Capítulo Três

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Faz dois dias que Luke morreu, hoje vai ser o seu enterro. Fiquei ao seu lado o tempo que pude, ou melhor, o tempo que meus pais permitiram. Eles não falaram uma sequer palavra comigo desde o acontecido, passei o tempo que pude com... o corpo de Luke, mas ele não podia ficar aqui muito tempo.

Naquele dia não dormi e nem comi, na verdade, não como desde esse dia, desde o nosso último lanche juntos, não sinto fome, e quando sinto o cheiro da comida sinto vontade de vomitar. Não me ocorre fazer uma coisa tão tola quanto me alimentar quando ele não está mais aqui comigo. Sinto que tenho que o esperar as vezes.

Desde que levaram Luke dessa casa só o que faço é ficar no meu quarto, chorando e relembrando momentos. Agora que ele se foi parece que meus pais me odeiam mais ainda, parece que eles me odeiam mais do que antes. Me sinto sufocada, é como a estivesse em uma bolha no fim do mar, essa bolha tá se apertando cada vez mais, me sufocando, e quando ela estourar eu de nada serei.

Entro de férias hoje, mas não fui para a escola desde que Luke... Eu não vivo desde que Luke morreu. Não tenho mais motivo, não tenho quem me apóie. Não consigo me apoiar sozinha, não consigo lutar contra todos esses sentimentos.

Nessa hora é de se imaginar que meus pais vão maneirar comigo, mas eles só pioraram, nem falam comigo, me ignoram totalmente. Como se eu não existisse. Sou pior que lixo para eles, sinto que só incomodo.

- Calma...

Escuto meu pai tentando acalmar a minha mãe, ela está pior do que ele. Não me intrometo, só espero eles saírem para tentar ir na cozinha nem que seja para beber água, não sinto fome, mas vou tentar comer alguma coisa, já que não comi dês de ontem quando... Tem algumas horas que levaram Luke e desde então não sinto nada, nada além do vazio que de tão grande, parece que ocupa todo o meu ser, não tenho espaço para mais nada a não ser a tristeza.

- Eu não tenho mais filho! Não tenho ninguém! - isso realmente me partiu o coração, ela não me considera como ninguém. Penso que meu pai pela primeira vez vá me defender quando ele diz:

- Você tem a mim! E vamos passar por isso juntos! - eles saem da cozinha e entro chorando muito. Me sento num canto no chão duro e frio.

Foi nesse dia que tentei comer alguma coisa, mas botei tudo para fora depois. Não senti vontade e nem tentei comer depois disso. Nem fome, nem sede, nem sono, nem nada. Não sinto nada.

Me levanto da banheira - para qual estava a tanto tempo que minha pele tá enrrugada - vou me vestir, pego a primeira roupa que vejo. Me visto toda de preto, tal como estou agora, só um vazio de nada, sem luz, sem vida por dentro. Por que quando Luke se foi, ele levou tudo o que eu tinha. Fiquei no vazio, no escuro, sozinha. Como se essa cor me representasse agora.

- Meus pêsames, Luke não merecia... - escuto a voz chorosa de um amigo de Luke falar do andar de baixo, provavelmente com meu pai ou minha mãe.

Paro e tento me concentrar em não chorar de novo, mas minhas lágrimas já estão mais do que meus olhos podem aguentar. Vou para o meu banheiro e lavo meu rosto tentando não chorar ainda mais.

+ + +

Assim que me acalmo, saio do meu quarto e caminho para fora, mas ao ver o quarto de Luke em frente ao meu, não consigo me conter, vou até lá e entro, a cada passo uma lágrima, a cada passo uma memória, a cada passo tudo fica ainda mais insuportável.

Vou até a sua cama e a vejo vazia. Ainda com a marca de quando estava deitado aqui. Vou até o seu armário e fico olhando as suas peças de roupas, acessórios, tudo o que era seu. Memórias me vêem e eu não as proíbo de invadir minha mente. Choro baixo.  Não percebo quando meus passos me levam até o banheiro que tinha porta para seu quarto, me deixando aos prantos em frente ao espelho. Me sinto patética, mais patética ainda por me sentir assim.

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