quatro;

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Você abriu os olhos, se arrependendo no mesmo instante. Se sentia horrível, com uma dor de cabeça agoniante e o estômago embrulhado. Você tentou abrir os olhos mais uma vez, por mais que a luz do sol que invadia o quarto te atrapalhasse. Você podia jurar que tinha fechado as cortinas. Demorou um pouco pra conseguir ficar com eles totalmente aberto, quando ficou, passou os olhos pelo quarto, dando um pulo da cama, você não estava no seu quarto.

A porta do banheiro estava fechada e alguém parecia tomar banho, já que você ouvia o barulho do chuveiro. Você olhou ao redor, procurando seu celular, o achando jogado no chão. Se levantou, vendo que ainda usava as mesmas roupas que ontem, pegou o celular do chão e viu que eram seis da manhã. Uma boa explicação por você se sentir tão cansada, além claro, da ressaca imensa. Tinha algumas ligações e mensagens de Oikawa e Izumi, mas responderia depois. Você não se lembrava de nada do que tinha acontecido, na verdade estava até surpresa, não era de beber assim. 

— Acordou cedo. - você deu um pulo ao ouvir a voz do Miya, vendo ele apenas com uma toalha em volta da cintura. 

Ele tinha algumas tatuagens pela barriga e várias espalhadas pelos dois braços, mas não chegava ser muita coisa, também tinha uma pequena na lateral do pescoço.

— Que merda eu tô fazendo aqui?

— Você ficou bêbada ontem e dormiu no meu colo. Não achei seus amigos, te trouxe pra cá, não fizemos nada, mal deitei na cama. - você sentiu um alívio enorme no peito, se sentiria a pior pessoa do mundo se tivesse feito algo.

— O que aconteceu exatamente?

— Eu te dei um copo de vodka, no começo você ficou de frescura, no final, você bebeu a garrafa toda. Mas não fez nada demais, pode ficar tranquila. Na verdade, você mandou eu me foder algumas vezes. - Atsumu deu risada, pegando um maço de cigarro e acendendo um. - E você chorou por causa do seu ex também.

— D-desculpa... céus, eu preciso ir embora, eu não deveria ter vindo, pra começo de conversa. - você disse, calçando seus sapatos desastrosamente. -  O que eu disse pra você?

— Muita coisa. Inclusive... - ele usou o indicador pra apontar o próprio pescoço, você usou o reflexo do celular pra ver, não tinha tanta maquiagem mais. - Mas eu não vou dizer nada.

— Por que? - você o olhou confusa, engolindo seco.

— Pelo o que você me disse, provavelmente vai ser pior pra você se ele souber que alguém sabe. - Atsumu suspirou, se escorando na parede. - Mas se você voltar com ele vou ter que fazer.

— Como?! Você vai dizer com quem eu posso ou não ficar?

— Não, nem de longe. Se você quiser ficar com Terushima, mesmo que ele só te use pra se satisfazer o problema é todo seu. Mas quando você se coloca em risco, sendo vocês dois estudantes da faculdade, não posso fazer vista grossa, [Nome], desculpe.

Você mordeu a parte interna da bochecha, sentindo-se pior do que antes. Você sabia que ele não estava errado, por mais que não quisesse admitir. Ikuya também tinha te bloqueado em absolutamente em tudo, então talvez vocês realmente estivessem acabados. 

— Tudo bem. Só não faça nada, ele sequer me olha mais. - você deu de ombros.

— Você deveria agradecer por isso. - Atsumu apagou o cigarro, o deixando no cinzeiro. - Eu te levo pra casa.

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Havia se passado praticamente um mês desde que você foi a festa, depois que Atsumu te deixou em casa, você avisou aos seus amigos que tinha chego e contado o que tinha acontecido, levou uma pequena bronca por desaparecer do nada, mas Izumi ficou feliz por você ''ficar com outra pessoa'' por mais que você tivesse dito à ela que não tinha acontecido nada algumas milhares de vezes.

Você não tinha falado com Terushima ou com Ikuya, nem uma vez que fosse, por mais que você sentisse saudade do moreno ainda, se ele passava por você na faculdade, era como se nunca tivessem se conhecido, você pensava que não significava nada pra ele e nunca tinha significado. Não era preciso dizer que você se sentia horrível, ou em outras palavras... uma merda. As palavras do moreno ainda pareciam ecoar na sua cabeça, você sentia que ninguém seria capaz de te amar e se sentia tão insignificante quanto uma folha caída no chão.

