𝕔𝕒𝕡í𝕥𝕦𝕝𝕠 29

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A líder voltou a caminhar atrás de Lírio de Neve.
Atirou-se dentro das vegetações,as mesmas que ela e sua companheira usaram para chegar até aqui,e foi guiada pelo odor da ex-aprendiz,no qual estava bem forte.
Se viu novamente envolvida por todas aquelas plantas e vegetações ressequidas que penicavam-lhe o pelo.
Enquanto andava,acabou se lembrando de mais alguns relatos sobre o Clã Vermelho,que Cauda Rala contava para ela, quando ainda guerreira,e para os demais aprendizes mais jovens,quando sua memória ainda não falhava.
As várias raposas que faziam parte do Clã não eram como os guerreiros da floresta. Eram bem mais imponentes, impulsivas e selvagens,e não obedeciam ao código dos guerreiros. E o líder não carregava o toque do Clã das Estrelas,por isso não tinha suas nove vidas como Estrela Albina e os demais líderes de Clã.
A pelagem de cada raposa era semelhante uma com a outra,como se fossem uma cousa só. Todas,até a mais mera raposa tinha um pelo comprido alaranjado,que muitas vezes diante a luz do sol a pino,se transformava em uma pele tão avermelhada quanto o próprio fogo vivo de uma tocha,ou ao próprio sangue fresco e encorpado de uma presa da floresta.
Marchavam entre os pinheiros,com seus grandes olhos brilhantes,e suas enormes garras do tamanho das de um chacal selvagem. Refletindo e esbanjando forças e ferocidade,até que foram batizados pelo demais líderes de:"o fogo".
Cortou esses pensamentos quando notou que já estava vendo a ponta da cauda de Lírio de Neve a sua frente.
Dobrou seus músculos tensos,e jogou-se ao lado da amiga. Quando olhou para frente, pôde ver o resto dos guerreiros apalpodados dentro de outras vegetações mais largas.
- Estrela Albina? - Lírio de Neve virou para ela e a encarou. - O que houve com você?parece que viu um cachorro a sua frente.
Deu-se conta do quão arrebitada estava toda a sua pelagem. Além de despenteada e dividida,até a ponta dos bigodes estava eriçado.
- O que viu? algum gato perdido do Clã das Pedras? - A gata albina insistiu.
A líder tremeu a ponta de seu rabo nervosa.
Quem dera tenha sido isso.
Pensou com frieza.
Não quis sentar e explicar o que vira para Lírio de Neve, até porque não tinha toda a certeza se era realmente uma raposa do Clã Vermelho. Não queria causar tumulto e desordem na patrulha de busca,que tanto precisava de concentração e foco para rastrear o odor de Pata Cinza.
O que realmente precisava fazer nesse momento,era partir o mais depressa que conseguisse para a Rocha da Aurora,no território do Clã da Lua.
- Estrela Albina?
Os olhos azuis de Lírio de Neve começaram a queimar sobre seu rosto.
- Eu...- Pensou rapidamente no que iria fazer. Não podia deixar a patrulha do Clã da Neve sozinha em um território hostil, entretanto,precisava muito ir à Rocha da Aurora.
- Lírio de Neve,eu preciso ir.
- O que?ir para onde?
Ergueu sua cauda a altura da cabeça. - Preciso ir para às Rochas da Aurora o mais depressa possível.
A guerreira branca franziu o rosto sem entender.
- Rochas do que?isso tem haver com encontrar Pata Cinza?
- Não. Preciso ir ver o Clã das Estrelas.
- O que?agora?
Não respondeu. Pois já havia se afastado um pouco dela.
- Mas e a patrulha?
- Peça para Pelo de Carvalho tomar a liderança. Diga a ele que eu precisei me retirar para uma emergência.
Sem esperar resposta,a líder partiu em disparada. Afastando-se da patrulha outra vez.
Quando tudo fosse esclarecido contaria para o Clã que estavam para entrar em uma guerra com o próprio fogo.
Só depois de já estar na trilha para as colinas,deu-se conta do quão longinûo era o caminho até lá. Viajar pelo território do Clã das Pedras era mais longe. Se seguisse pelo território do Clã do Bosque seria mais perto, porém não iria arriscar se meter outra vez com uma patrulha de Presa Caída. Então optou por continuar na trilha mais comprida.

