Vinho às 16

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Foi quando ouvi as batidas na porta, durante aquela sórdida tarde de domingo, que soube quem vinha me visitar. A conformidade com que revogo o irrevogável do prazer comove meu turista. Ele, que se diz tão ávido pelo simples rumor de mistério, entrava em conflito consigo por ser tão extravagante.

Ele busca suspense e sempre encontra tragédia.

Das vezes que o vi desastrar em sacrilégios e sussurrar compaixão, era eu, o clímax.

Não compreendo como pode ele ser uma criatura tão jeitosa, se tropeça tanto em seus cadarços e agoniza frente aos ponteiros.

Há quanto tempo o tempo tem passado?

Aquela banqueta... Já é o amanhã.

Já é hoje.

Quer dizer... Isso foi ontem. Há muito tempo atrás, quando sua perfunctória foto da carteira de motorista vestia azul.

Ele deu suas voltas às suas asneiras, mas que lhe pareciam tão irresistíveis ao ponto de o sucumbir a deslizes poéticos.

Meu visitante não promete se ir logo.

Eu não pretendo me ir logo.

Meu espelho não se promete a se ir logo, porque meu reflexo tanto me julga como estranho.

Ofereço-o vinho?

Com amor, todo alguémOnde histórias criam vida. Descubra agora