Capítulo 15 - "Desafio os deuses"

28 2 0
                                    


Passei dez dias seguidos no Mundo Inferior. O senhor dos mortos me adorava pois era "má" e poderosa. Tinha de fazer o papel de raivosa. Sempre que ele estava entediando, me pedia para torturar com meu chicote – que viera junto com o elmo - as pobres almas penadas. Fazia isso de forma que os olhos de Hades acreditassem na encenação. Luke estava lá todas as noites. No décimo primeiro dia uma sensação estranha percorreu por minha espinha. Próximo à hora do jantar, meu tio e Perséfone foram até as grandes janelas do salão, acompanhados de mim e Luke. Meu sonho se concretizou, infelizmente. Luke, depois de colocar Hades e sua amada no chão, se posicionou contra mim. Lutamos e detonamos o grande salão. Fomos parar na gruta que levava ao Tártaro. O caixão dourado e entalhado de Cronos chacoalhava e repousava entre as pedras cinzentas. Eu sangrava e sentia minha visão debilitada. Luke mancava e temia que seus múltiplos cortes se abrissem mais. O colar. Luke usava um colar com uma corda preta prendendo uma pedra vinho, mais escura que a de meu colar de Hécate. O acessório emanava uma aura negativa, maligna eu diria. Estava determinada em cortar o cordão agora banhado com o sangue do garoto. Cronos invadia minha mente e tentava me atordoar. "Chega!" gritei em minha cabeça. Levei a mão à cabeça e o elmo de Hades surgiu. Luke caiu de joelhos, gemendo de dor e raiva. Lembrei que o item atordoava mortais deixando-os com raiva, medo, dor e tristeza; além de me deixar invisível toda vez que esgueirasse pelas sombras. Avancei até ele e cortei seu colar. Ele desmaiou. O acessório caiu em meus pés enquanto a pedra perdia o brilho e o cordão se desmanchava em cinzas. Segurei o colar e uma ideia surgiu: vou levá-lo até Quíron. Olhei para o caixão dourado e não pensei duas vezes: juntei todas as minhas forças e o empurrei de volta para o Tártaro.

Coloquei a espada que havia pegado no salão de Hades de volta e percebi que ele me olhava confuso.

- Senhor, receio que seja bom colocar um cão infernal na gruta do Tártaro. O senhor titã teima em se erguer. – Sorri para Perséfone e fui embora com Luke deitado em meus braços. O colar estava dentro de um potinho que eu pegara na mesa de jantar de meu tio. Apertei o relógio de Hermes e apareci na sala de estar da Casa Grande.

- E então? – Disse o Sr.D sem levantar os olhos de sua revista de vinhos.

- Acho melhor conversarmos na enfermaria. Chame Quíron, por favor. – Acho que finalmente consegui a atenção do Sr.D.

Repousamos Luke em uma maca próxima à entrada. Ele me parecia melhor.

- Quíron, - coloquei a mão em meu bolso e tirei o potinho com o colar dentro. – Luke usava esse colar. Tenho certeza de que era mágico. Achei melhor te entregar.

- Fez bem. – Ele sorriu e pegou-o receosamente. – Este colar foi dado a ele quando se juntou com Cronos. O titã precisava que Luke tivesse mais ódio, além daquele que ele alimenta por seu pai. Ele sempre terá bondade em si.

- Helena, vá até os deuses e lhes conte tudo. – O Sr.D estalou os dedos e fui parar no centro do todos eles. Estava no Olimpo, sangrando até não poder mais, com o elmo de Hades em minha cabeça e o traje preto de guerra. Com certeza parecia uma integrante do exército do Mundo Inferior.

- Senhores. – Cumprimentei e me ajoelhei. Não me sentia feliz em vê-los. Iria mostrar a eles a pessoa madura que eu sou. Eles teriam de me engolir. – Minha missão de vinte dias está cumprida.

- Queremos detalhes, senhorita. – Zeus me olhava enojado, assim como os outros. Poseidon tentava lançar um olhar de compaixão. Ares sorria e balançava a cabeça em afirmativa.

- O senhor Hades não estava relacionado com a volta do titã. Cronos usara um meio-sangue aborrecido com seu pai para ser seu escravo. O garoto usava um colar que o deixava irado. O senhor dos titãs fora lançado com seu caixão para as profundezas do Tártaro, mas despertara uma filha poderosa. Receio que seja Thalia. – Zeus engoliu seco e teimou em se levantar. – Tenho de prosseguir, senhor. Aviso-lhes que ele voltará a recrutar jovens e monstros, mas Hades guardará a gruta muito bem. O garoto usado agora descansa no Acampamento Meio-Sangue. Tenham um bom dia. – Andei de costas, me reverenciei e sai sem deixar de pisar duro. Não sabia se estava encrencada, mas tinha certeza de que tinha mostrado o quão capaz eu sou de realizar uma missão. E claro, que não seria uma deusa bobinha. 

A Estrela do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora