A Estrela Cadente

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Para uma experiência completa —se quiser, claro — ouvir a música anexada acima, nas imagens do conto...
Levei algumas semanas para escrevê-lo entre 2018 e 2019 e a todo momento, sempre que parava para criar, escutava essa obra.
Acredito que é tão parte do conceito quanto a própria história.
Não esqueçam de comentar e avaliar, é muito importante para mim, sei que você sabe disso.

Sem mais delongas, vamos lá:

"E vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi lhe dada a chave do poço do abismo."
Apocalipse 9:1

I

Uma madrugada de Dezembro.

Fora da órbita terrestre viaja uma nave tão pequena quanto uma bola de basquete, e de fato assemelha-se a uma, sua estrutura é coberta por placas de metal, assim como as aeronaves terrestres. Metal este, que caso fosse encontrado, examinado e estudado pelo maior dos cientistas, seria dado como desconhecido em nossa órbita terrestre.

No canto inferior de sua parte traseira, há uma enorme turbina de onde se jorra fogo, fazendo-a viajar em uma super velocidade.
Há muito estava viajando, procurando...

A nave adentra a exosfera.

Júlia abre o portão de sua casa para um passeio noturno com Hércules, seu Pastor Alemão capa preta de quatro anos de idade, seus pêlos são negros como a noite e seus olhos castanho-dourados quase parecem acesos quando na escuridão.

Ela sai pelo portão e fecha-o, seguindo à esquerda e entra novamente à esquerda numa rua de areia.

Júlia tem vinte e um anos e acabou de ingressar na universidade federal de Pernambuco, cursando Letras.
Havia começado um romance aos 19, o qual ainda não tinha nomeado.
Sentia-se presa ao mesmo, havia algum tempo que não conseguia escrever.
As caminhadas noturnas abrandavam sua ansiedade e ajudavam com o bloqueio criativo.

II

A nave adentra a termosfera, envolta em chamas pela velocidade.

A rua é de areia, com duzentos metros de distância por um e trinta e largura, provavelmente havia vinte, mas ambos os lados estavam cobertos por uma vegetação que cobria todo o resto da rua, transformando-a em uma espécie de trilha.

Uma vegetação mista segue até o final da rua, aumentando gradativamente até ultrapassar os dois metros de altura.
Já haviam percorrido boa parte do caminho, o matagal ultrapassava um pouco a altura dos joelhos de Júlia e Hércules comia um pouco de grama, parecia gostar daquilo.

(Dizem que fazem isso quando estão com dor de barriga)

Retomou-se a caminhada, Júlia começava a sentir-se desconfortável, estar rodeada por todo aquele mato trouxe algo à tona.
Primeiro veio em fragmentos, e depois, por completo.

Havia tido um pesadelo na noite passada do qual havia esquecido, mas agora estava tão claro quanto um filme em sua memória:

Estavam naquela mesma rua, ela e Hércules, passeavam naquelas mediações onde o matagal estava alto, quando, alguns metros à sua frente algo passou correndo e entrou no meio da vegetação. Parecia um humano. Júlia pensou
ter visto uma cabeça, mas era impossível ter certeza, pois tudo estava escuro e no céu não havia estrelas, nem mesmo uma lua.
Hércules se desvencilhou facilmente de suas mãos e correu naquela direção, entrando no matagal.

(E se for alguém?)
(Porque entraria ali?)

O medo começou a invadir o seu corpo, paralisando-a por um tempo, até o uivar de Hércules irromper naquele lugar.
Apesar do medo, ela foi em direção ao som enquanto tentava afastar os pensamentos.

Curtas Histórias Macabras Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora