Kageyama sempre acordava mais cedo, escovava os dentes na sua cuba da pia dupla, para em seguida descer as escadas em direção à cozinha. Já era rotina: abrir a porta dos armários sob medida, aquelas que ele escolheu pessoalmente com sistema de molas que impedia que elas batessem ao fechar. Alcançar o café, colocar na cafeteira, água, botão. Em seguida abrir uma das portas da geladeira (a da direita, sem o dispenser de água), pegar os ovos e alguns legumes. Enquanto esquenta a frigideira, coloca o pão na torradeira e pica algumas cenouras em tirinhas e mexe os ovos.
O café termina de passar quando o pão e os ovos ficam prontos, tudo servido em dois pratos. Ele coloca diretamente na ilha central da cozinha antes do relógio apontar 6:45. Segurando já sua xícara cheia, ele vai até a porta da frente, ainda de pijama, e abre para pegar o jornal.
- Bom dia, Kageyama!
Do outro lado da rua, como sempre, Suga acenava sorridente com um jornal igual ao dele na mão e sua filha menor adormecida num daqueles cangurus presa à sua frente. Paty? Antes que ele pudesse responder qualquer coisa foi cumprimentado mais uma vez, dessa vez por Daichi, que já saía de casa com o uniforme da polícia.
Logo a outra menina, a mais velha, July... ou será que essa era a Paty?, correu segurando as pernas do pai, claramente não querendo que ele fosse embora. Viu Daichi se abaixar e conversar com ela a dissuadindo, para depois se despedir de Suga.
Antes da cena familiar finalizar, a filha do meio, a de cabelos cacheados que definitivamente era a Paty, (a mais nova era Izzy, ele tinha lembrado agora) apareceu na porta pegando a irmã mimada pela mão e a puxando de volta para dentro de casa.
Daichi acenou mais uma vez para ele enquanto entrava no carro e Kageyama fez o mesmo, desejando um bom dia. Enquanto o carro saía ele finalmente juntou o jornal do chão e voltou pra dentro de casa. Mesma rotina, mesmos horários, tudo parecia normal.
Foi só fechar a porta e voltar para a cozinha que logo ouviu os passos apressados descendo as escadas. Atsumu já estava vestido com as roupas formais do trabalho e descia com a pasta de couro na mão. Como sempre, deixou a mesma pendurada no gancho junto à porta e voltou apressado para a cozinha.
- Bom dia! - disse se servindo do café e sentando no seu lugar de sempre na ilha da cozinha.
- Bom dia. - Kageyama respondeu se sentando também, abrindo o jornal tranquilamente.
- Hoje vou ter aquela reunião importante que eu te falei, vamos apresentar a proposta inicial do projeto do shopping. - Atsumu disse apressadamente enquanto comia.
- Sakusa não disse que esse projeto já estava perdido?
- Sakusa é um pessimista incurável, tudo sempre está arruinado pra ele. Eles realmente não gostaram da primeira apresentação, mas se nos deram uma chance para refazer é porque gostaram de alguma coisa.
- Bom... Boa sorte então.
- Obrigado.
E em mais duas mordidas ele terminou a comida, colocou mais café num copo de viagem, deu um beijo estalado na bochecha de Tobio e saiu apressado. Depois de ler o jornal, Tobio se sentaria no seu escritório em casa onde escreveria provavelmente até a hora do almoço.
Rotina, normalidade, uma segunda-feira totalmente padrão. A vida como ela tinha que ser, a vida como ele sonhou que seria. Não era ótimo?
Depois dos anos de faculdade, em que moravam num apartamento minúsculo bem no centro perto dos bares e em cima de uma lavanderia, Atsumu e Kageyama se cansaram. Os tempos de farra, bebedeira e delivery tinham chegado ao fim junto com a formatura, os empregos de tempo integral e a vida de casados.
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Eu Tu Ele [AtsuKageHina]
Fiksi PenggemarMesmo com um casamento feliz, empregos estáveis, família e amigos queridos, Atsumu e Kageyama perceberam suas vidas estagnadas, sem o brilho de antigamente. Acordar, trabalhar, relaxar, repetir. Será que a vida era opaca assim mesmo? Ou será que tal...