Capítulo 12 - "Uma péssima boas-vindas"

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Tive a sensação de que o dia seria um tanto quanto diferente, não fosse pelo café da manhã e as aulas de arco e flecha, tudo indicava isso. Logo após o almoço, Quíron trotou até mim com uma expressão preocupada. Trazia em suas mãos uma túnica grega com um cinto de couro marrom e uma corda que pendia de um enfeite dourado no ombro.

- Pronta para começar seu treino efetivo? – Ele sorriu e estendeu o traje grego que realmente parecia antigo. – O Olimpo a espera.

Me vesti no banheiro do acampamento, com todos me olhando ao sair da cabine. Silena deu uma piscadela e parou ao me lado enquanto eu arrumava meu cabelo.

- Festa à fantasia? – Sorriu ela.

- Acho que está mais para interrogatório no Olimpo. – Demos risada até que eu me toquei que fazer os deuses esperarem não seria uma boa ideia. – Você poderia colocar minhas roupas em meu chalé?

- Claro. Ah, Quíron me pediu que lhe entregasse estas sandálias e que quando estiver pronta, tome isto. Irá para o Olimpo em um só gole.

Quíron tinha razão. Logo me vi em uma sala dourada. Com tronos em um U inverso. Um clarão e quase todos os deuses apareceram diante de mim. Hades não se encontrava em seu trono. Cada um deles tinha um trono personalizado e quase seis metros de altura! Os reverenciei e dei um passo à frente. Meu pai ergueu a mão e fiquei do tamanho de uma deusa adolescente gigante. Devia ter uns cinco metros e pouquinho, pois eu ainda estava menor que eles.

- Seja bem-vinda ao lar, cara deusa. – Disse Hera, apoiada no trono de meu pai. Ela não tinha um trono, por tanto ficava ao lado dele, de pé. – Todos irão trata-la como da família logo depois de sairmos desta reunião.

Sorri e assenti. O lugar era igual ao que eu havia sonhado.

- Helena, estás aqui pois iremos concedê-la uma missão. – Disse-me Ártemis. – Terás de lutar contra as forças de seu tio. Lutarás ao lado de um corrompido e recusará as tentações de seu avô.

Sabia que Ártemis se referia aos meus "inimigos" nesta missão como pessoas próximas para me intimar. Meu tio? Hades. Meu avô? Infelizmente, Cronos. Um corrompido? Este eu não sabia.

- Será quase que uma espiã do Olimpo. – Ares dizia isso como uma metralhadora que cuspia malignas cápsulas de pólvora. – Durante vinte dias, você ficará todas as noites no Mundo Inferior.

- Posso ter a palavra? – Perguntei, erguendo a mão receosamente.

- Prossiga. Essa doeu. Meu pai havia sido frio o bastante para que uma pontinha de tristeza tocasse meu pobre coração acelerado.

- Devo ir ao Mundo Inferior para descobrir uma suposta colaboração entre o senhor dos mortos e o senhor dos titãs com seu meio-sangue?

- Não é uma "suposta" colaboração. É uma colaboração. – Cortou-me Athena. Isso era pior que uma bronca de mãe. Ela me encarava com raiva e se dirigia a mim com palavras ásperas. – E não mencionamos que o corrompido era um meio-sangue.

Assenti com a cabeça e me calei. Percebi que Zeus arfava toda vez que eu abria a boca. Resolveu então se levantar e falar comigo.

- Você tem de aceitar a missão. Leve cada um de nossos presentes. Um a cada noite. Salve o corrompido e acabe com a colaboração de Hades e... O titã. – Ele ponderou a última palavra.

Ergui a mão novamente e percebi que minha mãe se agitou. Ignorei. Zeus me deu a palavra e aguardou enquanto eu ponderava minha fala. – Senhor, qual seria a vantagem de Hades em ajudar o titã? Os senhores o destruíram para que ele não voltasse a reinar. Vale lembrar que a mais fácil entrada do Tártaro é na gruta localizada no Mundo Inferior. O caixão dele fora jogado nas profundezas do Tártaro. Talvez meu tio tenha um infiltrado que queria retirar o titã das profundezas; fazendo com que pensem ser culpa de Hades.

