Capítulo Dois - "Caio em cima de um semideus"

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Cookies, hmm, não. Talvez biscoito de chocolate e uma pitada de, hmm, muito açúcar. Eu passara os últimos 10 minutos ruminando o sabor do líquido que inconscientemente eu tomava. Resolvi deixar a incógnita doce de lado e começar a forçar minhas seladas pálpebras a abrirem.

Era dia. Uma sensação de tarde morna e sem muitas nuvens no céu. Foquei primeiro em um teto feito de vigas de madeira escura. A claridade passava por grandes janelas espalhadas pelo amplo cômodo, por entre cortinas de tecidos finos. Diversas camas e moços e moças com roupas de guerra adaptadas. Ao meu lado, uma mulher loira, com o rosto semelhante ao de uma ninfa, segurava uma taça dourada com um canudinho laranja e branco.

- Obrigado, Jenna. – disse a ela uma voz grave e quase rouca. – Pode retornar à suas atividades.

Um homem extremamente alto e robusto se aproximou, sorrindo, com suas mãos apoiadas na cintura. Cabelos longos e cacheados com uma barba igualmente castanha. Usava um colete azul claro, com uma camiseta branca por baixo. Um relógio preto e calças brancas. Calças? Não, definitivamente não eram calças. Onde deveria estar sua cintura, começava um enorme traseiro de cavalo. Um centauro. Certeza absoluta.

- Olá minha jovem. – Ele sorriu. – Sou Quíron, o coordenador e treinador das atividades aqui no Acampamento Meio-Sangue. Seu pai ou mãe ainda não a reclamou...

- Hmm, olá. – Sorri nervosamente. – Acampamento Meio-Sangue? Um minuto. Onde estamos? O senhor é um centauro? Eu... Sou... Uma MEIO-SANGUE?

Ele riu carinhosamente e repousou sua mão em minha cabeça. Olhando para cima, começou:

- Deixe me ver, - ele voltou seus carinhosos olhos para mim que pareciam sorrir junto de seus lábios. – Long Island, Nova York. Sim, eu sou. E sim, você é. E devo dizer que é muito poderosa. Sinto em sua aura.

Olhei para ele com ternura e perguntei:

- Néctar? Aquilo que eu tomava era Néctar?

Ele estreitou os olhos e por um instante fingiu estar transtornado.

- Garota esperta. – E caiu em uma gargalhada de veludo. – Gosta de mitologia?

- O que eu sei é superficial, mas na verdade eu adoro.

- Ótimo. Não se preocupe, irei te ensinar muito mais do que qualquer intelecto mortal sabe. – Levemente inclinou seu corpo para trás e se despediu. – Até o jantar. – Ele olhou para um homem alto e loiro, com olhos por todo o corpo chamado Argos (segurança do acampamento) – Logo, logo Phoenix virá para começar seu "tour" pelo acampamento. Argos, vamos?

O homem olhou para mim e assentiu com a cabeça. Estava sozinha na última cama, tentando espiar pela janela. Suspiros irromperam no ar e olhos ciumentos e masculinos se reviraram enquanto um belo rapaz – belíssimo na verdade – de porte atlético, levemente bronzeado, alto e forte, de olhos azuis esverdeados e cabelos loiros quase areia entrava. Seu sorriso era de cegar e seu aroma era de dia ensolarado com um misto de colônia masculina.

- Olá! – parado ao meu lado, o jovem sorria e me olhava empolgado. – Sou Phoenix, um dos filhos de Apollo.

- Oi! – disse de forma tão espontaneamente sorridente (no início achei que parecia forçado, mas eu sabia que não era). – Sou Helena, filha de algum deus que ainda não me reclamou.

Ele riu, me olhou de forma diferente e depois de despertar de alguma espécie de transe, estendeu sua mão para que eu me levantasse.

- Vou lhe mostrar o acampamento. Já esteve em algum antes?

Tentei responder enquanto me apoiava em sua mão e me equilibrava sobre meus pés.

- Não. Sempre tive vontade de estar em um... – Mesmo arrancando um pedaço do colchão e deixando a mão do semideus branca, cai desastrosamente sobre ele, que me segurou pelas axilas e sussurrou no meu ouvido. – Acho que te deram Néctar demais.

Dei risada e olhei para ele, que sorria tentando se conter. Phoenix me levantou e posicionou uma mão sob a minha e repousou a outra em minha cintura. Avançamos pela enfermaria. A todos que me olhavam, sorria de volta. Paramos na escada que levava – da lateral ao centro- ao acampamento.

- Bem-vinda ao lar. – Seu rosto iluminado pelo Sol se voltou para mim e esperou minha reação. Acho que consegui balbuciar um falho "Uau", mas deve ter soado mais como um gemido.

- Phoenix, eu vou morar aqui? – Disse isso e mal esperei sua resposta. Soltei-me de sua mão e me apoiei no alambrado para caminhar até a extremidade da varanda. Quando sua mão soltou, receosamente, minha cintura, percebi o tanto de calor que Phoenix exalava – óbvio, ele era filho do deus do Sol. – Isso é... Isso é... INCRÍVEL.

Disse isso com as mãos para cima e sorrindo, parecendo uma criancinha. Girei meu tronco e vi que Phoenix me olhava de modo sonhador. Tenho certeza de que corei, embora nunca corasse.

Phoenix me mostrou cada parte do acampamento, até mesmo o que estava fora de seu roteiro. Por fim, chegamos perto do escurecer, ao U inverso com 12 chalés cada qual com sua característica.

- Por enquanto o seu chalé é o de Hermes, onde todos os que chegam, ficam. – Ele me conduziu até a porta. Bateu suavemente e esperou que a mesma se abrisse. Ouvi passos e murmúrios como se estivessem se arrumando para que eu entrasse.

- Bem-vinda! – Um rapaz, talvez da minha idade, abriu de supetão a porta. Tinha cabelos cor de areia e olhos com ar de quem tinha muito para contar. Era alto com um porte atlético não muito trabalhado e uma cicatriz branca e extensa cortava-lhe a face, se enrugando quando sorria. – Sou Luke, um dos filhos de Hermes. A propósito, ele me pediu para dizer-lhe que sente muito pelo que houve. Quando o colocaram naquela missão, ele não sabia como cumpri-la e se desesperou um pouco. 

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