Minha boca seca sussurra desesperadamente injúrias contra meu corpo magro; contra minha alma lúcida de óbito. Todo ar trespassado pelos lábios são ríspidos e me matam pouco a pouco, me tornando a causa e a consequência da ação. Me encontro ao som da ambulância: o que há com essa sirene?
"Pobre garota dos cabelos encaracolados; tão tão jovem", eles dizem. E eu, a flor da mocidade, me vejo triste por ainda haver resquícios de viver em meu ser. Por favor, enfermeira, não use este soro, não agora que me parece tão justa a morte.
E se algum dia prestarem condolências, não se esqueçam de como dancei em dezembro. Não se esqueçam de como amei.
Amar é a única coisa que me salva, mas ser amada, era a salvação por um todo. Minha alma se esvai na ausência de afeto mútuo e implora semblantes carinhosos de sala em sala. Se sentir amada... como deve ser bom, enfermeira. Chame o médico.
Em minha lápide, deixe claro o quanto sinto muito. Sinto muito ter de ir. Sinto muito ter de deixar esse corpo esguio e retraído. Sinto amar o azul.
Mas doutor, jamais se esqueça: eu sinto muito e... o que há demais nessa sirene?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, todo alguém
PoesíaUm livro com cartas declarativas sobre si mesmo para todo alguém, poesías inusitadas sobre sonhos e fantasias e textos em prosa variados. Todos de e para pessoas ficcionais - ou não. [Antologia Poética]