O Primeiro Passo

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– Não acha que essa tempestade vai atrapalhar o teste, acha?

Você lança um olhar curioso para o capitão, que subia junto a você o elevador da muralha Maria, no distrito de Shinganshina. Conseguiu ver num vislumbre a relutância nos olhos de Levi antes que respondesse.

– Não se você for boa o bastante.

O nervosismo parecia lhe pressionar em direção ao chão, antes fora somente por conta do teste. A manhã que antecedera havia sido, no mínimo... esquisita. 

Acordou com a voz do capitão lhe chamando. Num pulo, puxou os lençóis para cobrir o corpo nu exposto, e quando seus olhos embaçados se acostumaram com a luz forte do dia, pode vê-lo de costas sentado na cama, já terminando de calçar as botas. Ele dizia sem olhar para você:

– Se não se levantar logo, vai se atrasar para o teste.

– Sabe que horas são? – Você toca com os pés no chão, levando as cobertas consigo.

– Hora de tomar seu café e se vestir logo. Sairemos em vinte minutos.

Se apressou o máximo que pôde, mas o que acontecera na noite anterior te fazia cambalear e se atrapalhar em qualquer mínimo movimento. Ainda estava descrente de que havia dormido ao lado de Levi, e feito muito mais que isso também. Tentava se distrair de tudo e manter o foco em se preparar para o teste, mas o rosto suado de Levi inclinado em cima de você com a expressão de prazer surgia como um flash insistente em sua mente. Você sentia seu rosto arder e precisava chacoalhar a cabeça para se livrar da sensação de constrangimento de minuto a minuto. 

Para piorar, o capitão estava extremamente quieto. Não disse nada desde que levantou da cama. Depois que terminou de se trocar, ele se sentou em uma das cadeiras na cozinha, segurando uma xícara de chá – daquele jeito peculiar –, e te observava enquanto tentava apertar o harness sobre o corpo desajeitadamente. A falta de palavras que preenchia o ambiente pareceu se tornar física, como uma grande bola de agulhas, que penetrava em seu corpo, transformando cada segundo em agonia. Não sabia o que ele estava pensando, mas também não tinha certeza se gostaria de descobrir. 

Após te presenciar errar o fecho da fivela em sua cintura pela quarta vez, o capitão pousou a xícara sobre a mesa e se aproximou.

– Vamos, deixa que eu faço.

Levi pousou um dos joelhos no chão, se abaixando em sua frente. Ele segurou a fivela do cinto com as mãos, passando o couro pelo fecho e resolvendo seu problema em poucos segundos. Apesar disso, ele permaneceu na mesma posição por um tempo até olhar para seu rosto.

Você o observou de cima. Só então conseguiu ver: os olhos de Levi seguravam um brilho diferente. Continuavam fundos e contornados pelas olheiras, mas estranhamente algo parecia haver mudado. 

Ele sustentou seu olhar por um breve momento. Vê-lo perto assim de seu corpo jogou os flashes da noite anterior como uma pancada para dentro de sua mente. As mãos de Levi deslizando por cada perímetro de seu corpo, os lábios passeando pelos seus seios até o pescoço, a respiração quente soprando no pé de sua orelha enquanto ele pressionava o corpo sobre o seu...

Você tentou com todas as forças não demonstrar que estava revivendo qualquer coisa, mas pelo sorriso de canto que se abriu na boca do capitão, era bem provável que tivesse falhado nessa tarefa. Ele se levantou em sua frente e apenas disse, ainda com o sorriso esticando seus lábios:

– Se concentre no que precisa ser feito, recruta.

Quase chegando ao topo da muralha, você balança a cabeça num movimento rápido, tentando se desvencilhar dessa memória recente. Achava ridículo que, momentos antes de atravessar as muralhas para enfrentar a principal fonte dos seus traumas, estava se preocupando com algo tão trivial quanto o silêncio desconfortável após ter ido para a cama com o Capitão Levi.

The Game (Levi Ackerman X Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora