Sessenta E Dois (ÚLTIMO)

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NINA

As horas se passaram rápido em meu sono profundo, e logo se tornaram dias. Acordei a duas semanas um pouco sem esperança, meu mundo virou cinzas outra vez. Não importa que a gente tenha ganhado a guerra e matado cada ser infeliz que estava usando os anjos.

Não me importo com as voltas às aulas e nem com meus pais me tratando bem finalmente, como se algo tivesse quebrado a maldição, não me importo tanto com meu anjo sumido a semanas, penso que não mais retornará para mim, tudo o que consigo pensar e me importar é com o corpo de Luke caído no chão, coberto de seu sangue que tão pouco durou até começar a sumir.

Como uma vez por dia e bebo um litro d'água, somente para não passar fome realmente, pois sei que isso é a última coisa que ele iria querer que acontecesse comigo. Meus pais estão tão arrependidos e deprimidos pela forma como sempre me trataram, que é como se fossem agora outras pessoas. Eles tentam de bom grado me animar e me fazer feliz com eles de algum jeito, quando a maldição acabou parece que alguém acertou eles com um tijolo escrito "cuida bem da Nina agora". Talvez realmente tenha sido.

Pensam que o meu mal humor é por causa de algum tipo de rancor, pensam que estou tão magoada com eles que isso se tornou a minha vida, mas nem imaginam que na verdade eu tive Luke novamente, já que para eles ele sempre esteve morto, e o perdi da pior forma possível. Eles não sabem o que sou e nem têm ideia do que fiz nos últimos meses, isso me faz me afundar ainda mais no isolamento.

Tentando reparar tantos erros cometidos, me tiraram do colégio interno, me deixando assim terminar o Ensino Médio em um colégio comum, por sinal um diferente do de antes. Pensar em voltar para o lugar onde também tenho tantas lembranças de meu irmão arranca um pedaço do meu coração, sendo assim, quase pedi para voltar ao internato quando me avisaram que voltaria para casa.

Eu choro sempre que estou sozinha, tentando esconder ao máximo deles às lágrimas que me vêm a face, pois tenho medo de pensarem ser por eles de alguma forma. Emagreci dez quilos desde que meu irmão fora morto, meu cabelo não têm brilho e meu rosto não têm cor, a falta de todos aqueles que considerei amigos também me assombra.

Depois daquele dia acordei em um hospital, meus pais pensam que fugi de casa e acabei em um acidente de transito, isso também supostamente explica as cicatrizes enormes que cortam meu rosto e pescoço, já cicatrizadas, são um lembrete constante de tudo o que vivi nós últimos meses. Não poderia contar a verdade a meus pais sem que pensem que sou louca, estou tão cheia de dores emocionais que praticamente me considero assim.

Cheguei a ir em um psiquiatra certa vez, quando meus pais pediram. Pedi que me medicasse, que me desse um remédio para dormir melhor, talvez assim eu conseguisse passar melhor o meu tempo, dormindo, mas ele se recusou antes que eu visse um psicólogo e como jamais poderia conversar sinceramente com alguém, resolvi deixar o assunto para lá, abandonando assim a minha maior chance de um sono mais tranquilo, já que os pesadelos daquele dia me assombram sempre que fecho os olhos. Por outro lado é uma forma de eu rever meu irmão.

Sinto falta não só de meu irmão, sinto falta de Jav, Jonas, de todos os que estiveram em minha companhia nos últimos meses, mas jamais como a de meu anjo. Não tive mais notícias suas, penso que talvez possa entrar em contato comigo novamente no futuro, morreria mais um pedaço meu se ele não mais pudesse me ver, mas as minhas esperanças já estão no fim, não me sinto nem o bastante para pensar positivo.

- Nina? Querida, tem alguém aqui para te ver - a voz de minha mãe adquiriu um tom tão doce e meigo comigo, é como se temesse que eu quebrasse somente falando comigo, e por mais que eu saiba que agora está tudo mudado, também choro a perca dos últimos dezessete anos que perdi de amor, carinho e apoio de meus pais.

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