✓| DELICATE ──── amor doce.

03. esclarecimentos

SE TINHA UMA COISA que Belle Monroe odiava, eram atrasos. Apesar de cometer deste ato aos montes quando mais nova, ela simplesmente detestava deixar uma pessoa na mão e detestava quando faziam isso com ela. Por isso, ela se encontrava de braços cruzados e um bico enorme e fofo no rosto enquanto aguardava que Josh, seu empresário, chegasse do aeroporto como prometido. Mas mesmo com o vôo ocorrendo perfeitamente, o infeliz deu um jeito de se atrasar por uma hora e meia.

Para falar a verdade, ela já tinha parado de contar depois disso.

E como se a situação já não fosse frustrante o suficiente, aquele dia nada ensolarado tinha a temperatura abaixo de zero. Pouquíssimas pessoas se arriscavam a sair nas ruas, e Belle tremia debaixo do terninho azul que usava, o qual parecia mais facilitar a entrada do frio do que bloqueá-lo.

Felizmente, a nova cafeteria favorita da mulher estava aberta, apesar dos poucos clientes que ali estavam. Era o quarto café que ela tomava apenas no intuito de se aquecer, mas a boa sensação nunca durava muito.

─ Josh, eu vou matar você! ─ Ela sussurra entre dentes, segurando o copo de plástico branco com firmeza nas mãos pequenas.

Belle pega o celular com dificuldade, procurando manter a mão pálida perto do bolso aquecido ou de sua bebida, e verifica as horas. Ele definitivamente não aparecia, apesar das recentes mensagens dizerem o contrário. Mesmo diante da mensagem da morena quanto ao frio intenso, ele insistia para que ela aguardasse por mais um tempo.

─ Ah, qual é! Você pode ir na minha casa, sabia? Não é como se eu fosse me jogar em seus braços na primeira oportunidade. ─ Ela revira os olhos, logo deletando o áudio que tanto desejava enviar.

Caso o celular fosse hackeado, não seria bom ter esse tipo de conteúdo com seu empresário exposto na internet.

─ Isabelle? ─ Uma voz familiar chama, e a mulher levanta a cabeça apenas para confirmar que o dono da mesma era Nathaniel.

Ótimo!, ela pensou, irritada, Agora meu ex vai me ver neste estado deplorável. Tenho que me lembrar de demitir o Josh.

─ Oi Nathaniel. ─ Ela curva os lábios rosados enquanto guarda o celular no bolso do terno. ─ O que faz aqui?

─ Eu poderia perguntar a mesma coisa. Está congelando! ─ Ele exclama com as sobrancelhas erguidas, e Belle acha fofa a aparente preocupação com ela.

─ Levei um bolo do meu empresário. ─ Diz, encarando a bebida que começava a esfriar.

─ Meu parceiro não consegue trabalhar sem café. O folgado me pediu para vir buscar. ─ O Jones responde, mostrando as duas bebidas grandes que carregava nas mãos.

─ Então acho melhor você ir; alguém que bebe tanto café assim me parece agressivo.

─ Não, tudo bem. ─ Ele dá de ombros, logo se sentando na cadeira de frente para a mulher sem a permissão da mesma. ─ Eu queria poder ter falado mais com você naquela noite.

─ Você estava acompanhado. E outra, eu já estava alta, seria vergonhoso. ─ A morena sorri com certo divertimento ao se lembrar do reencontro do quarteto.

─ Isso não é bom? ─ Ele ergue uma sobrancelha, e o sorriso malicioso no rosto faz a mulher se perguntar se aquilo era uma brincadeira ou não.

─ O-o quê?

─ É brincadeira! ─ O loiro ri, confundindo ainda mais a morena.

Belle conhecia Nathaniel muito bem, ou pelo menos a versão do Jones que ele já foi. Mas ela não conseguia entender como ele pôde mudar tanto, esse comportamento tão descontraído e abusado que ora a desarmava, ora irritava. Todos pareciam estar acostumados com isso, mas a Monroe não conseguia assimilar aquela enorme novidade. Ele havia mudado por inteiro e ela esperava que não fosse algo ruim.

