Assentei-me em todos os bancos deste templo
Buscando ver o Divino em cada pedaço de matéria.
Andei em círculos por este altar de concreto
Até que fizesse buracos no chão.
Quis comprar indulgências
sem que tivesse moedas,
e depois de tudo notei
que dinheiro e justiça
jamais comprariam todo o perdão
que cobrisse minhas transgressões.Nenhuma confissão limparia minha alma
de minha mente má
E qualquer preço que comprasse
por um título de nobreza
não apagaria a memória
dos cidadãos de meu vilarejo.Farta de uma fé material
que não tapou os vãos de minha
Existência frívola,
Jogo-me ao chão do templo,
aquele pátio frio,
no silêncio vazio
depois da celebração.
Escuro.
eu, o dia, a tarde e o templo.
Levanto os olhos
(com seus vãos nas pupilas)
(matéria viva, matéria, igualmente, morta)
Levanto meus olhos
Para os vitrais das janelas
Cacos partidos
Como os fragmentos de mim,
largados ao chão da igreja.
Vários pedacinhos coloridos,
desenhos despretensiosos,
Cacos um dia sem sentido,
inúteis pedaços de vidro colorido
aleatórios, cindidos e partidos,
agora todos reunidos,
colados intencionalmente
entre vãos enormes de concreto,
contando histórias cheias
de virtude, nobreza e honra.
E pelos vitrais coloridos entra luz.
Cálida, cintilante, incandescente luz.
E quando os pequenos raios de sol
tocam meu corpo quase morto,
Atravessam os pequenos vitrais coloridos
e alcançam minha pele,
parecendo ultrapassá-la em toda sua matéria.No templo da Igreja,
pequenos vitrais coloridos
deixam passar a luz do sol.
Pelos vãos do meu corpo,
sou como um vitral
Embora partida e aleatória,
Sou refeita
em novos desenhos,
gloriosos.Quando abro os olhos
depois de cerrar o cenho,
todos os vãos de meu ser
deixam passar luz.
E sei, transpassada de luz
Que cada ruptura em mim
faz parte de uma obra
além de mim,
sob a qual não possuo
autoria, nem nome, nem ação.
Sou como o vidro
colado pelo Artesão.E eu, cheia de vãos por onde passa luz,
me sinto subitamente
luzidia e lúcida.
Contemplo
em tudo onde a luz toca
a face de Deus.
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Eternidade Intrínseca
PoetryA Eternidade mora dentro de cada um de nós e é parte da nossa essência mais íntima. Ela nos move em silêncio. De repente, da maneira mais sutil, revela-se: Num olhar, num gesto, numa atitude ou em forma de palavras. Se perceberes a Eternidade sussur...