JUÍZO FINAL

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Ela estava em casa naquela noite tormentosa. Seu leito soava um tanto suburbano porque havia fumaça por todos os lados, mas não havia fogo. Não havia nada.

Sua mesa de cabeceira sussurrava o cárcere livre, de vidas resguardadas. E a jovem sentiu as roupas beijarem seu corpo. E a alma se sentiu despida diante de uma magistral vida pecaminosa. "Tudo é tão fácil. Por que as levei de ponta cabeça?".

Nunca fora de religiosidades, mas os gracejos angelicais eram aquilo que suas entranhas imploravam às duas da manhã. E cada vez mais a luz se piscava. Ou será que eram os cílios.

"Eu vou morrer" — mas não foi o que pensou, porque nada mais discorria por sua cabeça. Mas era o que sabia, mesmo sem formular, sem pensar, nem chorar. Era o que o filho sabe ao nascer, inda que nunca tivesse visto o mundo. E daquilo nada se sentia, porque apenas era.

A luz não piscou mais. E tudo que havia era penumbra. E a jovem não se mexia. E o frio não era mais gélido. E suas roupas negaram o beijo ao corpo. E sua alma não se sentiu despida. Porque tudo o que havia era matéria morta.

Com amor, todo alguémOnde histórias criam vida. Descubra agora