𝐆𝐚𝐭𝐨𝐬 𝐆𝐮𝐞𝐫𝐫𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 - 𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐕𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐚(Cancelada)

𝕔𝕒𝕡í𝕥𝕦𝕝𝕠 9

- Mas como?- Ainda não acreditava - Eu mesma procurei essa planta por todo o planalto e a não encontrei.
A gata gengibre tremeu sua cauda - Me diga Pata Branca,onde exatamente achou essa erva?
- Perto do ninho dos duas pernas - Ele respondeu - Mas bem perto mesmo.
Havia se surpreendido com a coragem do jovem aprendiz. Pois quando tinha sua idade,nem na floresta morta pisava,por medo.
o gato preto e branco continuou - Havia uma cerca baixa depois da grama rala,e foi debaixo dela que encontrei essa tal alcaçuz,estava protegida e enrolada entre folhas de outra planta mais densa. Sorte não?pois a neve podia facilmente tê-la matado.
- Isso é ótimo! finalmente sua curiosidade trouxera algo de bom para nós.
- Então,já que fiz isso...será que poderiam considerar esse gesto como heróico ao invés de errado?
A líder o olhou em advertência - o que fez não foi correto Pata Branca,e sei que Pele de Cobra ficaria furiosa com você agora - Porém, abrandou - Mas vou considerar o que fez pelo meu irmão.
os olhos dele brilharam aliviados - Ou seja..sem punições e sem Pele de Cobra com raiva?
- Tá bem,não contarei nada disso para ela,mas me prometa que nunca mais colocará nada em sua boca sem saber do que se trata,entendido?
- Sim,eu entendi - Ele miou baixo.
Enquanto conversavam,Folha Seca metia seu focinho na planta,talvez para ter certeza de que seu faro estava realmente correto.
Até que levantou um pouco seu pescoço - Ainda há um problema.
Os dois olharam para ela.
- O que foi?- A gata branca miou.
- Esse punhado de ervas só dará para uma,ou no máximo duas luas,não será o suficiente para Orvalho.
E ainda corriam o risco de outros gatos precisarem também.
Se lembrou de Pata Pintada.
- Preciso de mais alcaçuz; hum,será que pode pegar mais? Pata Branca.
- Claro folha seca - O jovem
respondeu com perspicácia.
- Ótimo,preciso do máximo que puder trazer.
Ele girou seu corpo depressa,e se preparou para sair de lá correndo.
- Espere Pata Branca - Estrela Albina meteu-se em sua frente.
- É,eu sei,a avaliação,mas será que podemos realiza-lá depois que eu voltar?
- Não é isso. Eu só quero te acompanhar até lá.
ele mexeu sua cabeça um pouco surpreso.
- Está bem,hã...vamos agora?
balançou sua cabeça concordando.
Se despediu de Folha Seca de longe,e seguiu o aprendiz para fora de sua toca.
O sereno já havia diminuído,e uma pequena onda de calor inundou a campina. Não o via,mas sabia que o sol era o responsável por isso.

Quando estavam próximos ao túnel de galhos,viu Pelagem de Luz e Pele de Cobra,à frente, algumas caudas de distância deles.
Ambos estavam com expressões hostis em seus rostos.
Pata Branca ao ver sua mentora com seus olhos âmbar queimados de raiva, correu para se esconder atrás de Estrela Albina.
Quando se aproximaram um pouco mais, conseguiu ouvir um pedaço da conversa,que mais parecia com uma discussão.
- Mas é só um ataque,ela nem vai saber.
o felino amarelo estreiou seus olhos verdes - Não,não posso simplesmente mandar uma patrulha para o território do bosque, pelas costas de nossa líder.
- E daí?não quer vingar Pingo de Nuvem?
- É claro que quero,mas Estrela Albina não quer um ataque ainda,e se ela não autorizou,eu também não autorizo.
a gata malhada chicoteou sua cauda fina,e rosnou para ele.
grrrr- Você é um covarde igual a ela!não podemos fugir da luta para sempre.
Pata Branca ao ouvir isso se encolheu atrás da gata branca.
- Acho que terei que resolver isso,antes de partimos - Disse enquanto se afastava dele.
- Você não vai machuca-lá,né
- Não se preocupe,não farei nada de mais.
Depois de dizer isso sentiu suas garras à contrariando. Formigavam,como se quisessem muito se mexer.
- Não se refira a ela neste tom!
- O que?vai me dizer que não a acha um filhote assustado?
A gata branca então meteu-se despercebida ao lado da guerreira,de propósito. Seus olhos azuis estavam mais escuros que nuvens de tempestade.
