Hoje

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Hoje, o que me traz calma não é o café, não são os encontros, não são as palavras... Não é o café de hoje, não são os encontros de hoje, nem as palavras de hoje. É o café que tomarei daqui um ano, é quem encontrarei daqui um ano e o que falarei daqui um ano.

Hoje a minha esperança não está no hoje, nem no amanhã, nem no depois, talvez esteja no futuro. Mas também não é naquele futuro que enchemos a boca para falar, com letras idealizadas e pronúncia melodiosa. É naquele futuro mais incerto do que o habitual. Não se sabe se está perto, não se sabe se está longe, só se sabe que sua existência é inevitável até o fim dos tempos.

Notei que minha percepção do futuro mudou. Ele sempre me pareceu glorioso, ele sempre me pareceu aquela rua da esquina, não muito distante, não muito nebuloso... Cheio de esperança. Agora ele é só um tempo normal, banalizado até. Ele não é glorioso, ele é superestimado. Talvez seja mais ameno, talvez seja mais justo. Mas quanto tempo vai demorar até que o tempo se decida que é o tempo certo para ser mais justo e ameno? Será que cabe ao tempo ser justo e ameno? O que cabe então às pessoas?

Notei que a minha percepção do tempo também mudou. Os dias são agora blocos amontoados, indissociáveis, de horas infinitas. Quase nada acontece de um dia para o outro, nada de bom... Só muitas e muitas perdas. Há três meses é hoje. Há três meses não se tem amanhã. Há três meses eu já não me lembro mais do ontem, porque ele é tão distante, mais de duas mil horas atrás... Há três minutos não quero mais saber nem do que foi, nem do que será. Tudo é o que é. Tudo depende desse grande agora. E se escrevo o hoje é porque ainda existo.

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Foto de capa: Audrey Hepburn em cena do filme Funny face

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