Corpo de Lama

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2009:

- É... Difícil a situação. — Biu ouviu de Carlos, um dos dois pescadores que haviam retornado de pesca e agora retiravam suas redes da canoa agora atracada na beira da maré.

– 3 dias que eu não pego um peixe! Desse jeito vou ter que mudar de profissão. — Continuou.

– E tu vai fazer o que, velho desse jeito?           — Responde o outro pescador.

Carlos sorri e continua:

– O problema tá nas água, muita poluição, lixo, merda... Ou os peixe morre ou vão embora. Semana passada mesmo, Juca disse que pegou um peixe danado de esquisito, disse até que o peixe tentou morder ele, mas pulou de volta pra água.

– Juca mente que só a gota, menino, mas tu tem razão... — Continuou o outro pescador.

Eles arrastam a canoa até a terra firme, deixando-a no lugar de costume. Ambos põem suas redes nas costas e vão caminhando.

– Vai ficar aí mesmo, Biu? — Pergunta Carlos virando-se no meio do caminho.

– Vai pegar mais nada hoje não. — Continua.

– Já tô aqui mesmo então vou esperar escurecer, se num pegar nada eu volto...           — Responde Biu.

– Tá certo... Olha! Amanhã eu e Marcelo vai pescar lá pro lado de Olinda, vamo com a gente? — Pergunta Carlos novamente.

– Vamo sim... Mesmo horário de sempre?  — Pergunta Biu.

– Umas seis, sete horas da manhã a gente se encontra no cais de Rita... — Responde Carlos.

– Perfeito. Amanhã a gente se vê então, boa noite pra vocês! — Diz Biu.

– Boa noite. — Responde Marcelo.

– Boa noite, até amanhã! — Diz Carlos.

Os dois caminham até sair da vista de Biu, que fica lá por mais uma hora.

– Desisto. Hoje tá foda mesmo. — Resmunga Biu puxando a rede da água.
Com o final do crepúsculo, a noite começava a se aproximar.

– Aí! — Gritou.

Uma dor aguda fez com que ele retirasse a mão instintivamente da água, havia marcas de dentes e sangrava.

Biu tenta procurar por algum sinal do animal que causou aquilo, sem sucesso.
Há muito e muito tempo não se enxergava naquelas águas turvas.

Biu chupa a ferida na intenção de estancar o sangramento, receoso de mergulhar as mãos na água e ser atacado novamente. O sangue continua a escorrer pela sua mão esquerda. Mesmo assim, ele retira a rede da água, põe em suas costas e sai andando.

A noite cai e Biu caminha pelo Cais Estelita sentido ao cais de Santa Rita.
Do outro lado da rua um jovem de mais ou menos 17 anos leva ao nariz uma garrafa com cola e discute com o vento:

– Que porra nenhuma, meu irmão, tas falando merda é?! É muita cola! É tanta cola que eu tô grudado! Eu tô grudadooooo! Hahahahaha.

Curtas Histórias Macabras Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora