No último dia do mês, antes de decretarem o fim dos tempos

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Eu sinto falta de me sentir estúpida e preguiçosa numa manhã de domingo, esparramada numa cadeira ao sol no final da primavera. Eu sinto falta de me sentir estúpida numa manhã de segunda, coberta por luvas e casacos, sentando no concreto da arquibancada da escola, comentando com meus amigos o quanto está frio. Sinto falta de me sentir estúpida tomando café na padaria, quando eu sei que faltam cinco minutos para o meu intervalo acabar e eu sei que faltam mais do que cinco minutos para eu acabar de comer, porque eu fiquei o tempo todo falando sem parar.

Agora me sinto estúpida por outras coisas, me sinto estúpida de outro jeito. Sinto falta dos dias que eram insípidos só porque eles queriam ser, não porque tinham um motivo diabólico e misterioso por trás. Saudades das minhas férias insossas, da minha tristeza egocêntrica sem razão, da minha melancolia por melancolia. Ou será que algo em mim compreendeu antes de mim mesma o que estaria por vir e me deu um aviso? Não importa mais agora.

Me sinto tão estúpida, tão ridiculamente estúpida, tão amargurada, tão perplexa. Cansada. Agora minha tristeza tem motivo, agora minha tristeza carrega um rastro de sangue e sujeira. Agora a minha face se contorce em expressões de susto e espanto...  Ainda bem que ainda consigo sentir susto e espanto... Ainda bem que não sinto que tudo está bem, que tudo está normal. Sinto tanto, sinto muito. E eu só quero me sentir estúpida como eu me sentia antes. 

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