Capítulo XVII

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- Vejo que alguém aqui não acordou de bom humor hoje. - murmurou Nate,  ao me observar pintar bruscamente a tela, jogando as tintas de qualquer jeito com muita raiva.

- Cala a boca!  - exclamei e ele sorriu pegando um banco e sentando ao meu lado.  Quando acabei a tinta joguei o pincel com força na mesinha.

- Isso que é arte! Bastante... Como posso dizer?  Selvagem! - ele disse e eu virei a cara para encará-lo, ele mostrou seu sorriso largo e eu respirei fundo para não perder a paciência e meter um soco no nariz dele.  - O que foi? Qual o motivo de tanta fúria? 

Eu estava explodindo desde ontem,  sentia a raiva passear pelo meu corpo,  não sei por que mas acabei falando para o Nate.

- Meu pai!  - gritei.  Sempre fui à favor da felicidade dele mas como ele pôde agir daquela maneira ontem?  Rindo e todo romântico com a Lívia na casa da minha mãe,  aquele teatro é ela Nate,  é casa dela! Será que em nenhum milésimo de segundo ele pensou nela? - perguntei enfurecida, eu sentia meu rosto quente,  provavelmente eu estava vermelha de raiva. 

- Primeiro:  Vamos manter a calma,  você tá quase vencendo a Anne no papel desequilibrada do ano. E segundo: Tenho certeza que seu pai lembrou e lembra da sua mãe, principalmente quando olha pta você,  a pessoa que ele mais ama nessa vida. - disse ele passando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - Mas infelizmente Mels,  sua mãe se foi e ele tem o direito de ser feliz.  Assim como você também tem.

- Não vamos começar a falar sobre isso,  por favor.  O que aconteceu foi que me deu ódio vê-lo feliz com outra mulher no teatro da minha mãe, como se ela nunca estivesse existido.

- Isso chama- se ciúmes. 

- Cala a boca! - protestei,  pegando o pincel e melando seu braço.  Eu me sentia mais leve depois de ter falado com o Nate.  Ele pegou o pincel da minha mão e sorriu com malícia.

- Nem se atrev...

E antes de eu terminar ele já havia melado minha bochecha , fiquei parada o olhando embasbacada.

- Calma,  resolvo isso.  - argumentou ele, pegando um pano que Cora havia deixado na mesinha para eu secar os pincéis depois de usá - los  ( ordens do meu pai, pintor).  - Calmimha!  - pediu ele se aproximando com um pouco de receio, ele limpava suavemente meu rosto,  como se qualquer movimento fosse quebrá-lo, olhou dentro dos meus olhos,  me fazendo me perder naquele rio de águas verdes escuras,  isso causou uma pane no meu cérebro,  já não pensava em nada , só em como ele era lindo,  seus olhos esmeraldas,  seu cabelo rebelde,  sua boca rosada e carnuda,  até os fios da sua barba que teimavam em nascer.  Nate tirou o pano do meu rosto,  ainda olhando em meus olhos,  seu cheiro já estava me deixando desnorteada. Subitamente, Travis surgiu na minha mente,  pisquei rapidamente e fui invadida por um sentimento de culpa terrível.

- O que foi?  - perguntou ele,  ainda próximo de mim, eu empurrei levemente seu peitoral e ele se afastou ainda me olhando com curiosidade.

- Eu preciso descansar.

- Você tá passando mal? - perguntou ele tocando em meu braço,  eletrizando todo meu corpo com aquele simples toque.

- Só preciso descansar.  - eu disse apenas.

Cheguei no meu quarto com lágrimas correndo no meu rosto,  a culpa me consumia. Eu odiava sentir algo ao ver o sorriso largo do Nate,  ou por não conseguir ter noção do tempo quando nossos olhares se encontravam.  Eu odiava pensar tanto no Nate e ficar nervosa quando ele me encarava,  eu odiava também o desejo que eu sentia em vê-lo, em escutar sua voz aveludada,  odiava o fato dele sempre conseguir me acalmar dizendo as palavras certas, mas acima de tudo odiei me dwr conta que estava me apaixonando pelo Nate.  Chorei de ódio, culpa e medo. Desejei que ele sumisse,  afinal eu estava bem antes dele chegar.  Ele me bagunça,  tumultua tudo o que eu sinto e no meio dessa confusão está Travis. Meu grande amor.  Não,  eu não iria deixar o Nate acabar com tudo que eu sentia pelo Travis,  pois o meu amor por ele era imorredouro. Por que eu não precisava olhar ou tocar no Travis para amá - lo,  porque tudo o que eu via ao meu redor era Travis,  eu respirava a lembrança dele e pra mim isso sempre bastou.  Convenci a mim mesma que aquilo que sentia pelo Nate era efêmero,  iria se dissipar logo.

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