Estrela Albina já avistou as sombras das colinas tortas.
O odor peculiar do Clã da Lua perfurou-lhe o focinho. Torceu para que não encontrasse nenhuma patrulha de guerreiros no caminho. Pois embora estivesse indo até às Rochas da Aurora,os guerreiros,e ainda mais Tigre Prata,poderiam querer afronta-la do mesmo jeito.
As patas doíam da mesma forma de quando viajava para a assembléia nas colinas sagradas.
Suas pernas estavam dormentes,e seu estômago dobrava-se de fome. Já que fazia luas que não comia nada. E para este tipo de viagem, precisa ter algo em seu estômago,caso contrário,cairia de cansaço e exaustão.
Precisava encontar uma lebre ou alguma outra presa para caçar antes de começar a subir as colinas mais altas.
Desviou o caminho por um instante,e foi mais para a borda,onde havia uma vegetação rala e debruçada sobre as pedras companheiras.
Ajeitou-se rapidamente em sua posição de caça,e caminhou a passos de pena até lá. Torcendo para que entre as folhas e pedras,esteja algum coelho perdido.
Embora não tivesse muita experiência em caçar um animal tão ligeiro quanto um coelho ou lebre,daria o seu melhor,já que precisava muito saborear alguma peça de carne.
Os felinos do Clã da Lua saberiam com certeza a melhor maneira de abocanhar uma presa saltitante,já que o Clã só comia praticamente coelhos e lebres durante a estação das folhas verdes. Enquanto na floresta e no planalto do Clã da Neve, raramente avistava um coelho,e quando encontrava,não valia a pena gastar forças tentando agarrar um, quando podia gastar forças agarrando várias camundongos silvestres de um só vez.
Aproximou-se mais,dando passos pelas almofadas das patas,até que meteu o rosto dentro da grama,e entre as pedras.
Em uma batida de coração,uma sombra pequena saltou por cima de sua cabeça,e começou a correr para outra direção.
O coelho!
Virou as costas e começou a correr atrás da criatura albina.
O animal era bem mais rápido que um rato,e quando pensava que fosse abocanha-lo,o coelho dava um pulo estupendo para longe do alcance de suas garras.
Deslizando pela descida da colina,fez o possível para tentar não perde-lo de visão.
Posicionou suas patas e deu um salto ao vento. Agarrando a barriga magra da presa com os dentes da frente.
Em meio a isso,perdeu o equilíbrio, por conta de estar correndo em uma descida acabou rolando sem freio para baixo. Já que não conseguiu pousar depois do pulo.
A gata branca rolou para baixo da colina. Caindo finalmente de costas na grama, felizmente em momento nenhum soltou a presa.
Levantou-se depressa e colocou o corpo da presa no chão.
Se os guerreiros tivessem visto isso certamente iriam me gozar!
Chacoalhou seu pelo,e passou a língua entre os dentes. Finalmente iria poder saborear alguma peça de presa, depois de tantas luas.
O coelho não era grande,e nem encorpado,e pelas quantidades de ossos,era mais do que magro.
O engoliu em duas abocanhadas.
O gosto da carne era distinta dos coelhos que já comeu em seu território,pois tinha o odor do Clã da Lua no pelo. Porém não era um problema para Estrela Albina. Com a fome que sentia,podia engolir até a grama que estava perto.
Tigre Prata e a própria Estrela Cinza teriam arrancado suas orelhas se a vissem caçando e arrebatamento seus coelhos para comer.
Quando terminou de tirar os pelos da presa de sua boca,levantou a cabeça,pronta para retomar caminho.
Enterrou os ossos que sobraram,e correu de volta para a trilha.
Já havia passado pelas colinas sagradas. O que a fez lembrar da assembléia que tiveram antes,que havia terminado em extrema discórdia,e se não tivessem finalizado naquela noite,todos estariam em guerra agora.
Precisavam dar atenção ao Clã das Pedras em breve,pois enquanto não voltarem para a Floresta, nenhuma Assembléia poderia ocorrer. Pois de acordo com as regras. Todos os Clãs deveriam estar reunidos na cerimônia,sob os olhos da lua-cheia.
A Rocha da Aurora era uma majestosa pedra estreita e pontuda,que ficava bem ao topo de uma das colinas mais altas do território do Clã da Lua. Sendo até mais alto que o próprio local da assembléia. E era onde os líderes de Clã iam para receber suas noves vidas,e trocar seus afetos com o Clã das Estrelas.
Nunca esqueceu de quando percorreu esse caminho pela primeira vez. Quando ainda era Cauda Albina,a representante do Clã da Neve.
Depois que despertara daquela rocha,nunca mais havia sido a mesma. A sensação de receber às noves vidas foi assustador,e até dolorido. Porém ao decorrer de sua vida como líder,foi sentindo que essas dores foram se transformando em forças,pois cada virtude colocadas em seu peito,acabou aflorando durante a sua vida. Virtudes que uma vez já pertenceram aos guerreiros ancestrais,quando ainda estavam vivos e em batalha.
A bondade e a justiça foi algo que sempre admirou em seu antigo líder,Estrela Branca. Embora fosse um líder feroz,e imponente com o resto da floresta,sempre carregava em seu peito essas virtudes,e quando recebeu uma vida dele,prometeu que faria bom uso de ambas.
Quando chegou ao topo,quase estava sem ar.
A caminhada já havia roubado um pouco de seu fôlego,porém a altitude e o vento que batia forte em seu rosto,dificultou ainda mais sua capacidade para buscar e soltar sua respiração.
Aproximou-se da pedra,e dobrou novamente seus troncos.
Em três pulos, conseguiu pisar em sua superfície úmida e derrapante.
A pedra por incrível que parecesse,não carregava o cheiro do território do Clã da Lua,mas sim um cheiro peculiar, e aos olhos dela,único. Pois acreditava que esse era a ponta do odor dos gatos do Clã das Estrelas. Que sempre pousavam aqui para abençoar os novos líderes de seus Clãs.
Deitou-se de costas no granito.
A superfície gelada lhe causou um arrepio na espinha.
Depois que sua respiração acalmou-se de vez. Pôde ter concentração o suficiente para fechar os olhos.
Adormecer não seria um problema para Estrela Albina,pois essa viajem não acabou somente com suas patas,mais com sua energia também. E mesmo que essa pedra fosse mais gelada que sua cama de musgo,conseguia lhe trazer um certo conforto.

𝐆𝐚𝐭𝐨𝐬 𝐆𝐮𝐞𝐫𝐫𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 - 𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐕𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐚(Cancelada)Onde histórias criam vida. Descubra agora