White Mask

40 19 4
                                    

09/10/2006

  Atrás de minha antiga escola havia um bosque, que apesar de comum se estendia para uma área pouco visitada pelo público, o tornando um berço para muitas histórias macabras e supostos ataques de animais selvagens. Foi a 3 anos atrás, quando eu e meus amigos ainda estávamos com 16 anos. Billy Hellyman havia roubado dois fardos de cerveja e nós nos reunimos atrás da escola, durante a noite, para festejarmos. Nós bebemos muito, e foi naquele momento que surgiu a ideia de adentrarmos o bosque. Tudo começou com uma brincadeira, já que Melanie era a mais medrosa do grupo, e após a pentelharmos demais a garota nos desafio a entrarmos no local e retornarmos se sentir medo. Julia ficou com Melanie esperando, enquanto eu, Billy, Rebecca, e Nathan resolvemos provar para ela que não havia nada demais no dito lugar lugar.

  Billy era o mais parrudo da equipe, e o mais bêbado naquela hora, então seguiu liderando com nós dois conversando atrás dele, eu e Rebecca Peterson. Depois de alguns minutos de caminhada, Rebecca começou a reclamar deste desafio tonto, que já era tarde e as duas iriam embora sem nós. Billy também se pôs a reclamar conforme sua última cerveja terminava. Eu pretendia concordar com eles, até que som de passos vieram da escuridão do bosque.

  Todos recuamos, até que a visão de um homem emergiu do meio das folhagens banhadas pela luz do luar, era alto e de corpo esguio, vestia um terno formal como o de um mordomo e em seu rosto pendia uma sorridente máscara branca. Seu caminhar era tranquilo e cessou com o nosso pífio encontro.

  Perguntas de "Quem é você?" e "O que faz aqui?" foram lançadas por nós, mas o homem apenas permaneceu parado, como se nos observasse de cima a baixo. Rebecca foi para trás de mim e Billy gritou "Deve ser algum maníaco pervertido! É melhor sair daqui antes que dê ruim pra você!". Todavia, a atenção do mascarado estava voltada para seus devaneios, sussurros estranhos que nada nos diziam.

"Minha Milady está me esperando, então não tenho tempo para brincar com eles, se bem que, talvez ela se alegre com um belo lanche no café da manhã. Sim... Estes aqui certamente dariam um belo assado"

  Nada podíamos entender por detrás daquelas palavras, mas um ar sinistro começou a nos rodear, fazendo-nos compreender que aquele homem não era um mero lunático. Era algo pior, algo vil. De suas costas, o mascarado retirou um afiado cutelo negro, uma arma aparentemente pesada demais para ele manejar, mas que empunhava com maestria. "Que merda é essa?!" exclamou Rebecca, e eu segurei sua mão com força. Nós corremos sem pestanejar, sabia que Billy não se amedrontaria então precisava tirar Rebecca dali o mais rápido possível e avisar as outras.

  Eu olhei para trás, e foi o suficiente para ver o homem derrubar meu amigo com um único movimento, agarrando sua cabeça e a levando ao chão com força. Não hesitei e pedi para Rebecca aumentar o passo. A cada pisar dos meus pés sobre a relva, sentia meu coração palpitar descontrolado junto ao suor frio na mão de Rebecca.

  Estávamos quase no fim, já vislumbrando o alívio da fuga, quando a figura mascara surgiu de nossos pés. O homem pareceu levantar-se de minha sombra, e rapidamente me golpeou em cheio. E rolei pela lama ao som dos gritos de minha amiga desesperada. O maldito sorridente foi contra Rebecca, arrastando com sua mão esquerda o corpo inerte de Billy pelo chão. Meu rosto doía, mas o pior era a tontura do soco somada as bebidas.

  Pela primeira vez na vida eu vi Rebecca Peterson chorar e aquilo me enfureceu, junto a imagem de meu grande amigo ser arrastado feito lixo. Enfurecido eu me lancei contra o homem e parei sua mão antes que tocasse na garota, que curiosamente se manteve parado, como se estivesse surpreso sobre algo.

  Ele olhava para mim, dentro de meus olhos, eu podia sentir, estava me estudando seja por fascinação ou mera curiosidade. Pequenas risadas puderam ser ouvidas por trás da máscara sorridente, enquanto Rebecca tentava nos separar e golpear o homem. Nada fazia efeito, imóvel feito uma rocha, o mascarado me declarou a seguinte frase:

"Que curioso, acreditava que vocês humanos prezavam mais por suas vidas... Mas estava disposto a morrer por esta criatura, não é mesmo?!"

  Obviamente, no calor do momento, eu tentei retrucá-lo e lhe esmurrar ainda que no fim fosse inútil, foi neste instante que algo puxou nossas pernas e nos lançou para longe brutalmente. Eu não vi bem o que era, mas havia uma estranha sombra envolvendo o corpo de Rebecca, que provavelmente fizera o mesmo comigo.

"Talvez, este ser seja para você o mesmo que minha doce Milady é para mim... Que fascinantes insetos vocês são. Assim sendo, me sentiria um pouco culpado de devorar um dos dois. Bem, creio que ficarei apenas com este aqui"

  Mesmo que soasse claro, para nós naquele momento, aquelas palavras eram indigeríveis mesmo que tentássemos absorver sua mensagem. E sacou novamente seu cutelo e diante de nossos olhos, o homem mascarado começou a fatiar grotescamente o corpo de Billy. Seus braços se dividiram em três, expondo sua pele roxa e seus ossos quebrados banhados em sangue. Depois, foi seu tronco, que separou para nós vosso estômago deixando uma visão nojenta de seus fluídos e vísceras escorrendo pelo gramado. E então, ele cortou seu rosto ao meio, deixando completamente aberta sua mandíbula, com a visão de suas narinas e arcada dentária ensanguentadas.

  A cada golpe do cutelo, mais alto nossos urros de horror retumbavam pelo bosque maldito, fazendo os pássaros voarem para longe daquela maldição sonora...

  Na manhã seguinte, eu e Rebecca acordamos no mesmo local em que havíamos desmaiado. Não lembrávamos direito do que teria acontecido no final, mas todas aquelas lembranças horríveis ainda estavam lá. No gramado, o sangue de nosso amigo não havia desaparecido, apenas seu corpo e a figura mascarada.

  Nos encontramos com nossas amigas na escola, as quais teriam virado a noite nos procurando e depois resolveram esperar na escola até o amanhecer. Apesar das broncas dos professores, todos estavam aflitos pelo ocorrido e uma equipe de policiais fora enviada até o local. Foi confirmado que o sangue era de Billy e uma grande busca foi realizada no bosque afim de encontrar o suposto cadáver, já considerando ter sido um homicídio.

  As aulas ficaram suspensas por meses e aquele incidente nunca deixou nossos pesadelos. Até hoje recebo telefonemas de Rebecca a noite, aflita sobre o que nós presenciamos e como se sentia terrível de termos dado corda para aquela brincadeira. Melanie também passou a me visitar bastante, ela se considerava culpada pela morte de Billy, que não deveria ter feito aquele desafio para nós, não importava o que disséssemos.

  A polícia nunca encontrou qualquer outro vestígio, e após um ano, as buscas e a investigação foram encerradas por falta de pistas sobre o ocorrido.

  O maldito que fez aquilo, eu não acho que seja humano. E se este for o caso, talvez somente vocês podem trazer descanso para a alma de Billy.

Loid Lotric


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Relatos MalditosOnde histórias criam vida. Descubra agora