O gosto amargo em sua boca é a primeira coisa que sente quando acorda.
Abrir os olhos se tornara uma tarefa extremamente difícil, já que suas pálpebras pareciam pesar dez quilos cada uma. Apertou os dedos das mãos, o mínimo de movimento foi o suficiente para que a parte esquerda de seu corpo liberasse correntes latejantes de dor. Entortou a boca com o incômodo, sendo obrigada a relaxar cada músculo para não senti-la novamente. As solas dos pés pareciam arder e a pele das costas estava quente como se estivesse deitada sobre brasa.
Após alguns minutos tentando, finalmente foi capaz de abrir os olhos com dificuldade. Estava muito escuro, apenas pôde enxergar uma luz azulada gentil entrando do outro lado da sala. Acostumou-se com a pouca iluminação e só então percebeu onde estava: a enfermaria do QG. Havia ido para este setor poucas vezes, apenas para checar alguns documentos, mas agora estava sobre uma das macas, protegida por cortinas, impedindo-te de analisar o ambiente todo.
As poucas coisas que conseguia notar era seu próprio corpo coberto por um lençol branco, uma mesa pequena de madeira com água e uma vela apagada, outra mesa maior com uma bacia e trapos empilhados e o corpo sentado na poltrona ao lado de sua cama.
Tossiu quando tentou dizer alguma coisa, a barriga doeu conforme o ar saía, e só então ele ergueu a cabeça e pareceu acordar de um transe.
– Ei, ei, ei... – Levi se inclinou em sua direção, a expressão levemente assustada. Ele pousou as mãos na maca e olhou para seu rosto. – Não se esforce.
Você engole seco, a garganta parecia ter agulhas dificultando a respiração. Levi pareceu perceber o problema, então se apressa em encher um copo d'água e voltar-se para você. Ele pousa uma das mãos delicadamente na parte de trás de sua cabeça e a ergue lentamente para cima.
– Dói?
Você faz que não com a cabeça, mas quando o capitão estava prestes a te colocar sentada, uma pontada atravessa seu abdômen e você arqueja de dor. Ele para imediatamente e volta um pouco seu torso para trás.
– Me desculpe.
A voz de Levi sai baixa. Ele aproxima o copo de sua boca, então você encosta os lábios na superfície do vidro e dá goles curtos, um após o outro. A água desceu e com ela todas as agulhas também, o alívio imediato te fez fechar os olhos de prazer. Quando terminou, Levi te deitou com cuidado sobre o travesseiro mais uma vez e depositou o copo sobre a mesa menor. Acendeu a vela, trazendo uma luz agradável e tremulante no ambiente, e então ficou te encarando por alguns segundos.
Você respirou fundo pela primeira vez. Os pulmões pareceram espremer e quebrar ossos dentro de seu corpo, mas resistiu a dor para sentir o ar passando. Então disse:
– Você não devia ter feito aquilo.
Levi abaixou a cabeça e fitou as próprias mãos sobre o colo. Só então parou para olhar o capitão com atenção. Ele provavelmente estava com as mesmas roupas que usava de manhã: estavam amassadas e era possível ver vestígios de barro nas botas. Respingos de sangue estavam espalhados pela camisa branca e os cabelos negros caindo sobre os olhos se emaranhavam em fios desorganizados, resultado da chuva torrencial que pegaram mais cedo.
– Esperava que eu ficasse te observando morrer?
– Eu não ia morrer. – Você responde secamente, voltando a cabeça para frente e olhando para o teto. – Iria conseguir sair da situação de algum jeito. E de qualquer forma, para você ter conseguido me alcançar, não devia ter corrido da muralha apenas quando estava prestes a ser comida, certo? Já estava me seguindo antes.
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The Game (Levi Ackerman X Leitora)
FanfictionDentro das muralhas, numa tentativa de recuperar a honra de um passado tenebroso, você envia uma carta para a Divisão de Reconhecimento oferecendo seus serviços como secretária de assuntos internos. Seu objetivo de auxiliar a Tropa de Exploração se...