Alvorada

Capítulo XIV

Depois do jantar, geralmente eu sumia, para evitar o máximo aqueles olhares e perguntas. Eu disse a Cora que iria para o jardim, ela apertou os olhos e assentiu de mal grado. Girei a roda da minha cadeira e ao me aproximar do jardim ouvi gritos.

- Eu precisava falar com você! - gritou uma mulher.

- Eu já disse tudo que tinha o que falar. - disse Nate calmamente.

- Você acha que eu sou como as outras, Nate? - perguntou a mulher que parecia descontrolada, Nate porém mantinha a calma, seu rosto não demonstrava nenhuma alteração. - Fala! - gritou ela, Nate percebeu a minha presença, então a mulher virou e me viu lá.

- Ah, claro! Agora sim, você me surpreendeu Nate. Parabéns! - disse a mulher sorrindo, seu rosto estava vermelho e enfurecido.

- Não começa, Anne. - disse ele aumentando o tom de voz.

- Desculpe, eu não sabia que vocês estavam aqui. - eu disse e a mulher me olhou de baixo pra cima.

- Tudo bem Melinda, a Anne já estava indo embora. - disse Nate pegando no braço de Anne, mas ela puxou bruscamente.

- Eu sei ir sozinha. - disse ela caminhando e quando chegou perto de mim disse: - Nunca acredite em nada que ele disser, ele sabe como enganar o seu coração. - disse ela, depois deu mais uma olhada enfurecida pra Nate e foi embora. Nate me olhava sem expressão alguma, sentou em um banco, apoiou os cotovelos na coxa e colocou as mãos nos olhos parecendo cansado.

- Ahhh! - suspirou ele irritado. - Me desculpa por essa cena justamente hoje.

Eu girei a roda da cadeira até ficar ao lado dele. - Eu terminei com ela mas ela não aceita isso, aí veio até aqui parecendo uma louca, gritando. - continuou ele.

- Por que você terminou com ela?

- Porque... porque eu não a amava.

- E por que você não a ama mais?

- Nunca a amei. - ele disse um pouco envergonhado e eu o encarei surpresa. - Não me olhei assim Melinda, eu apenas não posso chamar o que sentia por ela de amor.

- Perder alguém não é nada fácil, pior se essa pessoa está viva e prefere não ficar com você. - eu disse e ele olhava pro vazio, depois virou pra mim e disse:

- Você acha que eu não sei? Eu sei que ela tá sofrendo, mas não posso enganá-la, não mais. Eu não sei o que fazer pra que ela entenda, ela não me escuta, parece uma desequilibrada.

- Ela te ama. - eu disse e ele riu.

- Ela é completamente louca, você viu.

- Não, ela não consegue aceitar a idéia de te perder. - eu disse e ele virou o rosto para me olhar.

- Igual a você com o Travis. - disse ele me pegando de surpresa.

- É diferente.

- Não, não é. Ele se foi e você ainda não consegue deixar ele ir.

- Não estamos falando sobre isso. - eu disse ríspidamente.

- Ok. - ele disse e um silêncio tomou conta, logo depois ele quebrou o silêncio dizendo: - Sabe, você pode enxergar todo o céu, e ainda assim não verá a magnitude das estrelas.

- Eu odeio quando você faz isso. - bufei e ele me olhou com curiosidade. - Banca o poeta. - eu disse e ele riu olhando para baixo.

- Não banco o poeta, mas confesso que sou amante de poesia.

- Então vamos ver se você conhece essa:

Nate quer ser poeta, mas poeta não consegue ser.
Claro, suas frases de traseira de caminhão sucesso nunca irão fazer.

Ele sorriu e levantou do banco.

- Traseira de caminhão? - perguntou ele sorrindo, depois pensou um pouco e disse: - Agora é minha vez:

Melinda, carrega no olhar uma nuvem de tristeza sem igual.
Quem me dera tocar o céu, para dos seus olhos dissipar as nuvens que tanto lhe fazem mal.

Ele disse sorrindo de lado, fiquei sem palavras, ele sempre conseguia fazer isso. Seus olhos grudados nos meus, fizeram meu coração acelerar de uma maneira que me assustou. O que estava acontecendo comigo, afinal? Tirei meus olhos dos deles, ele ainda me observava esperando que eu dissesse algo, eu imagino. Eu estava confusa e precisava pensar, precisava me entender, entender o que estava acontecendo.

- Eu tenho que ir. Boa noite. - eu disse da forma mais firme que consegui, virando a cadeira e torcendo para que ele não me impedisse, ele não me impediu e eu fui em disparada para o meu quarto.