A Escolhida, Parte 2 - Olhos Vermelhos

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Relembrar aquilo fez com que Augusta chorasse. Jamais descobriram o que causou aquilo a sua amiga, o caso foi arquivado, os pais de Bianca suicidaram-se meses depois e os pais de Augusta mudaram-se de bairro.

Os olhos vermelhos retornavam e ela suplicava a Deus naquela igreja vazia.

– Volte enquanto há tempo. Eu tive uma revelação horrível!

Augusta, que estava sentada num daqueles largos bancos de madeira comuns nas igrejas, arregalou os olhos assustada e viu ao seu lado direito o padre que provavelmente era o líder daquela instituição.

– Não faça! Não faça! — Ele suplicava —Vá embora! Volte pra casa!

Assustada, ela correu.

Era só voltar para aquela cidade que coisas estranhas aconteciam?

E porque agora estariam voltando todas aquelas lembranças reprimidas?

Cabeças de bode;
Sua amiga morta;
Olhos amarelos;
Homens e mulheres que muitas vezes lhe observavam e acenavam como se a conhecessem;
Pessoas que assumiam formas monstruosas;
O sonho da noite passada...

João fumava um cigarro e tomava uma cerveja sentado em frente a uma barraca, percebeu ela nervosa.

– Aconteceu alguma coisa? — Perguntou a sua amada.

– Nada, só não me sinto bem... — Ela respondeu.

Conhecendo João, ele iria ameaçar o padre, então decidiu não contar desta vez.
João entendeu, sabia das histórias, sabia como os pais de sua amada foram também extremamente rigorosos em sua educação religiosa.
Após tudo que ela passara...
Deveriam ter acolhido ao invés de colocar medo. Ao menos era o que ele achava.
(Talvez voltar para Recife não tenha sido uma boa ideia)
Augusta estava revivendo aquelas coisas, ele podia sentir.

Desmarcaram sua visita ao Alto da Sé e ao invés disso alugaram filmes, voltaram para casa e pediram comida chinesa.
O sonho não deixava sua cabeça, vinha em flashes o tempo inteiro, cada vez mais. Nunca havia tido um sonho tão real, tão grotesco, tão excitante...

Naquela noite, enquanto assistiam "O sol de cada manhã", fizeram sexo, mas Augusta só via o rosto do homem de seu sonho.
Gozou de verdade desta vez, com olhos bem fechados, lembrando-se do sonho.
Daqueles olhos cor de sangue.
João gozou logo em seguida, fazia tempo que não a via tão tarada.
Deitou-se de barriga para cima, ofegante.

– Se sente um pouco melhor? — Ele perguntou.

– Acredito que sim, meu bem.
Não queria falar de lembranças que a assombravam, ele já as conhecia, muito menos falaria do que a havia deixado tão louca na cama.

– Estou aqui por você, o.k? — Disse-lhe João e deu um beijo em sua testa — Eu amo você...

– Eu amo você — Ela respondeu, mas já não tinha tanta certeza sobre aquilo.

Tomaram um banho, voltaram o filme onde haviam parado, até que caíram no sono. Agora só restava o domingo, que combinaram aproveitar ao máximo, já que era o último dia da viagem.

Acordaram cedo, tomaram café da manhã numa padaria de esquina e dirigiram até a praia do Paraíso, no Cabo, onde ficaram até o início do fim de tarde.

Curtas Histórias Macabras Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora