A Escolhida, Parte 3 - Início

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1970:

Dona Magda era mãe de apenas uma filha: Tereza, que futuramente seria mãe de Augusta. Seu marido Afonso, pai de Teresa, havia falecido há alguns dias, infarto fulminante. Inesperado. Deixou para sua mulher e filha uma boa quantia em dinheiro.
Afonso era pediatra e Dona Magda, agora aposentada, outrora professora de Geografia.

Alguns meses se passaram desde a morte de Afonso até Magda tomar coragem para encarar um lugar que mantinha intacto: O consultório de seu marido, situado num cômodo interno, que um dia foi uma suíte naquela casa.
Magda descobriu algo fascinante.

Encaixotou livros, cadernos, antigos registros de pacientes, atestados médicos, papéis, acessórios, fotografias...
O piso do consultório, assim como o da casa era de madeira e no canto direito do cômodo havia uma enorme estante de mogno que continha uma diversa quantidade de frascos com líquidos de todas as cores.
Magda supôs que fossem remédios.
Ali era o lugar sagrado de Afonso, ele costumava passar horas a fio naquele lugar, poucas eram as vezes que Magda entrava ali.

Removeu o que não queria e separou em caixas do lado de fora da sala, do lado esquerdo do consultório deixou encaixotadas as coisas que manteria.
Só faltava agora um item: O enorme tapete de pêlos que ficava no centro do cômodo.
Ela o removeu, quando notou algo no chão:
Um alçapão metálico.

Magda caminhou até ele e abriu-o.
Lá dentro encontrou diversos livros e diários, a maioria escrita por Afonso.
Foi naquele momento que Magda teve seu primeiro contato com as artes ocultas.

1973:

Tereza já não morava naquela casa, havia casado com Carlos, marceneiro e  futuro pai de Augusta.
As coisas prosperavam para ela, para ambas, porém Magda vivia cada vez mais reclusa em sua casa. Após a morte de Afonso as pessoas já não eram tão interessantes. Só uma coisa a interessava.

1975:

Magda dedicou-se inteiramente à magia, aquilo ajudou-a a lidar com sua dor, a entender o universo e a si mesma de forma diferente, a ser alguém melhor e a ter fé novamente.
Desde então, os deuses haviam favorecido-a em saúde, mas seu desejo de conhecer o mundo e novas pessoas desaparecera por completo, sua filha a visitava às vezes, mas tudo era diferente agora.
As únicas saídas de Magda eram para comprar livros, artigos de necessidade e praticar magia.

Certa noite de Setembro, ela recebeu uma carta de Tereza anunciando sua gravidez, aquilo aqueceu-lhe o coração. Assim que voltassem de viagem, pegaria um táxi e visitaria a filha.

1976:

Os meses se passaram, o nascimento de Augusta estava programado para dentro de três dias, 9 de junho. Tereza foi passar alguns dias com a mãe enquanto Carlos terminava de reformar a casa e o quarto de Augusta, que estava por vir.

Magda acordou-se com gritos vindos do quarto de sua filha, correu até lá abrindo a porta e vendo sua Tereza.
Seus lábios estavam embranquecidos, ela chorava e sua cama estava coberta de sangue, a primeira atitude de Magda foi correr até ela, para tentar acalmá-la.

O sangramento havia estancado, mas a bolsa havia estourado, fazendo com que Augusta entrasse em trabalho de parto.
Não havia tempo de ir ao Hospital, Magda sabia, sabia que se não ajudasse sua filha ali, provavelmente não haveria tempo.
Tereza gritava e chorava, e quando começava a perder suas forças, Augusta nasceu.

Curtas Histórias Macabras Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora