Vinte E Sete

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HELLEN

Aparo Kashy em meus braços quando Jav a joga em minha direção, a menina assustada me olha e tenta entender o que está acontecendo. Seus olhos estão inchados e a maquiagem borrada, seus braços estão com alguns roxos e nem quero imaginar como deve está o resto de seu corpo. Quando Michael a empurrou para fora do lugar aonde estavam, ela estava praticamente desmaiada. Algumas horas atrás me jogaram aqui, em um quarto escuro e abafado, frio e fedorento. Só tem uma porta, que além de está sempre trancada, é quase totalmente fechada, de forma que pouco ar entra.

- Você está bem? - pergunto sem saber o que dizer me amaldiçoando logo em seguida, foi a mesma coisa que me perguntaram no velório de Lucy, a mesma pergunta idiota que me fez surtar e passar os últimos quatro anos em um lugar para doidos. Ela olha nos meus olhos e me reconhece, mas sua expressão não se torna fúria ou raiva, ela simplesmente fala um "por favor, me ajude" bem baixinho.

Seu corpo está coberto apenas por um pano cinza, que parece tão frágil que quanto o toco, sinto que vai se desfazer. Rasgo um pedaço do pano, fazendo um cinto para ela, o amarrando em sua cintura, de forma que o pano não fique tão folgado sob ela, ou fique abrindo para amostrar seu corpo. Amarro duas pontas dele por cima de seu pescoço, exatamente como eu fazia com minhas bonecas na infância. Não é o ideal, está muito frio, mas é o melhor que posso fazer para deixa-la confortável. E agora, sozinha com ela, tudo o que me resta é esperar que alguém apareça para acabar com tudo. Estou começando a me sentir sem esperanças.

Isso me lembra muito o que aconteceu com Lucy.

+ + +

- Vocês não podem me deixar morrer de fome. Vocês precisam de mim forte.

Falo com a voz enraivecida quando Jav vira as costas para ir embora, pelo que parece ele só veio ver se ainda estava viva. Ou se Kashy estava. Talvez o plano dele tenha mudado e ele tenha decidido nos deixar definhar aqui.

- Você é esperta. Mas está sem poderes, não pode fugir daqui, mesmo bem alimentada. - ele avisa com um sorriso leve no rosto. Seus olhos encontram o corpo de Kashy, que descansa calmamente ao meu lado. Não posso fazer nada.

E eu sei que não posso fugir. Não sem ajuda, mas sei que essa ajuda vai chegar, sinto isso agora, e vou levar Zele comigo. Acho que ele não sabe que uma bruxa grávida pode ser tão poderosa e instável assim.

Algumas horas depois alguém deixa uma garrafa plástica com água e uma sacola com comida. Sei que não devia comer nada do que eles me oferecem, mas estou a quase dois dias aqui, sem comer nada, e não resisto. Jav mandou uma grande quantidade de pães, abro um e percebo que está cheio de geleia. Abro os outros só para confirmar que todos estão assim. Alguns parecem estar com chocolate.

- Zele está com desejos, e pensei, seria bom agradar as gestantes daqui. - a voz de Jav surge do nada, seus olhos estão divertidos e vejo a ponta de um sorriso em seus lábios. Ele se aproxima e acaricia o rosto de Kashy, passa as mãos em seu cabelo e depois a leva até a barriga da mesma. - Se bem que pelo que entendo, acho que ela não têm desejos ainda.

Não consigo processar esta informação.

+ + +

Depois de Kashy comer quase tudo o que estava na sacola, e eu beber metade da água, com uma enorme falta de apetite, ouço pancadas fortes, é como se portas de ferro estivessem sendo arrancadas aos murros, o barulho é alto demais e me incomoda. Mas não tenho o que fazer.

- Eu sinto tanto por ela... - Zele fala quando entra, trancando a porta rapidamente, e eu acredito. Ela passou, e está passando, pela mesma situação.

- E por que não diz isso a ela?

- Oh querida, ela não pode me ouvir. Ela pensa que está em seu quarto, dormindo tranquilamente.

Não falo nada depois que ouço as suas palavras, aperto meus olhos e tento não criar muitas esperanças com o barulho. Talvez alguém tenha vindo. Talvez seja Ed.

- Zele, você é forte... Poderia lutar contra eles.

- Não poderia, não sem estragar tudo.

Pergunto a ela à que está se referindo, mas a mesma simplesmente me olha e vejo em seu olha que ela não pode me dizer.

Ouço um barulho mais alto e me levanto bruscamente.

- Devolva minha magia Zele. E eu tiro a gente daqui.

Ela não diz nada. Zele tem medo. Muito medo, vejo isso em seus olhos.

- Eu não roubei a sua magia. Ela têm que está com a bruxa a ser sacrificada. Hellen, você acha que Jev pos um meio demônio no meu ventre só para se divertir comigo?

Estou confusa, muito confusa. Mas quando a ouço a única coisa que faço é respira fundo, penso na primeira vez que usei minha verdadeira força. Nos sonhos com Lucy. Talvez eu tenha esperança.

Corro até a única entrada e prendo a minha mão em uma pequena fatia de alumínio que se soltou da porta velha. Luto um pouco até que eu consiga o retirar da porta o suficiente para usar. Minha mão sangra mas isso não me importa.

Zele parece não entender nada. Ela fica parada imóvel, sem saber o que estou fazendo. Mas quando passo o objeto no pescoço e começo a sangrar, minha visão fica turva e vejo Zele correr até mim. Apago.

+++

Abro os olhos lentamente e logo vejo os olhos dela sobre os meus. Zele está assustada, talvez ela tenha entendido o que tramei. Talvez não. Mas funcionou.

Zele usou magia para me curar, e com o contato com a sua magia, consegui acessar a minha. Estou forte de novo. Olho para ela com convicção no olhar, sei que ela tem medo, mas eu não, eu não vou morrer sem lutar.

- Está na hora de sair daqui.

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