Capítulo II

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Era apenas mais uma manhã e como sempre eu estava no meu quarto em minha cadeira de rodas na frente da janela,  vendo as nuvens passarem e sentindo a brisa do vento balançar meus cabelos.  A maioria do tempo eu passava calada, apenas pensando.  Naquela manhã vi meu pai com um homem conversando e Philippe trazendo umas malas, provavelmente aquele homem era o filho do amigo do meu pai, ele era alto e tinha cabelos pretos que faziam um contraste agradável com seus olhos verdes. Meu pai olhou pra mim e o homem também,  eu apenas fechei a janela.  Não queria ver gente,  não queria conversar e esperava que aquele homem fosse embora logo, não sabia o que ele veio fazer  aqui, apenas queira que ele fosse embora o mais rápido possível. Dei ré com minha cadeira de rodas e fui até na frente do espelho.  Minha aparência não lá essas coisas,  eu era loira e meus olhos eram verdes como os da minha mãe,  mas não tinha a beleza que ela tinha. Minha mãe era o tipo de pessoa que agradava à todos,  sempre simpática e bonita,  ela morreu quando eu tinha apenas nove anos, ainda lembro do seu rosto, tenho tanto medo de esquecer como era seu rosto, sua voz, seu toque.  Ela morreu de câncer e foi horrível vê-la morrer aos poucos.  Apesar da doença ela nunca se deixou abater, estava sempre feliz, Cora dizia que era pra eu seguir o exemplo dela, mas eu não conseguia,  nunca consegui. Nem tocar piano eu tocava mais, minha mãe tinha me ensinado a tocar piano quando eu tinha 6 anos,  mas depois que o Travis se foi parei de tocar, a morte dele foi a gota d' água pra mim,  eu não aguentava mais perder ninguém.  Depois de alguns minutos Cora bateu em minha porta.

- Mels

- Sim?

- Posso entrar?

- Entre.

Virei a cadeira de rodas para vê- la melhor,  ela estava animada.

- O filho do amigo do seu pai chegou.

- Eu vi.

- Ele é uma graça,  muito simpático e engraçado, você vai adorar conhecê-lo.

- Não quero conhecer ele.

- Mas Melinda seu pai pediu que...

- Não!  - eu gritei,  ela pareceu desapontada e saiu do quarto. Desde do acidente eu dispensava visitas,  eu só queria ficar no meu quarto sozinha com meus pensamentos. Alguns minutos depois meu pai apareceu no quarto com aquele olhar de reprovação.

- Você não pode fazer isso Melinda.

- Finjam que eu não existo, aposto que você é ótimo nessa brincadeira.

- Por que você fala isso?  Não percebe que eu também estou sofrendo?

- E olha que nem é você o inválido.

- Não diga isso.  Você acha que eu gosto de te ver assim? Eu te amo, filha. - disse ele pegando em minha mão. - Agora vamos lá falar com o Nate.

- Eu não quero.

- Mas vai, não vou deixar você fazer isso com ele. - disse ele me levando até a sala.

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