Jack Horse

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  Apenas me lembro de acordar, com o som de algo a polir e o fogo a crepitar. Passos vieram até mim, o som aumentava aos poucos, mas não era o som de sapatos, pareciam... Cascos. Tive medo de abrir os olhos, um cheiro pútrido invadiu minhas narinas e gritos reverberaram por meu corpo. Senti algo se aproximar, fazendo meu rosto queimar, e uma voz então surgiu.

"Eu sei que você está acordado"

  Meus olhos abriram de imediato e a grotesca figura em minha frente quase me fez desmaiar, aquilo só poderia ser a própria visão do inferno. Ele não tinha cabeça, seu pescoço era de cavalo e de suas vísceras se projetavam grandes chamas azuis. Sua indumentária era um terno formal, com luvas nas mãos, apesar da cintura para baixo ser de cavalo, certamente não era um centauro, era a figura retorcida de um cavalo.

  Olhei ao redor, desviando os olhos da monstruosidade, e percebi que estávamos em uma sala. Um local escuro, iluminado por velas, e... haviam muitos corpos dilacerados pelo chão de madeira, aquilo me deu ânsia instantânea, vômito subiu até minha garganta, mas o verdadeiro impacto veio ao notar a garota ao meu lado.

  Assim como eu, ela estava amarrada contra uma tábua de madeira, com pano tapando sua boca. Eu não estava sozinho, apenas esta informação me trouxe alguma esperança, a qual fora quebrada ao ver os olhos da garota. Apenas desespero pulsava em sua íris...

"Você parece ter gostado de nossa convidada, este é seu dia de sorte!"

  A criatura foi até sua mesa sob a luz das velas, sobre ela haviam vários instrumentos asquerosos, e a natureza deles me encheu de medo novamente. Era objetos de tortura, o que significava que este seria o nosso destino em breve, fazer parte das brincadeiras doentias deste monstro.

  O ser meio cavalo retornou com um martelo em sua mão, e com toda delicadeza, posicionou um enorme prego na testa da moça ao meu lado. Tentei gritar, me debater fortemente contra as cordas que me prendiam, mas tudo era inútil, somente era capaz de ver o pranto da garota prestes a morrer diante de meus olhos.

"Hoje será o dia que iremos descobrir o que ela guarda aqui dentro!"

  Ele começou a martelar, de maneira uniforme, fazendo até mesmo os urros de dor soarem como uma sinfonia macabra. Lágrimas e sangue escorreram por sua face, e o vômito escorreu de minha boca, revirando cada órgão do meu sistema digestório. O prego, que rasgaram sua epiderme, perfurou seu crânio até chegar ao cérebro.

  Os olhos da jovem se fecharam enfim, não sabia se estava morta ou havia perdido a consciência devido a dor, mas o torturador não se importava. Uma martelada seguida de outra, a sinfonia não poderia ser interrompida.

"As pessoas lhe ensinam muitas coisas na vida, mas quantas delas você realmente comprovou? É isto que faço, desejo descobrir minhas próprias verdades, e como poderia desvendar o mundo sem conhecer nosso âmago?!"

  Minha cabeça girava, sem prestar muita atenção no que ele dizia, já não aguentava mais ver a cabeça desfigurada daquela moça. Pouco a pouco, tudo se tornava negro, e quando dei-me por mim já não estava naquele quarto dos horrores...

  Jamais descobri onde fui parar ou o que aconteceu, mas isto não impediu de meus pesadelos me atormentarem durante anos. Mas, o tempo não importa, não é? Somente vocês caçadores podem pegar essa criatura grotesca, e se assim o fizerem, me avisem para poder enfim dormir em paz.

James Riley

Relatos MalditosOnde histórias criam vida. Descubra agora