A Maldição do Boto - Parte 4

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Tudo estava revirado!
As paredes da casa estavam arranhadas e sujas com restos de comida, parecia que um furacão havia passado ali, revirando literalmente tudo o que eu tinha.

Fechei a porta atrás de mim, fiquei em choque ao entrar e ainda mais ao andar pela casa, meu sofá revirado na sala, os lençóis nas camas rasgados, o guarda roupas revirado, minha geladeira pequena no chão da cozinha, meu fogão de lenha no chão...
Nada estava no lugar além da casa e as paredes, até as mesas estavam jogadas, vários pratos estavam quebrados, assim como copos, talheres que estavam pelo chão... Tudo!

O desespero me consumiu, abri o que havia restado da minha geladeira; nada dentro, tudo estava no chão e nas paredes.
Sentei-me no chão com as duas mãos na cabeça, desesperado.
Porque tudo aquilo estava acontecendo comigo?
No fundo eu começava a acreditar...

Após alguns minutos que poderiam muito bem ter sido horas, decidi levantar e ir olhar o quintal. Estava tão pior quanto a parte de dentro.
Quis chorar.

Algo no chão gramado me chamou atenção; a garrafa de cachaça que Lenita comprara no dia anterior, corri até ela e vi que o gargalo estava quebrado, mas ainda havia conteúdo no recipiente. Apanhei a garrafa, olhei bem para ver se não havia vidro dentro e virei os quatro dedos de cana que ali continham de uma vez só.

Havia vomitado horas mais cedo e ainda não tinha comido nada, mas aquela dose pareceu a solução momentânea que eu precisava para todos os meus problemas.

Deitei-me no chão e pela primeira vez em muitos anos, chorei.
Se bêbado estava ruim, pior seria se estivesse sóbrio.
Não sei quanto tempo passou, meu relógio de parede havia sido destruído e o de pulso estava na casa de Lenita.
Nesse momento eu não tinha vontade ou força suficientes para me levantar.

Ouvi a porta abrir e fechar, enxuguei o rosto e levantei-me num pulo, uma péssima idéia. Minha pressão caiu e tudo começou a rodar até ficar escuro.
Caí de joelhos, vomitando.

– Joaquim?! Joaquim?! Que porra aconteceu aqui?! — Era a voz de Bruno.

Ele me encontrou de quatro como um cachorro, antes que eu tivesse retomado as forças para me levantar.

– Irmão?! O que aconteceu aqui?! — Ele vinha perguntando.
Correu até mim e abaixou-se, colocando meu braço direito em seu ombro e passando seu outro braço por debaixo do meu braço esquerdo.

– Deixa eu te ajudar... — Ele disse fazendo força pra me levantar.

Levantar foi difícil e me manter de pé mais ainda, confiei-me nos ombros de meu irmão jogando quase todo meu peso sobre ele.

– Eu não sei, foi aquele desgraçado...

– Quem? Quem fez isso? — Ele perguntou ansioso.

– O Bô...

– Joaquim?! Meu amor?! — Ouvi a porta abrir, era Raquel.
Logo ouvi seus passos em minha direção, eu já tinha sido carregado do quintal até a cozinha.

Ela me viu apoiado em Bruno, a casa estava uma bagunça e meus planos de não contá-la agora foram por água abaixo.
Raquel largou no chão sua bolsa e sacolas e correu até mim, abracei-a e chorei em seus braços como nunca havia chorado antes.
Bruno retirou-se para a sala.

Passado algum tempo, chamei-o e contamos para Raquel tudo o que havia acontecido até agora.
Tive medo que ela achasse que estávamos loucos, mas a primeira coisa que ela disse foi:

– Voltaremos até Gorete. Acredito em você, e estou aqui por você.

Eu não sabia dizer se ela só estava falando o que eu queria ouvir, mas aquilo fez com que eu sentisse um pouco de esperança.

Curtas Histórias Macabras Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora