✓| DELICATE ──── amor doce.

23. de volta a fama

  

AINDA ERA A PRIMAVERA quando Belle, inesperadamente, recebeu uma proposta de papel. Joshua estava tão empolgado com a possibilidade de voltar a ativa que, assim que recebeu a ligação, ligou imediatamente para a Monroe ─ isso às onze horas da noite, atrapalhando o sono dela.

De alguma forma, ela não se sentia tão empolgada quanto o ruivo. Para falar a verdade, seu entusiasmo era quase inexistente, e ela não sabia o porquê.

Bem, havia Nathaniel.

Eles estavam curiosamente distantes depois do jantar com Cecília, mas era algo que ambos se recusaram a aceitar. O contato havia diminuído, as mensagens se tornaram poucas e apesar de fingirem que não, eles não pareciam tão mais próximos, o que era insuportável para Isabelle, por mais que ela fingisse não ser nada grandioso.

─ Como assim você não quer!? ─ Do outro lado da linha, ela pôde imaginar Josh surtando.

─ Eu não disse que não quero, mas tenho que pensar sobre. ─ Ela suspirou, passando a mão pelos fios pretos de seu cabelo. ─ Isso parece estranho... Tem certeza de que nenhuma informação pessoal minha vazou nesse meio tempo?

─ Tipo o seu relacionamento com aquele loiro bonitão? Não tem nada novo na internet, Belle. É tão difícil assim aceitar que te querem numa nova franquia?

Nesse momento, ela escuta a porta se abrir, com Nathaniel adentrando. Ele parecia longínquo em seus pensamentos enquanto colocava as sacolas na mesa e ia depositar um beijo na testa da Monroe.

─ Conversamos depois. Eu te dou uma resposta assim que possível. ─ Ela diz, afastando o celular da orelha.

─ Ainda hoje, Belle. ─ Ela pode escutar ele impor, segundos antes de desligar.

─ Tudo bem? ─ O Jones pergunta, observando enquanto a mulher se junta a ele no sofá. Parecia distante e confusa, mas ele não queria se intrometer demais.

Quando percebe, o loiro a vê mexendo em sua mão, as palmas pequenas abraçando a sua, enquanto em outro momento, os dedos da mulher parecem traçar trilhas nas costas do mais velho.

─ Me ofereceram um papel. ─ Ela diz, sem muito entusiasmo, e ele ergue uma sobrancelha.

─ Isso é tão ruim assim? ─ Ele brinca, mas ao invés de responder, a mais nova deita a cabeça sobre o ombro do homem.

─ Parece... Estranho. Estou há quase três meses afastada de tudo isso. Não sei se estou pronta pra voltar.

─ Então é isso? Você nunca sabe se está pronta para algo, você só faz. Nunca te vi tão receosa com algo que ama. ─ Ele entrega, puxando a mão da Monroe para seu colo.

─ É diferente agora. ─ Ela solta, com a voz baixa, e se levanta. ─ Posso esperar.

─ Até quando? O ramo artístico parece incerto, você não sabe quando vai ter outra chance.

─ Eu não sei. Eu...

─ Isso não é por minha causa, não é? ─ Quando ela se vira, pode enxergar ele de pé, com os braços cruzados e uma única sobrancelha erguida.

─ O que? Não! ─ Ela se aproxima, tentando sorrir. ─ Quer dizer...

Ela então para. Por que raios estava realmente cogitando recusar aquela oportunidade? Ela não sabia o motivo antes, mas agora se questionava se não tinha algo a ver com Nathaniel.

Ela estava mesmo se submetendo àquele tipo de pensamento?

─ Qual é, Belle! ─ Ele exclama revirando os olhos e passa a caminhar pela sala. ─ Não pode fazer isso.

─ A decisão é minha. ─ Ela solta, séria, causando surpresa no Jones.

─ Não vou contribuir para o fim da sua carreira.

─ Eu recusar um papel não vai estragar tudo.

─ E que certeza você tem? Quer jogar um trabalho de dez anos fora por um relacionamento? Fala sério Isabelle. ─ Ele encosta o corpo no balcão de mármore da pia, furioso apesar de se conter.

Belle, com os olhos arregalados e boquiaberta, tinha a mesma emoção crescendo dentro de si, curvando as sobrancelhas em confusão e fúria logo em seguida.

─ Por que você está surtando tanto com isso? ─ Parada próxima ao sofá, uma parte de si temia por uma resposta indesejável. Era algo que ela continha para si desde o jantar desastroso com Cecília.

─ Sua carreira não vai terminar com você de repente. ─ Ele solta, evitando encará-la.

─ O que você quer dizer com isso? ─ Ela franze o cenho, enquanto Nathaniel vira a face para ela.

─ Não foi o que eu quis dizer. ─ Ele se aproxima, mas a Monroe simplesmente não reage. ─ Izzy eu... Você é brilhante. É dedicada e talentosa e não pode parar com o seu trabalho por nada.

Com o cenho franzido, ela suspira, e era como se parte do ar se recusasse a voltar. Ela definitivamente estava confusa com tudo ali, mas não queria mostrar que estava tão incerta quanto a algo que deveria ter plena certeza. Sentia que as coisas tinham mudado naqueles três meses que se afastou, e de alguma forma, mudar parecia não só atingir ela como muitos à sua volta. Era bem mais profundo do que ela acreditava ser.

─ Eu tenho que pensar. ─ Solta, evitando qualquer contato visual com o Jones. ─ Darei a resposta ao Josh ainda hoje.

Quando se arrisca a olhar para Nathaniel, ele parece sério e reflexivo, encarando momentaneamente o solo de madeira clara. Mesmo assim, ele solta um curto olhar para a Monroe.

─ Eu não deveria estar hesitando tanto. ─ Ela diz, cruzando os braços. ─ Mas é que... Acho que é difícil abrir mão disso tudo. Eu finalmente tive um pouco de privacidade, mesmo que tenha sido gerada por algo ruim. Eu achava que ia demorar mais até que as pessoas esquecessem. Eu esperava por isso.

Ela o encarou, rapidamente levando uma mecha de seu cabelo escuro para trás da orelha.

─ Se trata de toda a sensação de paz e sossego que eu consegui nesse período. E toda vez que eu era puxada pra aquilo eu só... Surtava. Gosto do meu trabalho, mas não sou muito simpatizante com a fama decorrente dele. Muitas vezes é complicado e sufocante. ─ Admite, com um pouco de dificuldade.

Belle tinha uma crença de que tudo o que diria poderia ser atraído para ela. De uma forma bem prejudicial, ela acreditava que não se abrir quanto ao seu atual estilo de vida faria com que, em algum momento, as coisas melhorassem. Agora, sentindo os olhos marejando e equilibrando o peso do próprio corpo, ela via o quão enganada estava.

─ Estou aqui, está bem? ─ Nathaniel diz, se aproximando com cuidado até que pudesse alcançá-la.

Puxando a Monroe para um abraço, ele pôde sentir as mãos pequenas lhe apertando o tronco enquanto Belle fungava em seu peito, olhando para ele em seguida.

─ Obrigada Nath. ─ Ela sorri, um minucioso movimento nos lábios pintados que logo foi retribuído antes de ela afundar, novamente, a cabeça no peito do homem.