A fantasia de batata-frita não era a pior coisa que Hinata já vestiu na vida, mas com certeza chegava no top 3. Essa ao menos tinha um buraco pro rosto dele, permitindo que ele respirasse normalmente.
Não eram muitas as opções de trabalhos que pagavam por dia e cujos empregadores não se importavam se dali duas semanas ele não tivesse mais disponibilidade alguma para trabalhar. Se ele for uma boa batata-frita todos os dias até o fim das férias, considerando também a quantia que conseguiu como acompanhante, terá dinheiro para uns três meses de aluguel e despesas.
Enquanto distribuía panfletos da lanchonete sorrindo mecanicamente, Hinata fazia as contas. Oikawa cedo ou tarde arranjaria um emprego e poderia pagar uns dois meses de aluguel por ele. Se ele matasse as aulas certas, no limite da quantidade permitida, talvez desse pra trabalhar fantasiado de batata-frita mais vezes. Mas ele também cedo ou tarde precisaria de um tênis novo, e um tênis era quase um mês de aluguel... A conta não fechava, por mais que ele calculasse.
Não que sua família não tivesse condições de ajudá-lo, mas era uma questão de honra. Ele saiu de casa para ser independente, não para gerar mais uma despesa. Só um milagre o salvaria de ter que ligar para casa e pedir ajuda para sua mãe.
Sentiu seu celular vibrar no bolso de trás quase como um sinal divino. Provavelmente seria só alguém enviando algum meme, mas sempre havia aquela esperança de ser uma senhora rica disposta a pagar caro para ele ir ao cinema com ela ver um filme francês.
Posicionou seu corpo grande e desajeitado pela fantasia de maneira a não ocupar tanto espaço da calçada e habilmente puxou os braços para dentro da roupa gigante. Ser mais baixo que a média tinha algumas vantagens (às vezes). Escondido dentro da própria fantasia, Hinata pegou o celular e abriu o aplicativo de mensagens.
Marido 1 (não atender): "Olá, Hinata-kun! Primeiro queria dizer que eu e Tobio sentimos muito por ter de alguma maneira envolvido você nos nossos problemas. Mesmo do jeito que foi, você nos ajudou bastante em algumas questões, e por isso queríamos saber se você tem disponibilidade para nos encontrar hoje à noite. Sabemos que é um pouco em cima da hora, mas temos uma proposta de trabalho, obviamente dentro das suas regras. Você aceitando ou não, nós pagaremos pelo seu tempo. O que me diz?"
Shouyou leu o texto algumas vezes tentando absorver o significado de todas as palavras. Sua curiosidade quase fez ele responder perguntando qual era a proposta, mas se fizesse isso perderia o pagamento pelo encontro que ele dizia que pagaria de qualquer maneira. E se fosse algo razoável, poderia muito bem ser a solução pros problemas dele, não poderia? Tentando não parecer tão desesperado, ele respondeu:
"Me mande o local e o horário."
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Hinata sabia que aquele restaurante era chique, por isso tinha colocado sua melhor calça jeans e uma camiseta que nem tinha estampa nenhuma. Ele só não sabia que aquele era o tipo de lugar que um bom jeans era tão ruim quanto qualquer jeans.
A recepcionista o olhou de cima a baixo com desdém, mas precisou engolir o próprio veneno ao ver o nome dele no tablet que usava. Ao finalmente entrar, Shouyou percebeu que o restaurante não era do tipo romântico chique, mas sim do tipo reunião de negócios chique. O ambiente era muito bem iluminado e de decoração sóbria.
Próximo do bar havia algumas mesas grandes com grupos, certamente eram executivos fazendo algum tipo de happy hour, mas a recepcionista o levou para uma parte mais ao fundo, quase separada do resto. Naquele salão haviam mesas menores, todas com uma distância razoável uma da outra, garantindo um bom nível de privacidade das conversas.
Quando avistou a mesa em que os dois o aguardavam, se sentiu ainda mais deslocado. Os dois usavam camisas sociais e bebiam vinho branco totalmente à vontade com o ambiente formal, e claramente à vontade um com o outro. Quando o viram chegar, prontamente se levantaram educadamente para recebê-lo e a recepcionista se afastou.
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Eu Tu Ele [AtsuKageHina]
FanficMesmo com um casamento feliz, empregos estáveis, família e amigos queridos, Atsumu e Kageyama perceberam suas vidas estagnadas, sem o brilho de antigamente. Acordar, trabalhar, relaxar, repetir. Será que a vida era opaca assim mesmo? Ou será que tal...