- Algum problema? Pele de Cobra.
a felina malhada um pulo para o lado,surpresa,porém sem medo algum dela.
- Estrela Albina,como...é bom vê-la!- Ela miou com uma expressão torta.
- Acho que acabei de ouvir meu nome sendo citado. Então?quer me falar alguma coisa?
- Eu?não,só estava conversando com Pelagem de Luz sobre a... patrulha.
A guerreira então virou-se, e se preparou para sair.
- Pele de Cobra não vire as costas para mim!ainda não respondeu minha pergunta.
em um tom grosseiro,a gata virou seu rosto novamente para ela.
- Não tenho nada para lhe dizer.
Se Aproximou,e colocou seu focinho próximo ao dela.
- Se quer reclamar de mim,diga na minha frente,e não para os guerreiros, atrás de minhas costas.
Pele de Cobra hesitou. Sua pelagem começou a ficar arrepiada.
- Eu só acho que deveríamos atacar o Clã do Bosque logo - Desviou seu olhar para a grama - Pingo de Nuvem iria querer isso.
- Escute Pele de Cobra. Sei que quer muito vinga-lâ,mas preciso que entenda - Fez uma pausa - Deve saber o quanto a última batalha nos causou muito dano e destruição. Não quero que isso se repita de novo. Não quando já estamos começando a nos reerguer.
Pelagem de Luz e Pele de Cobra trocaram olhares sérios.
- Isso tudo não é desculpa! - Ela insistiu - Podemos não estar esbanjando forças, porém ainda podemos lutar firmemente.
- Eu sei que podemos. Mas tenho medo de saírem muito feridos desses ataques.
- E daí? - A gata de pelo curto balançou seus ombros.
- Pele de Cobra,nossa pilha de presas está a cada lua menor - Desta vez foi Pelagem de Luz que falou - Estrela Albina tem toda a razão. Se os guerreiros ficaram muito feridos,não haverá como se recuperarem. Pois sabe que não são só as ervas que trazem as forças de volta.
Seus olhos se encontraram com os dela - Pingo de Nuvem iria querer seus filhotes seguros e fora de perigo.
a gata malhada havia parado de chicotear sua cauda. Entretanto ainda parecia irritada.
- Odeio evitar brigas por comida! em seguida prestou atenção em um murmúrio dela - Se você você uma boa líder não estaríamos passando por essa situação.
a guerreira abaixou seu pelo e sem dizer mais nada, atirou-se dentro da vegetação. E desapareceu.
- Acho que conseguiu convence-lá- O gato amarelo se Aproximou.
Suas orelhas abaixaram, e sua cauda balançava de um lado para o outro.
Se você fosse uma boa líder,não estariamos passando por essa situação.
Essa frase que ouviu por acidente de Pele de Cobra começou a se remoer dentro de seu estômago.
Mesmo depois de tudo que já fez pelo Clã,ainda tinha guerreiros que a achavam covarde. Não gostava nem um pouco de saber disso. Não quando se dedicava ao máximo para mostrar o contrário a eles.
- Estrela Albina? já podemos seguir?
era a voz de Pata Branca. Ele havia chagado junto a ela, sem perceber.
a gata albina olhou para o aprendiz um pouco pedida.
- Claro,vamos.
- Onde os dois vão?
- Vamos até o lugar dos duas pernas colher um pouco de alcaçuz - O jovem respondeu.
- No lugar dos duas pernas?- Ele repetiu - Encontraram Alcaçuz lá?
balançou a cabeça concordando - Foi Pata Branca que encontrou.
- Pata Branca?por quê não estou surpreso - Ele deixou escapar - Pensei que sua mentora tivesse o proibido de ultrapassar a floresta morta.
o aprendiz preto e branco apenas abaixou os ombros e ignorou completamente Pelagem de Luz.
- Podemos ir logo líder? - Perguntou o jovem já se afastando deles.
- Tomem cuidado quando estiverem lá - O guerreiro olhou para ela - Pelo que me falaram,há bastante cobras rastejando por aqueles lados.
- Obrigado por avisar Pelagem de Luz - O agradeceu.
o amigo despediu-se dela com um movimento curto de cabeça.
Enfim,apressou-se para acompanhar o aprendiz. Que já estava bem a sua frente. Via que assim como Pata de Neve e Pata Nublada,também aparentava gostar de correr.
Quando conseguiu alcançar o gato preto e branco,ambos já estavam bem longe do acampamento do Clã da Neve.
