Invasora

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09/03/2002

  Era um dia como todos os outros, seguindo nossos horários e atividades escolares, como qualquer estudante faria. Até que uma verdadeira desgraça pairou em minha vida... Meu nome é Tamires Phalmorie, e eu preciso da ajuda de vocês. Eu não sei quanto tempo ainda tenho de vida, mas ainda quero acreditar que essa demônio não irá me matar tão cedo...

  Para que entendam, irei contar melhor o que me aconteceu. Já faz algum tempo que venho notado um comportamento estranho em minha melhor amiga, Lúcia. Ela sempre se portava como uma menina alegre e brincalhona, até meio atrevida as vezes. Ouso dizer que era meu sol, aquela que me motivava a estar lá todos os dias, alguém que admirava e me espelhava em ser um dia. No entanto, seu semblante já não era mais o mesmo. Não havia mais alegria em seu rosto, apenas uma melancolia, que perdurava não importa o quanto os dias passassem.

  Inicialmente, acreditei que ela estivesse passando por alguma situação difícil que não me contara, o que achava bem improvável já que éramos muito confidentes uma da outra. Com meus questionamentos, ela apenas respondia de forma vazia e pouco esclarecedora, me deixando numa situação complicada, sem saber como agir.

  Pensava em deixar ela quieta, afinal poderia se tratar de algo muito sério, o suficiente para nem mesmo eu poder saber. Entretanto, passei a perceber também que ela estava ficando cada vez mais pálida, me fazendo acreditar que talvez ela não estivesse comendo direito ou algo assim. Isso realmente era sério. Todavia, a família de Lúcia era sempre muito acolhedora e bem estabilizada financeiramente, então o que deveria de estar lhe fazendo tão mal?

  Minhas dúvidas enfim foram sanadas, da pior maneira que poderia imaginar.

  Combinei com minha amiga de nos encontrarmos após as aulas, e quando entrei em nossa sala, o local onde seria, ela me acertou algo na cabeça. Foi muito rápido, o suficiente para eu apenas ver seu rosto e um borrão vindo à mim.

  Quando minha consciência retornou, o sol já havia se posto e um choro estridente ecoava pelos corredores vazios da escola. Minha cabeça ainda doía, mas precisava me levantar, reconhecia muito bem aquela voz e precisava socorrê-la não importava o que fosse. Quando sai dá sala, pude avistar Lúcia encolhida contra uma parede do corredor, se debulhando em lágrimas. Eu tentei reconfortá-la, ignorando ter me acertado antes, tudo que importava para mim era trazê-la de volta, que tudo voltasse ao normal.

  Lúcia olhou pra mim, sua pele estava ainda mais pálida e suas veias salientes, e com uma expressão terrível me deixou suas últimas palavras.

"Me desculpa"

  Contrariando todas as leis da realidade, um braço surgiu do estômago de Lúcia, jorrando sangue por todo o chão de azulejo. Horrorizada e sem saber como agir, minha reação foi me afastar aos poucos, incrédula deste show de horrores. Um novo braço surgiu de dentro dela, e então uma cabeça, como se fosse algum tipo de parto. Era uma menina, cujo corpo era totalmente branco, como se a tivessem banhado em tinta. E ela... Rasgou o corpo de Lúcia.

  Carne e sangue espirraram, com órgãos ainda pulsando contra o chão e uma figura desfigurada de minha amiga estirada sem vida. A menina sorria, um sorriso mórbido e esquisito, uma boneca cuja felicidade fora costurada em sua face.

  Ela veio até mim, depois de projetar todo seu corpo branco, com passos bêbados e imprecisos. Sem me dar tempo a pensar, me coloquei a correr com tudo que tinha. Estava escuro demais, havia apagado todas as luzes e provavelmente trancaram as portas de saída por fora... Meus pensamentos seguiam o pior cenário possível, mas toda vez que as últimas palavras de Lúcia me alcançavam, eu abandonava toda a lógica deste mundo e apenas corria.

  Mas, era inútil. A criatura surgiu de um dos corredores, sem me dar chance de diminuir a velocidade de meu corpo. Ela sorriu e se jogou contra mim, nos levando ao solo frio da noite. Sua força era considerável e eu não conseguia escapar de seus braços.

  A menina, com seu corpo branco e a beleza de uma boneca, subitamente me beijou. Sua língua preencheu minha boca e balançou algo dentro de mim, me deixando sem forças para continuar a me debater contra sua investida. Era... Frio. Mas, quando fechei meus olhos, senti algo aquecer meu corpo. Um laço, uma conexão, uma alma.

  Vocês entendem agora? Eu preciso de sua ajuda... Este ser... Invadiu meu corpo, assim como fizera com Lúcia. E caso vocês não apareçam, saibam ao menos como foi meu fim...

  Eu não sei o que mais lhes dizer, tudo que queria era não ver minha amiga ter um fim tão maldito... Por favor, matem essa coisa dentro de mim...

Tamires Phalmorie

Relatos MalditosOnde histórias criam vida. Descubra agora