Trinta E Três

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Minhas pernas parecem bambas demais para ter qualquer reação a reportagem que se passa a minha frente, sinto em mim a dor daquelas mulheres, e imagino se as mataram primeiro ou somente atearam fogo nelas. 

Luke vê meu desconforto, o que não se é admirável, já que qualquer ser com olhos poderia notar que algo me atormenta. Ed, Harry, Nick... Eles não são como eu imaginava que era, eles não são tão bons assim. A verdade é que não existe branco e preto, o que existe é uma imensidão de cores, uma mais forte e complicada que a anterior. A verdade é que até os seres mais, supostamente, bons de todos, também carregam a maldade em seus corações de pluma. 

Meu irmão olha em meus olhos assustado, seus olhos parecem estar cheios de tristeza assim como os meus. Aperto os dentes contra a parte interna da bochecha para não derramar uma lágrima. Não quero chorar mais, estou cansada disso. Mas as imagens continuam a se repetir na TV, e um soluço audível escapa de meus lábios ao perceber que negue o quanto quiser, eu estou no meio de uma guerra. Uma guerra angelical que dura centenas de anos, e que não se tem ideia alguma de quando o seu fim poderá chegar. 

Meus olhos se enchem de lágrimas quando me lembro de meu mundo antigo, por mais que fosse sempre cruel comigo e que a única pessoa a quem estivesse do meu lado tenha sido meu irmão, meu doce e adorável irmão, minha vida mudou de um jeito drástico demais, muito gravemente para poder reparar, meus sonhos, antes tão todos, como conseguir um dia ser lembrada como ser humano para alguém além de Luke, hoje se encontram muito, senão totalmente invertidos. Hoje eu só queria um mundo onde pudesse ficar em paz junto de meu irmão, onde eu não tivesse o conhecimento sobre todas as loucuras que acontecem ao meu redor, sem que eu possa interferir de verdade. Me pergunto se um dia essa guerra chegará ao fim, e qual será o seu vencedor. Eu agora entendo porque Harry custou tanto em me falar quem era, ele parecia ter medo de me por no meio de tudo isso, e hoje eu me pergunto se não teria sido melhor ficar do lado de fora desse campo de batalha. Mas ao mesmo tempo um lado meu grita que não teria como eu ficar de fora, que eu estava dentro mesmo sem saber, afinal, eu sou o que sou.

Meu meigo irmão toca meu braço, não tenho concentração o suficiente para entender o que ele fala comigo, tudo o que posso pensar é em como ele é bom, e no que esses anjos e demônios vão fazer com ele, e com a sua bondade. Meu irmão é bom demais para tudo isso, o imagino tendo que matar alguém, uma inocente, para assim cumprir com alguma missão divina louca. Não quero isso para ele, eu quero meu irmão de volta. Não o meu irmão anjo que não sabe me falar onde tem passado o tempo, e sim o meu irmão humano, que sempre me apoiou em tudo e sempre estava do meu lado, sem sequer passar um dia sem cuidar de mim. 

Sinto seu toque novamente no meu braço e olho em volta por um segundo, segundo que mais parece toda a eternidade do mundo. Os poucos alunos que se encontravam no refeitório antes agora se multiplicaram por cinco, e a pequena multidão parece completamente descontrolada. As pessoas não estão notando a reportagem ou a mim exatamente, elas estão gritando, não como adolescentes normais. Estão mais agressivas do que alguma vez na vida já vi alguém. 

Brigas rolam soltas, cadeiras saem voando por todo o refeitório e não tem exatamente ninguém que não esteja parecendo andar com um demônio no corpo. Vejo uma menina bater a cara de outra contra a parede, e no meio de tudo isso os gritos de ódio, suas vozes parecem estar transformadas de tanta raiva. Me assusto com a cena ao meu redor, nunca vi adolescentes tão raivosos a vida toda, e para mim, alguém condenada a ser odiada por todos, isso é muita coisa.

- Se acalma Nina! - meu irmão grita comigo, me deixando completamente confusa, em meio a tantas pessoas aparentemente loucas de raiva, eu sou a aparentemente mais calma. 

A mentira se repete em meu peito, me fazendo quase acreditar que meu coração não está quase saindo pela boca de raiva, raiva por terem mentido para mim sobre o que iam fazer. Harry mentiu para mim. A cada batida do meu coração escuto gritos de ódio e discursos cada vez mais pesados ecoam pelo ambiente, as pessoas quem deveriam acalmar toda essa bagunça, parece pior do que todos, só quem não está estressado é meu irmão. 

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