Já não tinha mais sereno algum na floresta. Parecia que ele havia de alguma forma voltado para cima,se acumulando em borrões escuros.
Ficaram um bom tempo andando.
A medida que foram deixando seu território para trás,dava espaço para Pata Branca ir na frente,pois já não conhecia bem o caminho.
A grama foi ficando cada vez mais rala e estreita. Como aquela que havia no caminho da morte.
Começando a deixar os últimos pinheiros para trás. Indo até uma área seca, com um odor que raramente sentia.
- É aqui.
Ao olhar para frente,viu a cerca que ele havia falado.
Não era muito grande e nem perigosa,dava facilmente para subir e descer. acreditava que não servia para proteger os duas pernas da floresta, apenas para dividir seu jardim do resto da vegetação selvagem.
Seguiu o aprendiz até uma fileira de plantas que ficava debaixo da cerca.
- Foi por aqui que eu achei a alcaçuz - Disse Pata Branca se afastando.
meteu seu nariz em vários tipos diferentes de plantas,inalou mais de três ou quatro cheiros distintos,mas não achou nenhuma com o odor da erva que estava no acampamento.
Depois de desistir da busca foi atrás do aprendiz, talvez tenha tido mais sorte que ela.
- E então? encontrou mais?
o felino havia soltado um espirro,por causa de uma das plantas - Não achei nada também - Miou infeliz - Será que colhi as últimas?
- Não sei,mas espero que não.
o companheiro virou seu rosto - A cerca continua para os dois lados,podemos nos dividir,e continuar com as buscas - Ele opinou.
- Certo,mas seja cauteloso,e tome cuidado com os...
O companheiro a interrompeu - Já sei,os cachorros.
então em uma batida de coração os dois amigos do Clã da Neve caminharam para lados opostos.
continuou procurado,mas não encontrou nada.
Seu focinho já nem sabia mais qual era o cheiro da planta que precisavam,de tanto aromas diferentes que estavam circulando por suas narinas.
- Ah!nunca acharei nada desse jeito.
Até que ouviu o miado de Pata Branca em meio ao silêncio.
- Estrela Albina vem aqui!
pensando que estivesse em perigo,deixou seus melindres de lado e correu em direção a sua voz.
- Estou aqui Pata Branca o que houve?
quando olhou,viu que o gato estava em cima da cerca.
- Ei o que está fazendo em cima disso?
- Eu encontrei o cheiro da alcaçuz!ela está dentro do jardim dos duas pernas,vamos.
- O que?você quer ultrapassar?sabe que não podemos fazer isso.
- Qual o problema?
- E se nos virem?
o aprendiz mexeu seus ombros despreocupado.
- Saímos correndo. Somos mais espertos que muitos daqui.
antes que pudesse dar mais argumentos,o gato já havia pulado para o outro lado.
- Pelo Clã das Estrelas - Murmurou - Espere!
saltou e se equilíbrou de um modo desajeitado em cima da cerca.
Estrela Albina então pulou de lá para o jardim.
uma sensação desconfortável tocou seu peito naquele momento,como se estivesse traindo seu Clã,ou quebrando uma ligação com o Clã das Estrelas.
Depois de engolir esse mal estar olhou em volta de boca aberta.
era um lugar que mesmo na estação sem folhas,estava bonito.
a grama não era dura como a que tinha lá fora. Era mais macia,e cheirosa. Tinha árvores ao seu redor,que ainda tinham algumas folhagens.
Bem mais para frente,tinha um caminho destacado na grama,que certamente devia dar para a entrada da toca dos duas pernas.
- Devo admitir,que esse lugar é... Pata Branca?
Deu-se conta de que o aprendiz não estava com ela.
- Pata Branca!onde está?
ninguém respondeu.
será que ele foi pegar a alcaçuz?pensou,enquanto seguia mais para a direita.
Quanto mais tempo ficava,mais se encantava com a vegetação.Havia até se esquecido do porquê estava lá.
Trocaria com certeza sua cama de musgo gelada por essa grama macia e cheirosa.
De repente,algo a trouxe de volta.
Embora seu nariz ainda estivesse entupido de aromas diferentes,pode sentir com clareza o odor de gatos do Clã do Bosque. E estavam perto.
Mesmo que essa área não pertencesse a nenhum Clã,as chances desse guerreiro matar o aprendiz eram grandes.
Rapidamente tentou localizar de onde via o cheiro.
Correu depressa,patinando e desarrumando a grama.
- Pata Branca!
o cheiro do gato inimigo foi ficando cada vez mais forte,o que a começou a deixar perturbada.
continuou chamando o jovem, até que o som de um grito de desespero cortou-lhe a palavra.
