Quando vieram nos avisar que Bruno havia entrado enraivecido no rio, já era tarde demais. Corremos eu, Raquel e Lenita às margens do rio, mas não havia sinal de Bruno ou do barco.
Culpo-me por isso até hoje, se eu tivesse permitido que ele voltasse para casa comigo...
O sol começava a se pôr, e nós corríamos de um lado ao outro pelas margens do rio chamando por Bruno, jamais obtivemos respostas.
Lenita estava desesperada, chorou, gritou e quando não conseguia correr mais, eu e Raquel fomos até ela.– Precisamos voltar pra casa, Lenita. — Disse Raquel — Nenhum de nós está seguro aqui, principalmente o seu irmão.
– Podem ir sem mim. — Respondeu soluçando— Daqui eu só saio com Bruno.
Raquel tentou intervir, mas eu a impedi, só eu — com muita sorte — poderia conseguir tirá-la dali.
– Lenita. — Falei ajoelhando-me ao seu lado, descansando a mão sob seu ombro — Eu preciso de você agora, estamos correndo perigo aqui e eu não posso me dar o luxo de perder mais alguém, principalmente você.
A noite caiu, eu não posso perder você.Tentei levantá-la, o que se mostrou uma péssima idéia.
– Que ele me leve então! — Ela gritou afastando-se de mim — Eu não me importo! Vá embora se quiser, eu só saio daqui com o meu irmão!
– Ele é meu irmão também, e você sabe disso melhor do que ninguém, assim como você é minha irmã e eu sou seu. Se você não for embora comigo eu também não vou, ficaremos todos aqui até que algo aconteça, mas ele não vai voltar, Lenita. Esse monstro não está de brincadeira e a culpa é inteiramente minha. Então se é isso que você quer — Falei sentando-me ao lado dela — assim será.
Lenita caiu no choro, abraçando-me, Raquel abraçou nós dois.
– Me desculpe, me desculpe, me desculpe... — Dizia Lenita aos soluços.
– Você não tem nada pelo que se desculpar — respondi — a culpa é inteiramente minha.
– Precisamos ir. — Disse Raquel — Está cada vez mais escuro e estamos longe de casa.
Ajudamos Lenita a se levantar, mas ela caiu debatendo-se no chão, até que abriu os olhos, proferindo uma maldição contra minha vida, sua voz estava gutural como a de um porco selvagem.
– Você não me escapa, seu desgraçado! — Ela gritava contorcendo-se no chão como um animal em agonia — Assim como levastes o que é meu, levarei o que é teu nem que seja a última coisa que eu faça!
Lenita despertou-se do transe, gritando, e dentro de alguns segundos, desmaiou novamente.
Eu e Raquel a levamos para casa dividindo o peso em nossos ombros.
– A gente precisa ir embora daqui pra ontem. — Falei — Ou todos nós iremos morrer.
Chegamos na casa de Lenita, onde ela dormiu por dois dias, preocupando-nos. Raquel e eu começamos a organizar as roupas dela em bolsas, partiríamos dali o mais rápido possível.
A noite passou, rápida como uma bala, assim como no dia seguinte, ouvíamos rádio ao lado de Lenita quando o som de batidas irrompeu na entrada. Raquel levantou-se para atender, mas pedi que ela ficasse e fui até a porta.
Era o pastor Hélio.– Bom dia, filho — Falou — Eu soube do que aconteceu com o seu irmão... Você está bem? Como está Lenita?
– Lenita está dormindo, estamos indo como a vida nos permite estar. — Respondi.
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Curtas Histórias Macabras Vol. 1
HorrorDo que você tem medo? Fantasmas? Demônios? Monstros? Da morte... Ou seria da loucura? Apresento Curtas Histórias Macabras, uma coletânea com sete contos de horror autorais para tirar-lhes o sono e arrepiar-lhes a espinha! São diferentes contos, co...