dezenove;

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Aviso de gatilho: violência.

— No que vocês estavam pensando?! – o mais velho gritou, dando um tapa forte na mesa, fazendo os gêmeos abaixarem a cabeça. – Eu não posso sair que vocês dão a porra de uma festa e você ainda bate no filho de um policial? Sabe o quão caro está sendo o advogado pra você não ir direto pra cadeia?!

— Me desculpa. – Atsumu disse baixo, recebendo um tapa estalado no rosto.

— Cale a boca! Sua voz me dá dor de cabeça. – bufou, massageando as têmporas. – E você, Osamu? Eu achei que era responsável, estou realmente decepcionado por não cumprir minhas ordens. Isso aqui não é um bordel, é a casa da nossa família e vocês não cansam de fazer merda!

— Não vai acontecer de novo, pai.

— É claro que não vai! Vocês não são loucos de fazerem isso de novo. – respirou fundo, colocando as mãos no quadril. – De agora em diante, vocês vão entrar na linha. Seus compromissos serão com a faculdade e apenas a faculdade, não quero menos de oitenta por cento nas notas, não quero faltas e irão colocar mais esforço no conselho.

— Sim, senhor. – responderam em uníssono, ainda parados até o mais velho sair da sala.

— Você me fodeu, seu filho da puta! – Osamu disse, empurrando o irmão pelos ombros. – Você só faz merda, Atsumu!

— Eu sei, me desculpa, Samu.

— Não, eu cansei, de verdade. A vida toda tendo que me foder junto com você só porque não sabe se controlar! Eu tinha planos pra amanhã com Rintarou, sabe? É nosso aniversário e agora eu não posso nem sair de casa, então da próxima vez que fizer merda, trate de não me levar junto.

Atsumu suspirou vendo o irmão subir as escadas rapidamente. Batia os pés sem parar no chão, sentia a ansiedade, raiva e frustração cada vez mais presente em seu peito, seu braço tinha alguns espasmos vez ou outra e lágrimas rolavam pela sua bochecha. Não de tristeza, de raiva.

Pegou uma garrafa de qualquer coisa no armário de bebidas da sala, subindo e se trancando no quarto. Com a garrafa em uma mão e o celular em outra, sentou-se na cama, vendo as inúmeras mensagens que você havia mandado, perguntando se estava tudo bem, Atsumu não estava no melhor humor, então colocou o celular dentro de uma gaveta, a fechando com força e dando um gole na bebida.

Em menos de uma hora, a garrafa de bebida, que descobriu ser de uísque, estava vazia. Encarando o vidro vazio, grunhiu, o jogando contra a parede e o vendo estraçalhar-se no chão. Sentia-se zonzo demais pra qualquer coisa, então apenas caiu na cama, de qualquer jeito, fechando os olhos.

Quando os abriu de novo, já era dia. Se sentia uma merda, mal parecia que tinha dormido e além disso, sua cabeça doía e seu estômago implorava por socorro. A primeira coisa que fez foi correr até o banheiro, colocando todo o uísque pra fora. Se olhou no espelho, estava horrível. Tomou um banho rápido e fez tudo mais o que precisava, se arrumou, colocando calças jeans e uma blusa preta, arregaçando as mangas.

Desceu as escadas, não tinha ninguém pela sala e nem cozinha, então foi direto para o carro, agradecendo por não ter que falar com ninguém no caminho. Ao chegar na faculdade, foi direto pra sala de aula, sem falar com ninguém, mas ainda recebendo olhares por seus machucados no rosto.

Não prestou atenção nas aulas, muito menos no tempo se passando, seus pensamentos voavam e algumas horas apenas não estavam mais lá, quando a dor de cabeça era muita, se esforçava pra deixar o cérebro vazio, mesmo alguns pensamentos intrusos aparecessem ora ou outra.

No horário de almoço, ele sabia que não tinha como escapar de falar com você, mesmo estando em um péssimo estado. Se achava um merda por não querer falar com você, mas não tinha como controlar o que sentia, ele apenas tinha medo de falar alguma merda.

De longe, avistou Osamu conversando com Suna em uma das mesas do refeitório, normalmente se sentaria junto, mas o irmão não queria vê-lo e com razão. Pegou um café preto, indo pro único lugar que ele sabia que teria paz agora, ou seja, a biblioteca.

Folheando um livro qualquer, que não tinha interesse algum, bebericava o café, sentindo-se aliviado pelo silêncio. Tirou o celular do bolso quando tocou, murmurando algum xingamento pelo barulho alto que ecoou por toda a biblioteca, o que fez ele receber alguns olhares feios das poucas pessoas ali. Suspirou ao ver seu nome na tela, apertando o vermelho e silenciando o celular.

— Não é legal ignorar as pessoas, sabe? – ao ouvir sua voz, ele apenas levantou os olhos do livro, vendo você se sentar na cadeira a sua frente. – O que foi?

— Nada. – sorriu pequeno ao dizer. – Apenas tendo um dia ruim.

— Pode me dizer, me evitar não é tão legal.

— Não estou te evitando! – defendeu-se.

— Eu literalmente acabei de te ver ignorando uma ligação minha, chama isso de quê? – você não falava brava, sua voz saia serena e você tinha um sorriso leve nos lábios. – O que aconteceu?

— Só... Briguei com todo mundo lá em casa. Mas é coisa de momento, daqui alguns dias passa e todo mundo esquece. – balançou a cabeça, sorrindo na sua direção e alcançando sua mão, acariciando a palma da mesma.

— Quer ficar alguns dias lá em casa? – ele te encarou com os olhos brilhantes, mas com o sorriso murcho.

— Não posso, se eu sair de casa meu pai manda uma viatura me buscar. – disse, te fazendo rir.

— Então está de castigo?

— Não é um castigo! – respondeu, ofendido pela comparação à uma criança. – É só... Fiz merda demais e não quero piorar.

— Tudo bem. Acho que nos veremos apenas na faculdade então?

Atsumu te encarou em silêncio, você não conseguia dizer o que se passava na cabeça dele, mas tinha certeza que não eram coisas boas.

— Acho melhor não. – você lançou um olhar confuso, engolindo seco. – Acho que não devíamos mais nos ver.

— Por quê?

— Você passou por muita merda e não quero que passe de novo por minha conta, eu realmente te evitei hoje e você não merece isso. Você merece o mundo todo e eu não posso te dar.

— Atsumu... É sério que quer isso?

— Não, não quero. Eu te amo pra caralho, você sabe disso. – suspirou, passando as mãos no rosto. – Mas eu não estou prestando ultimamente, [Nome] e eu não quero você perto de mim enquanto eu esteja... assim.

— Está dizendo pra darmos um tempo?

— É, estou. – confirmou, respirando fundo.

— Não. – respondeu simples. – Não quer mais ficar comigo, tudo bem, mas eu não vou ficar te esperando, por mais que também ame você e muito, eu cansei de esperar por coisas que talvez não aconteçam. 

— Não a culpo. – te encarou enquanto você se levantava. – Me desculpa.

— Tudo bem. – disse com a voz levemente embargada, não olhando na direção dele. – Espero que você fique bem.

Ele não disse mais nada, apenas sorriu choroso na sua direção, te encarando sair da biblioteca rapidamente. Ele sabia que tinha feito merda, das grandes.

𝐂𝐇𝐀𝐎𝐓𝐈𝐂, miya atsumuOnde histórias criam vida. Descubra agora