- Pata Branca!
atraveçou um arbusto largo,e atirou-se ao outro lado.
Pôde finalmente mostrar as garras que estava segurando desde a conversa com Pele de Cobra.
pousou na grama,sob uma pose baixa,e rosnou.
- Deixê-o em paz!
quando ergueu seu rosto viu o aprendiz com a pelagem toda encrespada,e sua boca faíscava para algo a sua frente.
sua maior surpresa não foi ver o que ele enfrentava,e sim,que havia o corpo de um gatinho malhado caído,desolado no chão.
quem era ele?um gatinho de gente?
seu pelo era um belo marrom dourado,e suas garras ainda estavam a mostra,como se ele tivesse tentado lutar contra aquela cobra a pouco.
Se colocou ao lado de pata branca depressa.
- Quem é ele?
os olhos do jovem do Clã da Neve percorreram a área com grama.
- Eu não sei,quando cheguei ele já estava desacordado.
- Será que esse gatinho foi picado?
Em uma batida de coração o aprendiz saltou sobre a serpente que estava escondida na grama.
ele rolou com o corpo dela dentro de seus dentes da frente.
a criatura tentou se debater e se soltar,sua boca pequena,mas fatal, tentava a todo custo morder o rosto de Pata Branca.
depois de chacoalhar bastante,o gato a cuspiu de volta na grama.
a ponta de sua cauda ainda mexia de um lado para o outro. Ainda não estava morta.
a cobra ainda cheia de forças,tentou dar um bote na barriga dele,porém viu que seus reflexos foram mais rápidos. Desviando e a mordendo novamente.
pegou-a pela cabeça,e com toda a sua força,a lançou para longe.
A boca do aprendiz estava manchada de sangue fresco.
Quando foi reparar no corpo do gatinho malhado,viu que havia um único ferimento,era em sua perna traseira. Uma mordida de cobra.
- Eu consegui!- Pata Branca miou incrédulo - Eu consegui salvar um gato de uma cobra sozinho!
enquanto falava,o sangue em sua boca espirrava para fora,como se fosse saliva.
- Estou vendo - Estava tão surpresa em ver aquele gatinho que havia se esquecido de ajudar o jovem,mas acabou que ele nem precisou.
Depois que Pata Branca se acalmou,foi dar atenção para o corpo caído.
- Esse gatinho de gente está morto?
a gata o observou por alguns segundos. E depois levou seu focinho para próximo ao pelo dele. Sua pelagem carregava dois tipos de cheiros diferentes. O do jardim dos duas pernas,e o fedo do bosque sombrio. No qual era mais forte.
- Eu acho que esse gato é um membro do Clã do Bosque.
Pata Branca arregalou seus olhos em deboche.
- O que?esse?não pode ser,gatos de lá não são tão pequenos assim,veja,ele é quase um filhote de meia-lua.
- Pode até ser,mas ele tem o odor da floresta,não acho que ele seja um gatinho de gente.
O gato de manchas mudou sua expressão,para uma mais sombria - Ele está morto?
levou suas orelhas até o peito do pequeno gatinho.
por um milagre,sua respiração ainda subia e descia. Era de um modo lento,mas ainda conseguia ouvir.
- Não...- Se impressionou - Ele ainda está vivo.
Nunca vira nenhum filhote deste tamanho conseguindo sobreviver a uma picada de uma cobra venenosa.
- Talvez ele seja mesmo do Clã do Bosque afinal - O amigo também ficou admirado - E então?o que vai fazer?
antes que pudesse respirar para pensar,o felino malhado havia se mexido.
aos poucos suas patas foram saíndo de seu rosto,podendo ver seus olhos âmbar cansados.
após isso ele soltou um gemido de dor,e olhou para sua perna traseira,bem onde o ferimento estava,
- Aí!mi...minha perna dói!
Sem pensar duas vezes, Estrela Albina se aproximou dele,e sussurrou em seus ouvidos.
- Aguente firme,eu vou levá-lo até minha curandeira,tá bem.
ele não conseguiu responder,pois já havia mergulhado na inconsciência de novo.
quando olhou para Pata Branca outra vez,viu que ele estava com a boca cheia de folhas de alcaçuz.
- Estavam ao meu lado - Sua voz saiu um pouco deformada. Por estar com a boca cheia.
Mexeu sua cabeça, mostrando um sinal de contentamento para Pata Branca.
Logo em seguida,abriu sua boca,e com cuidado,agarrou o pequeno gatinho malhado.