Eu continuo voltando à falta de mim. Não tenho, emano, sou desejada, de presença. Sou vácuo expeço em poeira estrelar, flutuando sempre à mesma direção e sem alternância de velocidade. Totalmente derramada em Urano, ainda que penso na Terra.
Uma pequena casa, longe de mim. Que tem meus apegos desapegados de mim. Estou num brechó, mesmo que em Netuno. Acho que ninguém daria dois reais numa peça tão sem graça assim. Combino com estes sapatos... hoje não fui a escolha de alguém.
Todas as tardes eles vêm me visitar; estou em plutão. Congruente a essa viagem, há confusão no vilarejo. Como eu queria ser buscada. Juro que estou chamando ao cabo Canaveral, mas Apollo 11 já se houve há muitos anos.
Quero arrancar meus sentidos; me tornar lixo espacial sem braços ou energia. Por favor, Houston, temos um problema... sou o problema.
Estou à borda da Via Láctea. Juro que vou pular. Houston... sou o problema. Não conte ao cabo Canaveral. Acho que finalmente vejo Andrômeda. Houston... Ainda sou o problema, 'inda que longe de casa.
Houston, não conte a ninguém. Vi marcianos já longe de casa. Sou viajante da Terra. Sou marciana.
Acho que no fim: sou estrela morta que ainda irradia brilho ao passado. Sou o que era. E enquanto houver distância: serei viajante.
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Com amor, todo alguém
PoesíaUm livro com cartas declarativas sobre si mesmo para todo alguém, poesías inusitadas sobre sonhos e fantasias e textos em prosa variados. Todos de e para pessoas ficcionais - ou não. [Antologia Poética]
