Noite II

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Começa a noite mais longa do ano, maior do que todas essas outras noites compridas, maior que as maiores noites juntas. Ouço gritos de perto,  gritos de perto e gritos de longe. E luzes, que insistem em nascer na noite, me fazendo muito desperta, muito desperta, talvez pouco sã.

Há algo de errado em estar acordada, há algo de estranho nessa luz e é um pecado não aproveitar a noite e é um castigo não ter paz. Por quê? Por quê? Por que só os meus pensamentos me acompanham?

Eu imagino um quarto escuro, tão escuro que eu não consiga ver para imaginar. Que eu apenas consiga sentir os lençóis da cama e o meu corpo esvaziando aos poucos... O meu corpo relaxando aos poucos. Ultimamente o meu corpo nunca relaxa.Que eu apenas consiga sentir os lençóis da cama. Que o dia seja dia, que a noite seja noite, que o certo seja feito e que o bem vença o mal e todas essas coisas que todos nós queremos.

Eu imagino o mundo lá fora. Imagino as pessoas com suas consciências e seus medos à tiracolo. Será que estão confortáveis? Será que são difíceis de carregar? Eu penso demais, principalmente nas coisas que não posso saber, nas expressões indecifráveis das pessoas, em suas faces encobertas, o que isso significa? O que tudo isso significa? Algo? Pouco? Talvez nada, talvez quase alguma coisa. Eu penso. E me distraio, dos sons das luzes. Esqueço também das dores. Meu corpo todo dói, não sei se temendo algo terrível ou sentindo os resultados desse algo terrível. Não sei.  

Vou rememorando as memórias de hoje. Pouco aconteceu. Hoje foi como ontem, ontem foi como anteontem e todos esses dias são iguais amanhã. Talvez hoje haja mais sons, mais distrações, mais lamentos... Hoje é definitivamente mais longa das datas.

Começa a noite mais longa do ano, cheia de agitações externas e internas, tão barulhenta e agitada que mal parece noite, tão clara e nítida, que não posso dizer que é escura. Espero que seja a noite mais longa do ano, espero que as próximas sejam mais brandas, mais breves; como tudo agora não é.

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