Alvorada

Capítulo VIII

Acordei de madrugada depois de ter tido um pesadelo com uma outra versão da noite do acidente.
Ao som de uma música animada, Travis cantava desafinado e eu ria, ele dizia que seríamos felizes e íamos ter filhos lindos, em um segundo recebemos a cortada de um carro e nossos sonhos desapareceram.

Não pude conter as lágrimas, eu me sentia tão sozinha, senti uma corrente de ar invadi meu quarto quando percebi que a janela estava aberta, de lá eu conseguia facilmente ver os lírios que o Nate havia plantado, eu odiava eles. Eles me diziam pra recomeçar. Mas como? Resolvi fechar aquela janela, tirei o cobertor e puxei a cadeira para perto da cama, fui puxando minhas pernas imóveis me rastejando e dei um impulso com meu tronco, me jogando na cadeira mas ela saiu do lugar e caí no chão. Droga! Senti uma dor imensa nas minhas costas, não conseguia me mover de modo algum. Esparramada no chão os lírios ainda estavam lá, me encarando. Era como se fosse o Nate me encarando.

- Eu não consigo! Não consigo recomeçar. - eu disse para eles chorando, encharcando o tapete. Depois de alguns minutos, eu já não tinha certeza do tempo, senti a dor diminuir, então me arrastei até a janela e a fechei. Um feixe de luz invadiu meu quarto e eu soube que estava amanhecendo. Eu acabei dormindo no chão, era horrível não puder simplesmente ir até a cama. Acordei subitamente com os gritos de Cora.

- O que aconteceu? Você está bem? - gritava ela tentando em vão me levantar.

- Sim, eu apenas caí.

- Apenas? Meu Deus!

- O que houve? - perguntou Nate invadindo meu quarto.

- A Melinda caiu.

- Eu ajudo. - disse ele.

- Não precisa. - eu disse bufando, ele fingiu que não me ouviu e me pegou no colo me colocando na cama. - Sente alguma dor?

- Virou médico também?

- MÉDICO! Eu vou chamar o Sr. Steve! - gritou bruscamente Cora saindo correndo.

- Como você caiu? - perguntou ele.

- Queria fechar a janela, seus lírios estavam me dando ânsia de vômito.

- Tenho certeza que não foi por causa disso, eles têm um cheiro bastante agradável. Será que você não ficou incomodada com outra coisa? - ele perguntou e eu virei a cara. Cora apareceu no quarto correndo até mim.

- Ele já está à caminho. Onde está doendo?

- Acho que onde dói o doutor não vai puder ajudar. Só a Melinda pode se curar.

- Se você saísse daqui eu ficaria muito grata. - eu disse fechando a cara e ele abriu a janela e disse:

- Acho que esse quarto precisa ficar mais arejado. - disse ele sorrindo e indo embora. Idiota cínico de uma figa!