A Criança de Tinta

90 33 21
                                    


30/09/2007

   Eu tinha uma vida comum de estudante, tudo se resumia a estudar e me divertir com meus amigos. Não havia do que reclamar. Mas estes dias se foram, em breve, minha vida será ceifada. Por que vós escrevo? Um amigo me contou sobre vocês, se intitulam Irmandade Carmesim, não é? Pessoas como vocês poderiam me ajudar... Não, vocês não são disso certo? Vocês caçam feras. As cortam ao meio. Meu tempo é curto, de todo modo, mesmo que pudessem não há como me salvarem. No entanto, talvez minha história os ajude a resolver este "caso".

  Tudo teve início em uma tarde, quando fui ao banheiro de minha escola. Devido a minha infeliz vaidade, me deparei com uma estranha figura no espelho.

  Era uma criança. Não consigo definir seu gênero, mas, sua pele era pintada. Pinturas negras em formas estranhas, como galhos de árvore seca.

  Como qualquer pessoa em tal situação, queria sair dali. Tentava com todas as minhas forças, mas nada era o suficiente para me mover de lá. Meu corpo estava imóvel, e a criança sorria.

  Aquele monstro riu de meus esforços inúteis, como uma aranha se deliciando com a presa em sua teia ardilosa... Foi então que ela saiu do espelho, parecendo um portal para outra dimensão. A criança segurou meu rosto e voltou a me olhar no olhos.

  Sua beleza era inegável, como um pequeno anjo, mas o medo que me transmitia corroeu até minha última fagulha de admiração. Eu fechei meus olhos e o monstro segurou minha mão, me agraciando com um beijo maldito.

  Quando meus olhos se abriram, não havia mais nada lá. Apenas uma mancha negra em minha mão esquerda.

  Vocês já devem saber onde isso vai dar. O presente da criatura era uma maldição, a qual ceifa minha vida aos poucos desde o dia do ocorrido.

  Alguns tentariam buscar ajuda, mas eu sei que não tem mais volta. Fui a azarada escolhida para esta infelicidade terrível... Tudo que me resta agora é escrever esta carta, enquanto ainda há tempo.

  A mancha negra, ela se espalha. Crescendo cada vez mais. Eu já não tenho mais minha mão esquerda. Ela... Derreteu. Vocês imaginam a agonia de ter seu membro se desmanchando em tinta? Seus ossos, sua carne, seus órgãos... Tudo se tornando uma massa viscosa de sangue e tinta negra.

  Eu não aguento mais chorar e meu braço direito dói. Este é o meu fim.

Luanna Lampenague

Relatos MalditosOnde histórias criam vida. Descubra agora