. Septuagésimo sétimo ▼ .

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▼ .  «Keep careful watch of my brothers' souls »

Não entendia o quão frágil seria uma flor . Sabia, porém, que necessitavam de água, luz e nutrientes que do solo conseguiam sem objeção alguma . Elas eram tão fascinantes, com as suas cores pomposas e feitios diversos . Representavam a minha morena, certamente de uma forma menos significante, uma vez que nenhuma delas alcançaria o seu nível elevado . 

" doeu ? " questionei-lhe num tom de graça enquanto o meu braço acolhia o seu corpo . 

" eu nunca gostei de agulhas " bufou, segurando o pequeno algodão contra o dobradiça do seu braço par .  

Eu esfreguei o comprimento do seu braço vagarosamente, depois de colocar o meu casaco sobre os seus ombros . " Os testes são básicos, esta tarde ainda teremos os resultados. Contudo, consideraria agendar a primeira sessão de quimioterapia para breve? Se possível esta semana " num tom simpático disse-nos a enfermeira . 

Bárbara encolheu-se cuidadosamente contra o meu corpo . A própria palavra amedrontava qualquer um . Quimioterapia, eu tinha-me informado sobre todo o processo: é um processo terapêutico que tem como objetivo eliminar as células cancerosas, contudo também atinge as normais, provocando assim grandes efeitos indesejáveis ao organismo.  

Assustava como o caralho, mas eu não iria transmitir o meu medo . 
Queria-a confiante como nunca . 

" e-eu.. não tenho a certeza sobre isso " o seu corpo afundava-se no meu um pouco mais a cada palavra sua .

Eu tomei uma pesada respiração . " Bárbara, já visitou o nosso psicólogo ? " 

" eu não preciso de um psicólogo, eu não sou louca " exasperou . 

" esse não é c-" 

" podemos, por favor ter um momento ? " questionei à fardada mulher que logo assentiu com um pequeno olhar de pena junto . Quis gritar-lhe que não precisaríamos da sua pena ou porra de sentimento algum .

Merda, nós não precisávamos . 

" Harry eu não quero fazer quimioterapia " ela rapidamente rodou sobre os seus calcanhares para mo dizer . " o meu cabelo vai cair, eu vou começar a morrer aos poucos e a culpa não será do cancro mas sim da porra do processo de cura! " apenas uma das suas mãos se movimentou com pressa e atrapalhação enquanto o seu par continuava a segurar a pequena bola de algodão . 

Senti-me ofegar pela sua explosão mínima . Talvez estivesse certa mas não existiria forma alguma de me fazer concordar com a sua decisão . Precisávamos de tentar, não de cruzar os braços . 

" eu percebo, bebé " com a minha mão sobre a sua bochecha, assegurei . " entendo o teu medo de tudo, mas eu não posso deixar que desistas disto " Os seus grandes olhos piscaram para mim, eu vi a sombra de pequenas lágrimas . " o cabelo cresce, merda ele sempre vai crescer e tu não vais morrer porra ! Porque eu vou continuar aqui e eu não vou permitir " 

" é isso que nós fazemos não é? Nós mantemo-nos bem, mutuamente?.. " questionou-me inocente .

" é sempre isso, irá ser sempre algo assim! " garanti mobilizando o seu corpo para um pouco mais perto . 

Ela bateu a sua cabeça contra o meu peito . " promete que não vais embora.. " eu conseguia sentir o seu choro tanto como a sua dor independentemente do seu timbre abafado . 

" prometo, nós até podemos fazer uma jura de sangue, Deus! Eu não vou embora! " ainda assim, eu não consegui ouvir a sua risada ou encontrar um sorriso . 

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