Você sabia que isso estava errado. Sua relação com Ikuya era totalmente abusiva e você sempre teve plena consciência de que não lhe fazia bem, mas mesmo assim, nunca conseguia ir embora, porque você o amava tanto que deixa-lo ir, era como tirar uma parte de você. Mas agora não tinha escolha, você não o queria expulso da faculdade, então uma parte de você ficava aliviada por estar sendo ignorada. E também por saber que era o melhor, talvez você não aguentasse mais tanto tempo assim se estivesse junto com ele.

Você não queria admitir, mas os trinta dias sem nenhum contato com ele foram menos piores do que você imaginava. Por mais que um lado de você estivesse pior que nunca, devido as palavras duras do moreno, outro lado de você estava completamente aliviado por não ter que viver pisando em ovos, se preocupando a cada segundo do dia com o garoto.

Sua cabeça latejava, você respirou aliviada quando clicou no botão ''enviar e-mail'' para o professor, esse trabalho tinha tirado tantas horas de sono sua e exigido tanto do seu tempo livre, envia-lo depois de horas e horas o fazendo era um peso enorme tirado da suas costas. Você fechou seu notebook, suspirando e passando os olhos pela biblioteca vazia, como sempre. Apenas a velha bibliotecária ranzinza de sempre, mas ela até que gostava de você, já que nunca fazia barulho e mais duas pessoas, as quais você nunca tinha visto na vida.

Arrumou suas coisas, juntando os cadernos e canetas espalhadas pela longa mesa de madeira, arrumando sua bolsa nos ombros e se levantando. Foi até a sessão de livros que já conhecia do pé a cabeça, indo no mesmo de sempre, O Pequeno Príncipe. Abriu o livro, folheando as páginas, você já praticamente o sabia décor, se havia o lido quinze vezes, ainda era pouco.

— ''Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.'' - você deu um pulo ao ouvir uma voz conhecida no seu ouvido, se virando rapidamente e vendo o gêmeo loiro parado ali, com um livro em mãos. - Pelo menos bom gosto pra livro é algo que você tem, mas me diga, você só vai ler esse livro agora?

— Não, eu já li várias vezes, mas é o meu favorito. - você disse, dando alguns passos pra trás. - Fico impressionada que conhece as frases de cabeça.

— Por que? Vai me dizer que é por causa da minha aparência? - Atsumu arqueou as sobrancelhas. - ''É bem mais fácil julgar a si mesmo que julgar os outros.'', sabe o que significa, não?

— Te julgar não sabendo completamente da sua situação é mais difícil do que julgar a mim mesma, já que estou completamente ciente do que passo. Sim, eu sei, não foi o que eu quis dizer.

— Exato! E mesmo sabendo disso, não consigo não te julgar por não ter saído daquela situação antes.

— Por que você sempre tem que ser tão inconveniente quando conversamos? - você bufou. - Preciso ir pra casa, se me der licença. - você deu alguns passos pra frente, tentando se esquivar dele, mas Atsumu esticou o braço, colocando a palma da mão em uma prateleira, te impedindo de sair. - Eu pedi... licença.

— Deveria ler... - Atsumu passou os olhos pela prateleira, sorrindo quando achou o livro que queria. Esticou o braço pra cima e o pegou. -... esse. Mudar um pouco os costumes, que tal?

Você pegou o livro de suas mãos, passando os olhos pela capa, ''O sol é para todos''. Você nunca tinha lido, mas já tinha ouvido falar, não era muito comum lerem esse livro no seu curso, era mais voltado a área de Direito, mas uma boa leitura era sempre bem vinda.

— Não tem muito a ver com O Pequeno Príncipe.

— Talvez... mas continua sendo bom. Me fale o que achou depois. - Atsumu lançou uma piscadela pra você, dando as costas e indo embora.

Você suspirou, indo até a bibliotecária e dando a ela seu cartão da biblioteca, podendo então, guardar o livro na bolsa e sair da biblioteca, tomando seu rumo até sua casa. Você se perguntava como iria falar com o loiro sobre o livro se mal tinha seu número. Pensou que talvez Oikawa tivesse. Não custaria nada pedir.





𝐂𝐇𝐀𝐎𝐓𝐈𝐂, miya atsumuOnde histórias criam vida. Descubra agora