Capítulo 36 - Erguemos a cabeça

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Quando percebi, estávamos na sala da Casa Grande. Ouvi um suspiro e diante de nós, Quíron e Dioniso nos olhavam.

- Helena? – Quíron se aproximou e repousou a mão sobre a testa de meu marido.

- Quíron ele não tem muito tempo. – Olhei-o com meus olhos vermelhos de tanto chorar. – O que faremos...

Não consegui continuar. O centauro saiu correndo sem dar explicações. Olhei para Dioniso, que se limitou a encolher os ombros. Hermes havia se jogado em uma poltrona e coçava suavemente seus olhos. Preferi não olhar pela janela e ver o acampamento. Sentia algumas almas vagando, fogo queimando e destruição por todos os lados. Quíron não demorou muito e entrou na sala com uma luz dourada nas mãos. Ele parou diante de mim e olhou para Phoenix. E lá ele ficou apenas nos olhando. Quando menos esperava meu amado se foi. Não entendia o porquê de Quíron ter feito isso. Só então percebi que ele carregava o Velocino de Ouro. Percy, Annabeth e Tyson conquistaram-no anos atrás quando foram ao Mar de Monstros. Tínhamos de esperar a morte para usá-lo e reviver Phoenix. Quíron estendeu o Velocino sobre a ferida e esperou. Com um tranco Phoenix voltou. Respirava ofegante e tentava entender o que havia se passado.

- O que houve? – Ele perguntou, sentando-se lentamente no sofá.

- Nada meu amor. – Sorri e toquei sua bochecha. – Sente-se bem?

- Sim. – Ele sorriu e deu uma risada. – Agora me lembro. Fui acertado, não?

- Sim querido. – Respondi e afaguei seu descabelado cabelo loiro.

- Você se machucou?

- Não. Estou bem.

- Então me sinto melhor. Fui um bom escudo. – Rimos. Agradeci a Quíron e me despedi de Dioniso. Hermes nos levou para o Olimpo, onde todos estavam. Pedi ajuda a Apollo para que levássemos Phoenix até nosso quarto.

- Descanse. Nem se atreva a levantar, viu? – Sorri e ajeitei o travesseiro sob seus cabelos. Ajudei-o a tirar sua blusa e olhei o lugar onde seu ferimento havia se fechado sem cicatriz alguma.

- Ficarei com ele. – Disse Apollo enquanto me acompanhava até a porta. Olhei para seu sorriso fraco e agradeci.

Quando abri a porta, o salão dos deuses estava um tumulto só. Hades estava quieto em seu trono, assim como Poseidon. Hera discutia com Athena, que parecia defender Deméter e Hestia. Hécate brigava com Íris e Eros. Afrodite tentava apartar a briga entre Ares e Hefesto. Dioniso ignorava Hermes, que tentava conversar. Ártemis e Nike discutiam com Hipnus. Meu pai entrou do lado oposto da sala, repousando sua mão sob seu trono. Ele tinha uma aparência muito melhor. Só então percebi que todos estavam limpos e trocados, exceto por mim. Zeus olhou para mim, revirou os olhos e riu junto a mim.

- Seus tolos! – Berrou Afrodite, histérica como sempre.

- Como é? – Indagou minha mãe, olhando raivosa para Hera.

- Vou transformá-la em pó, garota. – Hécate apontava para Íris.

- CHEGA! – Eu e meu pai gritamos ao mesmo tempo. Era uma ordem acompanhada de um tremor e trovões. Faíscas saíam de nós dois. Todos se aquietaram e se sentaram. Fiquei de pé do lado oposto ao de Hera, também apoiada no trono de meu pai. Conversamos e decidimos celebrar nossa vitória. Pedi licença e supliquei para que Dioniso me levasse com ele até o acampamento.

Tristes cenas de uma batalha sangrenta. Muita destruição e fogo. Annabeth e Clarisse arrumavam os chalés destruídos; Tyson e Beckendorf recolhiam e arrumavam as armas; Silena, Juniper e os Stroll levavam os feridos até a enfermaria; Lee conversava com Quíron, que parecia muito abalado; Luke e alguns campistas separavam diversas mortalhas emboloradas para o ritual da queima dos corpos; Percy e Nico pareciam se consolar da tragédia que ali acontecera. Fui até a enfermaria e conversei com todos. Andei até o pavilhão e observei os corpos. Fiz flores crescerem ao redor deles e comecei uma fogueira baixa diante de todos. O clima era triste, mas lá no fundo sabíamos que tudo valera a pena.

O Olimpo se preparava para uma festa. Zöe conversava com sua senhora quando entrei no salão. Pedi licença e chamei Ártemis de lado.

- Minha cara, gostaria de pedir um favor. – Ela assentiu e ouviu pacientemente. – Seria muito pedir uma constelação em homenagem aos mortos desta batalha?

- Ah, minha cara deusa. – Ela riu carinhosamente. – Não seria um favor. Seria um prazer. Irei formá-la durante a festa, para ser uma cerimônia de honra.

Agradeci e corri para meu quarto. No caminho vi Hades na sacada do corredor que dava para o jardim interno do Olimpo.

- Tio? – Sorri e me aproximei. – Tudo bem?

- Ah, querida. Sim, está sim. – Ele sorriu fracamente e começou a me olhar. – As almas. Está pensando nelas?

- Sim, tio. Estou. – Olhei piedosamente e coloquei minha mão em seu ombro. – Seria muito pedir que alguns deles, os que sempre foram bons, ficassem no Campo de Asfódelos? E aqueles que Minos julgar impuros terem um trabalho menos pesado no Campo de Elísios?

Ele se restringiu a fitar meus cabelos e acariciá-los. – Tão pura. Tão boa. – Seu sorriso foi sincero. – Farei isso. Não seria de nada me pedir isso.

Me despedi com um agradecimento e um sorriso. Fui até meu quarto, que era a uns dois metros de distância da onde estava. Quando entrei no quarto Phoenix não estava lá, tampouco Apollo. Ouvi um barulho de água vindo do banheiro, e por um segundo não pensei que fosse meu marido. Mas esse segundo foi o suficiente para me deixar abrir a porta e vê-lo de pé, tomando banho.

- Pelos deuses! – Ele me olhou, corado, e riu.

- AH! Desculpe-me, querido! – Sorri envergonhada. – Nem pensei que... Bom, quando você terminar eu entro para tomar banho.

- Vem. – Ele sorriu e estendeu sua mão. – Toma agora.

Sorri, vermelha como um pimentão, mas segurei sua mão e entrei. Acho que foi o banho mais longo e feliz que já tive.

A Estrela do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora