
Minha mãe tropeça através da sala, arranhando seu rosto afundado como se estivesse tentando remover objetos imaginários. Ela deve estar se acalmando do que quer que ela se drogou, seu corpo inteiro beliscando com a infelicidade.
Ela me culpa por isso. Sua infelicidade. Eu sou a razão que ela usa, a razão pela qual ela é pobre, a razão pela qual ela não consegue encontrar um emprego ou manter um namorado.
Acho que, de certa forma, eu sou responsável por sua miséria. Meu peito dói por ela, para abraçar e confortá-la. Mas ela não tolera essas coisas de mim.
Múltiplos passos avançam a partir do fundo da casa. Eu enterro meu nariz no cheiro reconfortante do pelo do meu gatinho Schubert e firmo minha respiração.
Gastón e Rodrigo invadem a sala, ambos vestidos de jeans e camisetas. Em seu caminho para sair ou apenas voltando para casa? Eu olho para o meu relógio sobre a mesa lateral. 3:15. Eu esfrego os olhos. Eu tenho que ir para a escola em duas horas.
Gastón dá a minha mãe um amplo espaço quando Rodrigo vai para ela, puxando as mãos do rosto.
— Mãe, pare. Você está se machucando. — Ele ajusta as tiras de sua camisola sobre os ombros ossudos e olha para mim. — Por que você deixa-a fazer isso?
Sério? Sento-me, segurando Schubert no meu colo. — Eu não sou a única alimentando-a com suas drogas.
Gastón reclina na extremidade oposta do sofá, assistindo a minha mãe com diversão. Eu corro a mão trêmula através da pele de Schubert. Gastón não vai tentar nada. Ele provavelmente não vai sequer olhar para mim.
Minha mãe traz um turbilhão de drama quando ela chega em casa, mas não há segurança em sua presença. Ela e Rodrigo não acreditam em minhas acusações sobre Gastón me machucando, mas Gastón está sempre em seu melhor comportamento quando estão na sala. Eu evitei o barulho de sua motocicleta em minhas caminhadas para a escola, e ele não tentou me tocar desde que minha mãe chegou em casa. Mesmo assim, a impaciência vibrando dele é palpável.
Minha mãe olha para Rodrigo, seu olhar suavizando por um momento calmo antes de cortar através do quarto e aterrar em mim. — Você tirou tudo de mim.
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Dark Notes
FanfictionEles me chamam de vagabunda. Talvez eu seja. Às vezes faço coisas que eu desprezo. Às vezes os homens tomam sem pedir. Mas eu tenho um dom musical, em apenas um ano deixo o ensino médio, e tenho um plano. Com um obstáculo. Alfonso Herrera não apen...