Auréola Negra

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29/07/2017

  Por que? Por que vocês não vieram?! Vocês poderiam ter impedido tudo isso... Poderiam ter nos salvado deste maldito inferno. Eu sei que é real, vocês são reais, assim como este demônio desgraçado.

  Não devem estar entendendo, não é? Pois voltarei a narrar para vossas majestades o meu sofrimento contínuo.

  Com todo aquele processo idiota, eu e Nathalia nos tornamos mais próximos, confidentes de um caso paranormal. Somente ela acreditava em mim, e com isso eu me afastei de toda minha família. O Juiz me sentenciou inocente, por falta de provas e graças aos testemunho de nossos amigos da boate e com isso pude respirar um pouco mais tranquilo.

  Nós não íamos mais a festas ou saíamos pra curtir como antes, e desenvolvemos uma certa fobia de escuridão. Os meses passaram, e pouco a pouco encontramos um afeto maior um pelo outro. Nossa vida parecia estar em fim se reconstruindo, quando um estranho evento voltou a acontecer.

  Eu estava na casa de Nathalia, e já passava da meia-noite. Nós estávamos vendo um filme juntos na sala, trocando beijos como um casal de adolescentes. Foi neste momento que minha namorada arregalou os olhos e se afastou de mim, pensei ter feito algo de errado, mas ela não parecia olhar para mim. Ao seguir seus olhares, vi uma silhueta na porta. A porta era de vidro, e havia uma sombra uma lá, um ser encapuzado com uma foice nas mãos. E em sua cabeça, uma auréola negra flutuava.

"É... Ele" Gaguejava Nathalia com o rosto pálido e o corpo tremendo descontroladamente. Aquele ser maldito que matou meu irmão e desgraçou nossas vidas, estava à nossa porta como se nos fazendo uma pequena visita.

  Eu levantei em fúria, cansado de ter medo, cansado de ser atazanado. Eu queria vingança, queria matar aquela coisa com as minhas mãos. Nathalia tentou me segurar, dizendo para fugirmos. As luzes então começaram a piscar, como se estivessem possuídas, e uma a uma se apagou tudo naquela região.

  Quando voltamos a fitar a criatura, sua auréola brilhava como o sol e sua foice reluzia o vermelho sangue. A porta então se estilhaçou em mil pedaços e o anjo entrou. Ainda consumido pelo ódio, eu me joguei contra ele e tentei socá-lo, e como se pudesse ver o futuro, o ser das trevas apenas segurou meu punho e me estocou as costas com o cabo da foice. Uma força descomunal, que me tirou o ar e me fez sentir o gosto metálico de sangue.

  Meu corpo se tornou quase imóvel, sentindo uma dor me pressionar contra o chão. Aquele era o meu fim, morto por minha raiva ignorante e após conhecer o amor de Nathalia. Mas, diferente do esperado, o anjo da morte me deixou para trás e seguiu. Foi neste momento que percebi, ele caçava apenas um de cada vez, como se esta fosse sua regra sinistra, como se nossas vidas fossem um jogo. E a caça não era eu...

  Mesmo com toda força que pude reunir, só fui capaz de me virar e ajoelhar, vendo Nathalia estática e chorando sem parar. Os olhos dela estavam em mim, como se não temesse a morte, apenas me perder deste mundo. Aquilo me nutriu o dobro de ódio, e tudo de ruim que poderia existir dentro de mim. Estava pouco me fodendo se era um monstro, um anjo ou o próprio diabo! Eu só queria salvar minha mulher deste trágico fim.

  Quando a criatura ergueu sua foice para ceifá-la, eu usei o último resquício de movimento em meu corpo para me jogar contra o anjo. Nós gritamos por nossos nomes entre lágrimas e desespero. E com um único golpe, que eu se quer pude enxergar, o ser encapuzado me desmaiou.

  Eu não sei quanto tempo se passou. Mas quando despertei, só encontrei o corpo de Nathalia sobre uma poça de sangue em uma casa iluminada...

  Por que vocês não vieram...?

  Vocês matam essas coisas, não é? São caçadores. A lenda de vocês não é mentira, não pode ser mentira...

  Eu vou ser o próximo... E nada mais faz sentido...

  Eu perdi meu irmão e a mulher que amo...

  Tudo que me resta é esperar pelo anjo vir me ceifar....

Gray Petterson

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