A Redenção

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Sair daquele beco fora uma tarefa difícil.


Talvez porque realmente estivesse sem saída e tudo terminaria ali. Sem qualquer resquício de esperança. A única coisa que te motivou a se levantar e ir de volta para casa foi pensar em sua tia e seu irmão, que estariam lhe esperando para comer. 

Andou os quinze minutos de trajeto sob a chuva. Já estava escuro. Devia ter ficado debulhando em lágrimas no chão frio por quase quatro horas. Apesar de seus sentidos ainda existirem, pareciam estar cobertos por uma fina camada de papel fosco, tornando tudo que era visível cinza e tudo que pudesse ser ouvido em um eco distante. Não sentia nada. Estava vazia, como se todo o conteúdo do corpo tivesse sido despejado em alguma fossa por aí. Não havia mais nada.

Chegara em casa, apenas para dizer rapidamente à sua tia que poderia comer com o Thomas sem esperá-la, que não estava com fome. A cozinha e o quarto ficavam no mesmo cômodo, e você nunca quis tanto um lugar onde pudesse deitar e chorar por horas sozinha. Não o tinha. Sem sucesso, sua tia tentou lhe perguntar o porquê estava toda encharcada, o que havia acontecido para estar com tal expressão, porquê não iria comer... Você ignora todos os questionamentos, se vira e sai novamente para a rua.

Foi como se estivesse diante de uma miragem ao olhar para o outro lado da rua, onde havia o que restara de uma casa abandonada, e percebesse que havia uma figura bastante familiar sentada sobre as escadas da sacada velha.

Se protegendo da chuva abaixo do teto parcialmente furado estava o Capitão Levi.

Os sentidos de seu corpo pareceram voltar. O som da chuva forte voltou a preencher seus ouvidos, sentiu o gosto amargo na boca, os olhos focaram com precisão na direção da imagem logo adiante. Suas pernas quase cederam ao impulso de correr para longe, mas entre as gotas violentas batendo no chão, ouviu o capitão gritar:

– Espere!

Ele se coloca de pé. A postura não está rígida como sempre. Ele aparentava estar bambo, instável sob o chão. Ficou ali parado, esperando que você se aproximasse.

Pensou uma, duas, três vezes se realmente devia ir a seu encontro. Mas olhou em volta e não podia ver qualquer outra opção. Segurou as mãos sobre o peito, apertadas em punho, na tentativa de criar forças. Andou devagar até o pé da escada, o enxergando com mais clareza. Ele também estava encharcado, parado em pé ao lado de uma goteira entre várias outras.

– Não queria que eu fosse embora? Foi o que fiz. Cumpri sua ordem. – Sua voz saiu com mais firmeza do que achou que seria capaz.

Notou o rosto de Levi vacilar. O que dissera teve alguma espécie de efeito sobre ele.

– Foi um erro.

Você pisca, incrédula.

– Como soube onde eu morava? – Perguntou, desviando completamente do assunto.

Levi respirou fundo antes de responder.

– Arlert.

Você rangeu os dentes, prestes a avançar no pescoço de Levi com a possibilidade de ter machucado seu melhor amigo por uma informação.

– O que fez com o Armin?

– Eu não fiz nada! – O capitão se apressou em responder ao perceber que estava ficando assustada. – Eu só... o expliquei sobre a situação. Ele insistiu muito para vir comigo te ver, mas eu pedi que me deixasse falar com você a sós. – Levi umedeceu os lábios antes de repetir: – O que disse a você foi um erro.

The Game (Levi Ackerman X Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora