Tempestade Invertida

110 41 9
                                    

04/06/1952

  O evento que estou prestes a relatar eu guardei comigo durante muitos anos, com medo de como as pessoas reagiriam. Mas de todo modo, tudo aconteceu em uma noite de 1945. Meus pais haviam saído para jantar e comemorar suas bodas, e pela primeira vez em toda minha vida confiaram em mim para tomar contar da casa. Na mente deles, uma jovem na idade de casar não deveria ficar sozinha em casa a noite, ainda mais com minha irmã pequena. No entanto, a falta de alguém para cuidar de nós os levaram a me deixar no controle da situação.

  Com a saída dos dois, fiz o que toda garota faria no meu lugar. Me lancei contra o telefone e disquei para minha amiga Jusine. Ela era uma garota bem animada e as vezes um tanto rebelde, sempre que podíamos, fugíamos dos bailes apenas para conversar e passear pela cidade.

  Naquela noite, nós conversamos durante muito tempo, até que repentinamente uma tempestade se iniciou. Os trovões pareciam bombas, e o brilho dos relâmpagos parecia cada vez mais próximo. A pequena Alice veio correndo para o meu colo, assustada com os barulhos, mas nada naquilo me assustava... Pelo menos não até certas coisas acontecerem.

  Durante todo o momento, mantive Jusine na linha e ela me contava que também chovia em sua casa, apesar de não tão forte, e tentava acalmar Alice com suas piadas. Minha irmã me apertou forte quando ouvimos um barulho vindo da janela, e de mãos dadas fomos averiguar o que havia ocorrido.

  O céu, ele parecia cada vez mais vermelho. Mas já era noite. Alice me beliscou tremendo de medo e me apontou algo que não pude evitar de gritar...

  Do lado de fora da casa, havia alguma coisa saindo da terra, como se fosse um defunto retornando a vida diante de meus olhos. Então, outros começaram a surgir, levantando-se da terra molhada e com o corpo disforme. Formas negras e retorcidas, com um brilho pulsante nos olhos. Aquelas coisas não eram humanas....

  Tudo o que me importava era nos protegermos. Peguei Alice no colo e nos escondemos na dispensa, mesmo que não fosse tão seguro, puxei o fio do telefone até lá e expliquei as coisas pra Jusine. Minha amiga tinha a voz diferente agora, como se algo também houvesse lhe acontecido, mas dizia que estava tudo bem.

  Nós ficamos escondidas durante toda a noite, abraçada a minha pequena irmã e conversando com minha amiga.

  E ainda me lembro, que foi depois do trovão que a voz de Jusine desapareceu da linha. Eu chamava por seu nome, mas tudo que podíamos ouvir eram barulhos e grunhidos estranhos, até que um grande rugido veio do telefone e eu desliguei.

  Quando nossos pais voltaram, estava tudo como antes, e ninguém havia visto nada de anormal naquela noite. Entretanto, eu nunca mais vi Jusine e até hoje minha irmã tem pavor de tempestades. Talvez ela já não esteja mais viva, mas se vocês são capazes disso, espero que um dia me tragam a verdade do que ocorre naquela noite.

Natasha Huzisnk

Relatos MalditosOnde histórias criam vida. Descubra agora