Um silêncio. Talvez tivesse acertado em cheio ou havia declarado minha sentença de morte: contrariar os deuses.

- Ela pode estar certa. – A voz de meu tio Poseidon era suave porém rouca, e havia um leve carinho quando falava. – Não seria uma má estratégia a do infiltrado. E nosso irmão lutara pelo mesmo propósito que nós: tirar nosso pai do trono. O dever dela será o de resgatar o infiltrado, esconder sua identidade de Hades e não despertar o titã.

- Todos de acordo? – Perguntou Hermes.

Todos assentiram e voltaram ao tamanho de humanos. Estava novamente como uma garota normal, e sem saber o que fazer. Cada deus tomou seu caminho deixando-me só. Hera me cumprimentou e levou-me até o salão em que todos eles conversavam e bebiam. Conversei com Afrodite, Hefesto e Dioniso – sim, ele estava lá. Hermes conversou por provavelmente uma hora. Temos algumas coisas em comum. Ares acabou virando um bom amigo, o que achei que nunca aconteceria. Passei mais uma hora conversando com Ártemis, quem se tornou uma grande amiga. Apollo deve ter se esquecido de que os outros deuses queriam falar comigo, pois Poseidon teve que chamá-lo para sair de lá (acho que posso dizer que sou muito próxima de um primo, né Apollo?). Poseidon se aproximou um pouco e estancou seus pés no chão. Ele me encarou de cima a baixo. Voltou seus olhos belos e profundos para minha face e sorriu. Um sorriso terno, brilhante e orgulhoso, não de si mesmo, mas de mim.

- Olá, Helena. Devo admitir que será uma excelente deusa. Ainda bem que não puxou o gênio de seu pai ou de sua mãe. Bela mistura.

- Olá, hãn... – Sorria freneticamente, mas logo franzi o cenho, pois não sabia do que chamá-lo.

- Tio, talvez? – Ele riu.

- Certo! – Sorria e o acompanhava na risada. – Obrigada, tio. Devo agradecê-lo pelos presentes e por confiar em mim. Fico lisonjeada em ter sua benção.

- Ah, minha querida. Não precisa me agradecer. Você é uma deusa, por dentro e por fora, e não estou falando apenas de seus poderes. Quem me dera fazer o mesmo com meu filho Per... – Ele fora interrompido por uma voz feminina que parecia possessa.

- Poseidon, afaste-se dela. Espero que você e seu filho só a vejam quando necessário. – Era minha mãe. Ela parou bem ao meu lado e lá ficou a fitar meu tio. Brigas de família.

- Vejo-a mais tarde então. – Piscou para mim e se afastou.

- Filha, bela e sábia. Tenho orgulho de ti. Mas isso não a torna mais especial. Assim que Zeus falar com você, volte para o acampamento e treine. Logo irá ao Mundo Inferior.

Athena se virou e pisou duro até chegar a Hermes. Não esperava um "Te amo", mas ao menos um "Oi, filha". Um sorriso, talvez?

- Helena? – Zeus. Esperava que nossa conversa fosse mais agradável desta vez. – Creio que o peso da responsabilidade seja difícil de segurar, não?

Respirei fundo e senti uma faísca saindo de minha mão. – Quando a missão foi entregue a mim, sim. Agora não mais, senhor. Farei com que ela se cumpra.

Zeus deu um riso de desprezo e foi se afastando. Tive a impressão de que eu não era bem-vinda perante meus pais.

- Vamos. – Dioniso segurava duas taças com um líquido brilhante dentro. – Beba e pense em um lugar do acampamento que você queira ir.

Levei a taça aos lábios e pensei: "Sei com quem falar". 

A Estrela do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora