Mesmice Cirandada

20 1 0
                                    

Mesmice Cirandada

Leio textos velhos e já não soam como eu.
Alguma outra pessoa, que conheço muito bem, os escreveu.
Leio impávida, como quem não se surpreende com o prosear.
Palavras velhas, significados que estou farta de recordar.

Rotas velhas já não servem
Para os destinos que preciso chegar.
São novos lugares, novos planos, novos ares.
Eu tenho que amadurecer outra vez,
Incorporar-me ao agora com mais fluidez.

Contudo, o mundo ao meu redor parece tão igual
O hoje, o ontem e o amanhã.
A rotina, o barulho da van, o sabor da maçã
Até o novo me parece tão normal.
A rua, as vozes conflitando-se,
As pessoas, os sentimentos acumulando-se,
O trabalho, as obrigações amontoando-se,
A casa, a faxina protelando-se.

Os meus e se e enfins
já me soam tão iguais
O meu riso, o meu choro,
Meus medos e minha paz.

O relógio, a escala, o piso, a escada,
A janela, a cortina, a panela, a rotina
Imagens tão coladas, feito fotografias velhas,
Álbuns descascando a tinta na retina.

Cada coisa e toda coisa,
Qualquer coisa e coisa nenhuma,
Já é tudo a mesma coisa:
Nada é tudo, tudo é nada, em suma.

E eu vou indo. Sentindo,
Construindo e reconstruindo.
E vendo, sendo, aprendendo.
Apesar de tudo, e também por tudo, amadurecendo.

Resumindo, o mundo é mundo
Antes de eu ser qualquer ser que seja
Talvez ele não mude, mas eu mudo.
Enquanto o tempo me despeja...

O mundo, espesso,
E suas tantas voltas,
Eu giro tonta e estremeço,
Mas jamais esmoreço.

Se a vida é ciranda
E roda sem parar,
Eu, menina que dança,
Vou também aprender a girar.

Eternidade IntrínsecaOnde histórias criam vida. Descubra agora