Mentiras Do Tempo Fugido

Medo(s)

Às vezes parece que o mundo entrou espontaneamente em comum acordo sobre as coisas que nós não podemos dizer. Evitamos certas palavras amaldiçoadas e nos cobrimos dos eufemismos mais delicados, temendo que qualquer vírgula mal colocada seja nossa ruína. Algumas pessoas dizem que falar sobre assuntos ruins atraí coisas piores. Eu já acho que sempre estou falando sobre algo ruim sem que alguém, ou ele próprio, saiba, assim, cobrindo-o com uma camada de metáfora para que ele não se reconheça. Não sei se conseguiria falar as coisas diretamente, sem dar voltas e voltas para não dizer aquilo que agora mesmo estou dizendo. Essas são as coisas que temos medo de dizer, não são as únicas, existem outras.

Existem as coisas que nos provocam medo por outros motivos, não por elas mesmas, pelas pessoas. Acho que em poucos casos temos medo puramente das coisas, temos muito medo de gente e das gentes que nos fazem ter medo de dizer. Mas dizer o que? Qualquer coisa apropriada que se queira dizer. O problema é quem regula o que é apropriado. Antes fossem as leis. As leis são boas, mas as leis não tem a boca para se autoproclamarem. Os medos têm. Têm boca, olhos e garras. E eles mesmos são vários. Vários tipos de medo pelas pessoas. Eu mesma, às vezes, tenho medo de gente. Muito medo de gente. E medo de dizer.

Medo de dizer é horrível, é um engasgo em hipóteses íntimas, é um sepultamento das ideias que já nasceram mortas. Medo de dizer é um grande SE e um provavelmente NÃO ao mesmo tempo. Medo de dizer é temor às consequências, é questionamento para o modo como estamos vivendo o agora. O que estamos fazendo das nossas vidas? Perguntem aos mais sábios! Eu não sei de nada! Onde estão os mais sábios? O que eles falarão sobre os meus medos? Será que os medos deles são os mesmos que os meus? E gente sábia tem medo?

Quando era criança, achava que adulto não tinha medo. Agora eu sei que adulto tem medo. Muito medo.

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Foto de capa: Michael Carson