Anjo do Inferno

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17/06/2016

  Eu não entendo bem como vocês funcionam, mas o texto a seguir deve ser levado a sério. Acredito que por receberem tantas cartas como esta, venham a desdenhar de meu relato, mas acreditem, aquilo que presenciei parece a própria imagem do apocalipse...

  Foi em uma saída com meu irmão e nossos amigos, nós havíamos saído de uma boate bem movimentada em nossa cidade. Diferente dos outros, eu não havia bebido, então concordei em ser o motorista da noite e dei carona a cada um dos bêbados do grupo. Era uma noite tranquila, pois se tratava de uma sexta a noite, tendo pouco tráfego e pessoas nas ruas. Nossos amigos foram deixados em seus destinos um a um, até sobrarmos eu, meu irmão John e nossa amiga Nathalia em nossa viagem noturna. Meu irmão já estava com sono, depois de tanto beber, e Nathalia apenas se queixava dele.

  Minha atenção estava exclusivamente na estrada, mesmo que ainda estivéssemos em uma área bem urbana e cheia de prédios. E foi na virada de uma esquina que notei as luzes se apagando, poste por poste. A escuridão engoliu as ruas da madrugada e nosso martírio teve início. Desesperado tentei ligar as luzes do carro, mas elas não pegavam de jeito nenhum. Nathalia ficou eufórica junto a mim, percebendo que não conseguia enxergar nada.

  Eu estava prestes a frear o carro, quando uma grande luz veio em nossa direção. Uma figura com panos negros cobrindo todo seu corpo, com uma brilhante auréola em sua cabeça, roubando para si toda luz que pudéssemos avistar. Na sua mão pendia uma foice, que reluzia um brilho vermelho de sangue.

  Com o coração quase saindo pela boca, virei o carro e perdi o controle. O veículo girou no ar e bateu forte contra o chão, arremessando o corpo de John contra minhas costas. Nosso mudou virou de ponta cabeça. Dor percorreu meu corpo. Sangue escorreu por meu rosto. E agonia corrompeu minha alma.

  Ainda em choque tentei me livrar do cinto de segurança e sair do carro, com grande dificuldade pois o automóvel estava de ponta cabeça. Quando pude voltar a respirar o ar frio da noite, percebi que ainda estávamos em uma sufocante escuridão. Com os gritos de Nathalia, pude me orientar e ajudá-la a sair daquela situação. Ela não havia se ferido tanto, mas estava muito assustada, sem querer soltar minha mão em meio aquele breu.

  John por outro lado não acordava, o que nos impossibilitava de conseguir tirá-lo do carro facilmente. Eu comecei a usar toda minha força e atenção nisto, realizando esta tarefa sem poder enxergar, ou assim eu tentei até ouvir as palavras de minha amiga... Nathalia começou a gritar "O brilho Gray! Ele voltou!" e "A morte veio nos buscar! Socorro Gray".

  Aquele medo voltou a me dominar, mas com um ímpeto de ajudar Nathalia eu sai do carro mais uma vez e pude ver novamente aquela auréola brilhante, como se fosse um anjo do inferno. Ele caminhava até nós, lentamente, com sua foice carmesim erguida.

  A emoção tomou conta de mim naquele momento, e tudo em que pensei foi fugir dali. Sem dizer muitas palavras, segurei a mão de Nathalia e começamos a correr. Ela gritava por John, para não o deixarmos para trás, no fim talvez ela fosse mais corajosa que eu.

  Eu apenas corri, contendo as lágrimas por meu irmão e segurando forte a mãe de Nathália para não gritar. Um som ensurdecedor veio de nossas costas, e ao olharmos para trás mais uma vez, vimos o carro explodindo em vários pedaços e o sangue de John ser derramado.

  Mas ele continuava lá, entre as chamas e os destroços, com sua foice e sua auréola angelical, apenas nos observando sumir no horizonte...

  Nós ficamos dias traumatizados com a perde de meu irmão, e ninguém nunca acreditou em nossa história. Meus pais chegaram a me culpar, dizendo que eu o matei em um acidente e não queria admitir, mesmo com as alegações de Nathalia sobre o evento.

  Essa... Coisa, poderia ter nos matado mas apenas ceifou meu irmão. Eu não entendo isto, não entendo este mundo maldito. Não me importo que as pessoas desacreditem de minhas palavras, só peço que vocês façam justiça e matem este demônio.

Gray Petterson

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