Mesmo quando o som do homem cessou, ela ainda ficou quieta perdida em pensamentos de um passado que ela suavizou demais.

─ Belle? ─ Ele chamou, passando a mão próxima do rosto da mulher, como se para atrair sua atenção.

─ Eu nunca pedi desculpas. ─ Ela solta, ainda olhando as mãos pálidas apesar de estar concentrada no momento de agora.

─ Como?

─ Nunca pedi desculpas por... Por ter te deixado plantado no dia do baile. Nem por ter ido embora. ─ Levanta a cabeça, comprimindo os lábios pintados de rosa.

─ Já faz tempo, acho que você não deveria se preocupar com isso. ─ O loiro dá de ombros, encarando a mulher como se não fosse nada grave, como se não tivesse o atingido.

É claro que era mentira.

─ Mesmo assim Nath, eu... De todas as pessoas que eu poderia chatear naquele último ano do colegial, eu não esperava que fosse você. Eu não queria isso. ─ Ela confessa, apertando a bebida já fria em suas mãos enquanto a respiração acelerava. ─ Sabe disso, não sabe?

Nesse momento, um silêncio se instala. Os murmurinhos dos contáveis clientes do Cosy Bear ficam tão audíveis que o Jones e a Monroe poderiam até mesmo descobrir sobre as conversas; mesmo assim, Nathaniel encarava a bebida de seu colega de trabalho com atenção, evitando olhar para Isabelle.

─ Isso é passado, Belle. ─ Ele diz, levantando a face com um sorriso pequeno preenchendo a mesma. ─ Você tinha um sonho, e eu jamais quereria que você deixasse ele de lado por mim. Você vivia me falando sobre ser atriz, e sua família sempre te influenciou a seguir um caminho artístico. Eu fiquei feliz por você.

─ Mesmo assim, eu... ─ Ela começa, com o cenho franzido, torcendo para que nenhuma lágrima escorresse por seu rosto.

Definitivamente, aquilo era assustador para ela. Por mais que não quisesse admitir, muitas coisas não haviam mudado em sua mente e ver que todos seguiram em frente a incomodava um pouco. Era egoísta, mas era o que ela sentia.

─ Eu te amava, Nath. ─ Conclui, irritada consigo mesma por estar a poucas palavras de chorar. Odiava ser emotiva.

Nesse momento, o Jones a encara de forma diferente. Era como se aquelas palavras tivessem assustado ele, mesmo que, no passado, as ouvisse com certa frequência.

Mas ele rapidamente se recompôs, curvando os lábios com simplicidade enquanto encarava aos olhos âmbar da mulher.

─ Isso é passado, está bem? ─ Insiste, logo se levantando da mesinha com as bebidas ainda quentes nas mãos. ─ Apenas... Apenas esqueça isso. ─ Finaliza, ainda com um sorriso no rosto que a Monroe só pôde deduzir ser de pena.

Por um momento, ela esqueceu do frio congelante lá fora, das mãos frias e pálidas e do empresário estúpido atrasado.

Queria protestar, de um modo bem dramático, mas parecia não ter sentido. Era como se aquilo fosse irritar ainda mais o homem, e não era isso que ela queria fazer.

─ Acho melhor você voltar para casa. Está ficando mais frio. ─ Ele diz, virando-se em sua jaqueta e saindo do estabelecimento.

Com o cenho franzido, ela acompanha os passos do homem, que entra num carro escuro no qual estava uma mulher e vai embora.

Ele tem namorada? , Belle pensa, parecendo acordar de um transe. Não acredito que você fez isso, Isabelle!

No segundo seguinte, os xingamentos endereçados à ela própria são interrompidos pelo celular, que vibrou uma única vez em seu bolso. Era Josh, finalmente cedendo ao clima ruim e a maré de má sorte e liberando Belle pada voltar à própria casa.

"Vamos deixar para depois. Eu vou me instalar num hotel e depois que o clima melhorar, eu te ligo. Volte para casa e se cuide."

Bem, assim ela fez.