Eu sinto um nó na garganta. Há muitos meses tenho essa sensação, especialmente quando estou nervosa e como ultimamente sempre estou nervosa, parece que nunca passa. Deveria ir ao hospital, mas qualquer visita ao lado de fora me traz um imediato desgaste. Encontrar outras pessoas na rua me parece bem desgastante...

Elas lhe perguntarão como você está, se está bem, e você definitivamente não está. Na verdade, está tão o oposto de bem que não terá nem forças para respondê-la e ficará parado, em silêncio, e esperará seu ouvinte (ou nem tanto) ficar preocupado com o seu estado (ou com o nem estar dele próprio) até finalmente te deixar sozinho um ou dois minutos no aguardo de sua resposta, enquanto você permanecerá parado por mais alguns minutos encarando qualquer coisa que estiver em sua frente, uma árvore bem grande, bem verde e bem velha, se você tiver sorte, e depois de ouvir um trovão, você observará o céu e constatando que ele está cinzento demais para a sua segurança, temeroso, voltará para casa. Chove. Você não foi ao hospital. Eu também não iria, aliás, isso é exatamente o que eu faria.

Eu estou evitando perguntas, como você pode notar. "Como vai?" "Você está bem?" "O que anda fazendo?", todas essas questões são respondidas com o mesmo olhar vago para a árvore, mas a minha árvore talvez não esteja tão verde, ainda que pareça igualmente velha, com galhos muito quebradiços. Creio que as árvores de muitas pessoas estão assim. Creio que muitas árvores estão mais cansadas que a minha, embora todas elas tenham saído das mesmas sementes.

Assim como busco me afastar das perguntas dos outros, também busco me afastar de suas palavras, embora eu saiba que há uma sombra em tudo o que eu escrevo que corresponde a um dizer que não me pertence, e que provavelmente, é na verdade o objeto cuja sobra é o que eu digo. E esses dizeres que não me pertencem são endossados ou negados pelas curvas das minhas Letras. Não estou falando disso, veja bem, não se confunda. Eu guardo as palavras dos outros, sobretudo os outros escritos e os escritos dos outros. Do Outro Lima, da Outra Clarice, da Outra Carolina, todos os outros que são para mim (e para muitos outros) importantes e fundamentais. Mas as palavras dos outros outros: "Você se preocupa demais com os outros!" "Você se preocupa demais com tudo!" "Você pensa demais nas coisas que não acontecem!" "Você ainda se preocupa!" Ah! Essas coisas que não fazem bem guardar eu me afasto.

Se é muito pensamento, muita preocupação, eu deveria banir esses p's, pensar em primeira pessoa? É tão difícil! É por isso que sou preocupação. É por isso que não visito um doutor que me dará calmantes que não vão durar o suficiente para esse caos passar.

A garganta continua. E a garganta é o de menos. É tudo psicossomático, porque estamos no princípio de 21.

Mentiras Do Tempo Fugido Onde histórias criam vida. Descubra agora