Eu estava me preparando pra ir embora, havia sido um longo dia, as crianças estavam agitadas, não paravam quietas um segundo para que eu pudesse respirar.
Enzo veio até mim e deixou seu desenho em cima da minha mesa, sorriu timidamente e foi embora. Peguei minha bolsa e minha pasta, vi o desenho dele e sorrir ao me ver ao seu lado.
Lembrei de Austin.
Meu coração diminuiu e senti uma vontade esmagadora de chorar. Eu sentia a falta daquele garotinho tagarela, isso era um fato pra mim. Um terrível fato. E o pior era que eu sabia que nunca mais o veria, porque agora eu não queria mais ver o Nate. Ou eu colocava essa vontade em mim.
Pedia a Deus pra odiá-lo com todas as minhas forças e que eu nunca mais o visse na minha frente. Entretanto pedia pra que Deus cuidasse dele, que nada vinhesse acontecer com ele. Às vezes eu era bombardeada de vontade de saber como ele estava, se ele estava bem. Saber da mãe dele ou saber se ele se sentia melhor em relação ao pai.
Às vezes só queria saber como foi o dia dele. Ficava imaginado ele em um consultório com aquela pose de médico escutando as pessoas falarem os seus problemas. Como não pensei nisso? Como fui tão idiota de não imaginar que ele era um psicólogo? Ele sempre tentando me tirar daquele quarto, cheio de "artifícios" que no final me trouxeram até aqui. Ele, com aquelas suas frases feitas. Como não imaginei que era uma terapia? E aquele olhar? Aquele sorriso? Ele pode tá dando esse sorriso agora mesmo pra outra paciente. Afinal, aquele sorriso é capaz de tirar qualque um de um abismo.
Eu queria acreditar que aquele sorriso era meu. Queria acreditar que aquele sorriso, aquele olhar só apareciam pra mim. Mas não era. Nunca foi e isso dói em mim, dói muito.
Fiquei ali guardando o desenho na minha pasta e tentando afastar mais uma vez ele da minha cabeça. Quando ouvi um estrondo vindo da sala de Chloe. Girei minha roda bruscamente e ao entrar na sala encontrei Verônica ajudando Chloe a se levantar.
- O que houve? - perguntei assustada.
- Nada. - respondeu Chloe irritada.
- Como assim nada? A senhora desmaiou de novo. Vou ligar pro seu filho agora mesmo! - disse Verônica apreensiva.
- Não faça isso! - gritou Chloe.
- Preciso fazer senhora, ele me pediu! Não dá mais! - disse Verônica saindo da sala.
- Verônica! - gritou Chloe batendo na mesa.
- Ela está certa. Seu filho precisa saber que você não está bem.
- Eu estou ótima. Meu filho tem muito mais com quê se preocupar do que com sua mãe velha.
- Chloe! Pare com isso! O que você tem? - perguntei me aproximando dela.
- Nada! Estou bem.
- Chloe... Eu sei que você não está bem. Você acha que eu não percebi?
- Não quero que ninguém se preocupe comigo. Principalmente o Will, ele já tem uma carreira pra cuidar.
- Eu acho que pra ele a mãe é muito mais importante do que qualquer carreira.
- Já liguei! - disse Verônica entrando na sala. - Ele pediu pra levá-la ao médico, ele vai pegar o primeiro vôo.
- O quê? - perguntou ela se levantando mas esfaleceu e caiu na poltrona.
- Chloe! - gritei e Verônica correu para ajudá-la.
- A senhora tá bem? - perguntou Verônica abanando ela. Ela balançou a cabeça mas parecia um pouco inconsciente. - Vamos pro médico agora mesmo!
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Alvorada
DiversosMelinda é uma jovem amargurada. Sofreu um grave acidente, no qual a fez perder os movimentos das pernas. E se não bastasse isso, neste acidente seu noivo acabou morrendo. Melinda é surpreendida com a chegada do filho do amigo de seu pai, Nate. N...